Aparentemente, éramos uma família feliz...
Eu e Raquel nos conhecemos durante o ensino médio, ela era uma garota inteligente,à mais linda de todas do colégio, cobiçada por todos os homens.
Conhecemos quando eu tive um jogo do meu time de colégio contra outra escola muito conhecida e ela entrou para o grupo de líderes de torcida.
Ali eu soube que era amor à primeira vista, um amor que iniciou cedo demais.
Nós éramos muito jovens quando nos casamos, mas ninguém se importava, nem eu queria ligar para isso, afinal, eu era perdidamente apaixonado por ela e ela, mais ainda. Assim começaram nossas vidas, eu tive que terminar o ensino médio e trabalhar para sustentar minha esposa, que estava no início de sua gravidez.
Comprei uma casa na praia quando eu juntei um ano de salário e ali, naquele lindo lugar conseguimos ser felizes por oito anos. Quando estávamos no terceiro aniversário de casamento, recebi a noticia de que iria ser pai de um menino saudável e que iria ser parecido comigo à medida que ele crescia.
Aos cinco anos, já estava começando a jogar futebol numa escolinha.
As coisas começaram a mudar depois que meu filho cresceu, eu comecei a subir de cargo no trabalho e ganhei o cargo de presidência da empresa e lá conheci Jane, minha assistente.
Eu acabei tendo olhos para Jane, deixei os encantos daquela mulher me penetrarem e estávamos juntos há dois anos, caso esse que me fez apaixonar por Jane e esfriar meu amor por Raquel.
Mas eu não deixei de amá-la só por causa da Jane, também deixei de amá-la porque ela, além de trabalhar, cuidava da casa, do nosso filho e quase não nos víamos mais em casa, o que fez nossa relação esfriar mesmo, que chegava a ser quase zero.
Era domingo de noite, estávamos de folga, Raquel estava fazendo um jantar na cozinha, eu estava arrumando a mesa enquanto nosso filho me ajudava.
Assim que eu acabei, eu botei Eduardo na cadeirinha e ele fez cara de feliz batendo as mãozinhas, Raquel entrou na sala de jantar com uma travessa cheia de macarrão do jeito que eu gostava.
Eduardo começou a comemorar e ela sorriu; botou a travessa no meio da mesa, eu dei um sorriso de lado forçado e ela se sentou ao meu lado.
Naquela noite, enquanto minha esposa servia o jantar, eu segurei sua mão e disse:
- Tenho algo importante para te dizer.
Ela se sentou e jantou sem dizer uma palavra.
Pude ver sofrimento em seus olhos, ela estava se esforçado para que pelo menos na frente do Eduardo parecêssemos uma família. De repente, eu também fiquei sem palavras.
No entanto, eu tinha que dizer a ela o que estava pensando, eu queria o divórcio e abordei o assunto calmamente.
- Eu quero divórcio.
Ela se levantou da cadeira, indo em direção ao Eduardo, e retirou ele da cadeirinha.
- Filho, já que terminou lave as mãos e vá brincar no seu quarto. Papai e mamãe precisam conversar sozinhos.
Eduardo subiu sem murmurar, deixando-nos sozinhos.
Ela olhou para mim, não parecia irritada pelas minhas palavras e simplesmente perguntou em voz baixa:
- Por quê, Jackson?
Eu evitei respondê-la, o que a deixou muito brava.
Ela subiu as escadas e bateu a porta do quarto com força, eu abaixei a cabeça, já sabia que a reação seria essa.
Naquela noite, nós não conversamos mais, subi indo para o quarto do Eduardo e ele estava deitado na cama, dormindo; passei pelo nosso quarto, a porta estava trancada, pude ouvi-la chorando.
Eu sabia que ela queria um motivo para o fim do nosso casamento, mass eu não tinha uma resposta satisfatória para esta pergunta. O meu coração não pertencia a ela mais e sim a Jane.
Eu simplesmente não a amava mais, naquela noite fui para um hotel próximo ao meu trabalho e no quarto liguei para meu advogado.
Sentindo-me muito culpado, rascunhei um acordo de divórcio, deixando para ela a casa, nosso carro e 30% das ações da minha empresa. Levei para meu advogado no dia seguinte.
Ele achou o acordo muito justo, ele me passou um oficial e ali estava feito o acordo de separação. Logo quando eu larguei do trabalho, peguei Eduardo na escolinha como de costume e eu fui direto para casa.
Eduardo entrou saltitante e correu para a mãe, que estava no sofá com uma cara péssima. Ela tinha olheiras fundas e escuras, nariz vermelho, um monte de lenços de papel no chão. Aquela imagem me fez ficar com pena dela.
- Filho, vá tomar seu banho.
Pedi e ele subiu, obedecendo-me.
Puxei uma cadeira da sala e me sentei na frente dela, ela me olhou e uma lágrima desceu dos olhos dela. Eu tirei da minha maleta o acordo, mostrei a ela, ela tomou o papel da minha mão, leu por breves segundos e o rasgou violentamente.
