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Andando pela rua estreita, encontrei um gato perdido, ele tem uma coleira e é mansinho, consegui pegá-lo e tirar a coleira.
Vejamos, tem um endereço. É aqui perto.
Vou andando até chegar na rua, dobro a direita, entrando nela e procuro o número.
Aqui, bato na porta, não tem campainha.
O gato preto e felpudo se esfrega em mim e mia, indicando a porta com o focinho.
Empurro a porta e vejo tudo muito escuro, entro e de repente a porta fecha. O gato pula do meu colo e se esfrega em minhas pernas.
Passo as mãos pelas paredes procurando um interruptor. Só vejo sombras.
- Aloô, tem alguém aí? Tô entrandô...
O gato mia e vai em frente, sigo ele e dou de cara em outra porta, acho a maçaneta, abaixo e abro. Vejo uma luz e passo pela soleira.
Ahhhh!!!!!
Mas o que é isso?!
- Seja bem vinda ao meu Reino princesa!
- Quem é você?
- Meu nome é Cristopher, sou o rei deste lugar.
- Mas que reino é esse, onde fica?
- Fica num lugar proibido, onde ninguém pode acessar se não tiver um coração puro.
- E eu tenho um coração puro? Achei que era tão pecadora.
- Você foi testada e aprovada, quando me achou na rua em forma de gato e me trouxe pra casa.
-Então foi você?
- Sim fui eu. Mas venha conhecer meu reino.
Na mesma hora chegou alguns servos com uma capa e uma coroa, me vestiram e puseram a coroa. Um caminho de pétalas de rosas nos direcionava a um imenso castelo.
Andamos até chegar lá e olhando em volta, era tudo muito lindo. Muitas árvores e flores variadas, o perfume de jasmim inundava o ar, que é tão puro e fácil de respirar
A porta do castelo era imensa e foi aberta por dentro por dois criados.
Entramos!
Ele sempre segurando minha mão.
Conforme fomos andando, vários criados se curvavam nos cumprimentando. Passamos por fileiras de portas até chegarmos num enorme salão.
Notei numa das portas uma carinha de criança, era uma menininha, sorriu pra mim.
Seu sorriso era mimoso, sua boquinha vermelha, seu cabelo liso e preto era curto e de franjinha. Parecia uma japonesinha de seis anos. Mas ela sumiu tão rápido, que pensei ser imaginação minha.
Depois de adentrarmos o salão, ele me guiou a uma mesa muito farta, com diversos tipos de comida. Me pôs numa cadeira na ponta da mesa e foi sentar na outra ponta. Devia ter uns cinco metros entre nós. Minhas pernas ficaram escondidas pela enorme toalha que cobria a mesa.
Agora a garotinha apareceu do lado das minhas pernas por baixo da toalha.
- Não olhe pra eu, finja que não tô aqui, vô ajudar você - ela falou enquanto eu olhava pra frente e sorria.
- Você só vai comer o que eu disser.
Não sei porque acreditei nela, fiz sinal de positivo.
- Coma o frango, a ervilha e as cenouras e só. De sobremesa, finja que come os morangos, mas disfarça e dá pra mim.
Assim foi se passando o jantar, quando terminou a menininha falou
- Finja que está sonolenta e quer dormir e quando ele estiver te levando pro quarto, desmaie como se tivesse dormindo. Depois te vejo.
Fiz como ela me disse e senti ele me levando pra um quarto e me pondo na cama.
Depois que ele saiu, a menininha apareceu por traz de uma cortina.
- Venha rápido!
Fui atrás dela e vi que tinha uma passagem secreta, andamos muito e demos muitas voltas até sair num solário.
- Mas porque estamos aqui? Quem é você?
- Eu sou filha do rei.
- Mas porquê então você não me foi apresentada, princesa.
- Meu pai não gosta de crianças, nem de pessoas.
- Mas ele pareceu gostar de mim.
- Só de mentirinha, ele é botânico e gosta mesmo é das plantas dele.
- Por isso tudo aqui é tão lindo!
- Sim, mas preciso que você salve minha mamãe.