Eu fiquei com dó deste desperdício de tempo e energia, mas eu não voltaria atrás do que disse, pois amava a Jane profundamente.
A minha obsessão por divórcio nas últimas semanas finalmente se materializava e o fim estava mais perto agora.
Resolvi que começaria uma nova vida com a Jane, pedi a ela quando eu liguei que procurasse uma casa para que nós morássemos e até lá eu iria morar na minha antiga casa até para evitar que Eduardo sentisse falta da minha presença.
Na manhã seguinte, no café da manhã, sentados à mesa, ela me apresentou suas condições.
- Jackson, eu não quero nada seu, mas eu peço que me dê um prazo de trinta dias para que eu te dê o divórcio.
Ela falava calma e paciente, aparentemente triste, ela não queria nada meu, mas pedia um mês de prazo para conceder o divórcio e continuou falando:
- E eu quero que durante esse período nós tentássemos viver juntos da forma mais natural possível, Eduardo terá jogos e provas do colégio e ele precisa de um ambiente propício para preparar-se, sem precisar se preocupar em lidar com nossa separação, afinal, ele ainda é pequeno e eu não quero que ele sofra.
- Tudo bem, eu aceito suas condições.
Eu falei e ela balançou a cabeça, aliviada. Quando eu ia subindo para o quarto de hóspedes, ela me chamou.
- Só mais uma coisa, lembra de quando eu e você nos casamos e você me levou para dentro de casa me levando nos braços?
Ela me lembrou do momento em que eu a carreguei para dentro da nossa casa no dia em que nos casamos, eu achei estranho e concordei.
- Poderia me carregar assim pelos próximos trinta dias até a porta de casa todas as manhãs?
Comecei a rir alto e disse:
- Posso.
Eu disse ainda rindo, ela me olhou triste e foi para cozinha enquanto eu fui para o quarto.
Naquela mesma noite, eu fui para casa de Jane, ela me mostrou um monte de orçamentos de casas em lugares caros, eu contei para a Jane sobre o pedido da minha esposa. Ela riu muito e achou a ideia totalmente absurda.
- Ela pensa que impondo condições assim não vão mudar alguma coisa; melhor ela encarar a situação e aceitar o divórcio.
Disse Jane em tom de gozação.
Minha esposa e eu não tínhamos nenhum contato físico havia muito tempo, então quando eu a carreguei para fora da casa no primeiro dia foi totalmente estranho. Nosso filho nos aplaudiu, dizendo:
- O papai está carregando a mamãe no colo!
Suas palavras me causaram constrangimento, deixando-me vermelho.
Ela fechou os olhos e disse baixinho:
- Não conte para o Eduardo sobre o divórcio.
Eu balancei a cabeça mesmo discordando, e então a coloquei no chão assim que atravessamos a porta de entrada da casa.
No segundo dia, foi mais fácil para nós dois, ela se apoiou no meu peito, eu senti o cheiro do perfume que ela usava, um cheiro bem suave.
Eu então percebi que há muito tempo não prestava atenção a essa mulher, ela certamente tinha envelhecido nestes últimos oito anos, seu cabelo estava ficando diferente do que era. Eu não me lembro dela ter cabelos assim, eles eram mais naturais, aparentemente estavam artificiais.
O nosso casamento teve muito impacto nela por causa de tantas mudanças que nela já eram bem perceptíveis. Por uns segundos, cheguei a pensar no que havia feito para ela estar neste estado, fiquei me fazendo essa pergunta durante o meu dia inteiro.
No quarto dia, quando eu a levantei, senti uma certa intimidade maior com o corpo dela.
Ao todo onze anos da vida dela a mim e ao nosso filho, o que me fez lembrar o dia anterior, o tanto que ela fez por nós.
Ela se dedicava a mim e a Eduardo como se fosse a única coisa que restava para ela e eu finalmente reconheci isso depois de tanto tempo, ela me olhou triste, eu deveria agradecer a ela por tudo que me aconteceu.
No quinto dia, eu não disse nada a Jane, mas ficava a cada dia mais fácil carregá-la, ela permanecia calada durante o trajeto, mas ao final me dizia "Obrigada,Jackson".
Nosso filho achava isso uma comédia, ria e até ajudava a segurar a bolsa da mãe, ele às vezes me fazia rir quando dizia "Papai, leva a mamãe no colo".
Certa manhã, eu fiquei esperando ela na porta da sala para levá-la no colo, mas ela estava demorando. Resolvi ver o que era, bati na porta e entrei, ela estava tentando escolher um vestido.
Ela experimentou uma série deles e todos jogados na cama, mas não conseguia achar um que servisse, com um suspiro, ela disse, angustiada:
- Todos os meus vestidos estão grandes para mim.
Eu então percebi que ela realmente havia emagrecido bastante vendo até pelo seu corpo vestido de lingerie, daí a facilidade em carregá-la nos últimos dias.
A realidade caiu sobre mim com uma ponta de remorso... Ela carrega tanta dor e tristeza em seu coração...