- Onde está sua mamãe.
Ela me puxou pela mão e levou até uma pequena árvore de acácia.
- Essa é minha mamãe.
- Como? Sua mãe é uma árvore?
- Meu papai transforma todas as mulheres que encontra, em plantas, mas se apaixonou por mamãe e casou com ela. Quando eu nasci, ele ficou estranho, passou os anos e mamãe me contou o que ele fazia e disse pra eu ficar o tempo todo escondida, porque ele ia fazer a mesma coisa comigo, mas me
escondi e ele fez só com ela.
- Mas como posso ajudar, não sei o que fazer?
- Você só têm que amar a mamãe e abraçar ela cinco vezes. Já vi ele fazer isso quando quer conversar com alguém. Você tem que dizer bem assim:
- Planta divina, divina planta, que minha vida anima e minh'alma encanta, eu te abraço e te dou vida.
- Ok. Vou tentar, mas antes, preciso amar sua mãe.
Olhei para aquela árvore e percebi que parecia tão triste, seus galhos estavam caídos e suas folhas murchas. Olhei em volta e achei um regador com água, molhei ela e me afastei um pouco.
A água parece ter tido efeito, ela foi se aprumando, suas folhas ficaram verdes e de seus galhos surgiram lindos cachos de flores amarelas.
Bati palmas dando pulinhos. Olha como está linda! Senti tanto amor por aquela pequena árvore que a abracei e repeti.
- Planta divina, divina planta, que minha vida anima e minh'alma encanta, eu te abraço e te dou vida.
Fiz isso por cinco vezes e me afastei, olhando pra ela com espectativa.
Uma luz começou a circunda-la e foi colorindo o ambiente ao nosso redor, até que ela foi se contorcendo e virou uma linda jovem, um pouco mais velha que eu que tenho dezoito anos.
Ela me abraçou e agradeceu.
- E agora, o que faremos - pergunto a ela.
- Precisamos acordar mais algumas e depois confronta-lo.
- Temos que confronta-lo?
- Antes dele me transformar, descobri que ele foi encantado por uma bruxa que ele desprezou e que a única forma de trazê-lo a realidade é confronta-lo com a verdade.
- Então tá!
Nós duas fomos abraçando e recitando o encanto e outras jovens acordaram.
- Mas o que está acontecendo aqui - era ele chegando ao solário.
- Olhe para nós rei, veja como somos reais, não somos mais suas árvores ou seu jardim - falou a mãe da menininha.
Ele deu um grito alto estendendo as mãos pro alto e tudo a nossa volta foi se transformando, algumas árvores viraram gente e o rei virou um gato preto lindo e fofinho, com uma coleira.
A mãe da menininha pegou-o no colo e falou:
- Olá Metaniel, sentiu saudades? Você fez um bom trabalho.
Olhei a nossa volta e vi que continuavamos no solário, mas ele estava nos fundos de uma linda casa que eu conhecia, pois sempre passava por ali.
- Mas eu conheço vocês, sempre via você passando de carro para algum lugar. Depois a casa ficou vazia e nunca mais se viu ninguém.
- É verdade, foi uma grande bruxaria, que começou como uma brincadeira de criança, mas você nos salvou. Agora poderemos voltar a nossa vida normal.
- Mas o rei é um gato e a bruxa, quem é?
- O rei é mesmo o meu gato e a bruxa sou eu, que nunca deveria ter brincado com coisa séria. Agora você também já sabe que não se brinca com essas coisas e que seu coração deve permanecer puro.
As pessoas que estavam ali, umas eram funcionários da casa, outros entregadores e algumas amigas.
Me despedi para voltar a minha casa e a garotinha me abraçou agradecida.
- Meu nome é Alice, vem me visitar de vez em quando - convidou.
- Virei com certeza querida - beijei sua testa e saí.
Entrei na casa e saí pela porta da frente, mas antes de fechar a porta, o gato pulou no meio das minhas pernas se esfregando em mim e ronronando. Acho que até ele está agradecido.
Nem todos os gatos são lindos e nem todos os lindos são gatos!