Instintivamente, eu estiquei o braço e toquei seus cabelos, ela fechou os olhos e eu me aproximei mais.
- Raquel, eu...
Nosso filho entrou no quarto neste momento e disse:
- Papai, está na hora de você carregar a mamãe.
Para ele ver seu pai carregando sua mãe todas as manhãs tornou-se parte da rotina da casa. Minha esposa abraçou nosso filho e o segurou em seus braços por alguns longos segundos, beijando sua face.
- Eu te amo meu amor, amo mais que tudo nesse mundo, nunca esqueça que a mamãe estará junto de você.
Ela falava meio emocionada, Eduardo tocou na sua face, alisou e disse:
- Eu também te amo, mamãe, muitinho assim.
Apontou para seu próprio coração; a cena era linda, filho e mãe abraçados me fez pensar como Eduardo irá reagir ao divórcio.
Eu tive que sair de perto, temendo mudar de ideia, agora que estava tão perto do meu objetivo que era o divórcio. Em seguida, ela escolheu um vestido e vestiu ele, eu a carreguei em meus braços da sala para a porta de entrada da casa.
Sua mão repousava em meu pescoço, eu a segurei firme contra o meu corpo.
Lembrei-me do dia do nosso casamento, a imagem dela nesse momento em que eu a levei nos braços, ela me olhava feliz e eu sorria, mas o seu corpo tão magro me deixou triste.
O trigésimo dia chegou e eu comecei a pensar sobre o que aconteceria, sobre como seria minha vida depois disso, como Eduardo reagiria, como falar para nossas famílias e, principalmente, como Raquel ficaria.
Quando eu a segurei em meus braços por algum motivo não conseguia mover minhas pernas, Eduardo já tinha ido para a escola e eu me vi pronunciando estas palavras:
- Eu não percebi o quanto perdemos a nossa intimidade com o tempo.
Ela me olhou ainda com o olhar triste, eu a tirei do meu colo, Raquel se prostrou na minha frente.
- Isso não muda nada agora Jackson, mas fique sabendo que eu cumpri com o que eu disse.
Eu olhei para ela estranhando o rumo que ela estava tomando com a conversa.
- Quando eu disse "Prometo amar-te e respeitar-te todos os dias da minha vida." Eu cumpri Jackson, mas eu te perdoo, afinal, eu não mando e nem moro mais no seu coração.
Ela me disse com palavras tristes e amargas deixando-me culpado disso tudo, afinal eu era. Como eu pude fazer o que fiz com ela? Eu a tomei nos braços e levei até a portão de casa, seria a última vez que eu pegaria ela no colo desse jeito.
- Obrigada Jackson, até aqui você cumpriu com o que promete.
Agradeceu em voz baixa e me beijou a face por longos segundos, vi que ela virou-se indo a caminho do trabalho.
- Raquel, espera!
Eu andei poucos passos até alcançá-la e vi lágrimas descerem por sua face, aproximei-me dela, enxuguei sua face e levantei seu queixo, coloquei meus dedos na nuca dela e pressionei nossos lábios, sentindo por dentro a chama apagada acender dentro de mim.
Passei os braços em sua cintura e ela passou seus braços em meu pescoço, nossas línguas pareciam ter sentimentos.
Eu estava com saudade desse beijo, beijo que provei por tantos anos e nem ao menos consegui mais lembrar como gostoso ele era. Ela parou o beijo, me olhou com lágrimas e me abraçou forte, chorando.
Senti algo estranho dentro de mim, como se estivesse tirando algo importante de mim, já estavam cumpridos os trinta dias, parecia mais que saudade mútua que senti naquele momento e, além disso, eu senti despedida definitiva.
- Adeus Jackson, cuida do nosso filho, está bem. Cuide-se também.
Raquel falava chorando, eu fiquei sem reação, por que ela estava falando isso?!
- Não esqueça que eu sempre te amei, Jackson.
Ela foi indo embora, sumiu dobrando uma das esquinas... eu fiquei parado, olhando ela ir para seu trabalho. Assim que ela foi embora, eu fui para nosso quarto, peguei as fotos e a filmagem do nosso casamento, fiquei olhando por longas horas e ali comecei a chorar.
Chorei como criança, como eu havia sido um idiota, um rude com a mulher que eu escolhi para ser minha esposa e eu prometi amá-la e respeitá-la.
Após perceber isso, eu entendi que Jane mais parecia uma diversão para mim, e isso me fez pensar em uma solução. Eu não consegui dirigir para o trabalho, fui até o meu novo futuro endereço, que era a casa que Jane havia escolhido e comprado, saí do carro apressadamente, com medo de mudar de ideia.
Subi as escadas e bati na porta do quarto, Jane abriu a porta e eu disse a ela:
- Desculpe Jane, eu não quero mais me divorciar.
Ela olhou para mim sem acreditar e tocou na minha testa.
- Você está com febre, Jackson?
Eu tirei sua mão da minha testa e repeti:
- Desculpe-me, Jane. Eu não vou me divorciar mais, meu casamento ficou chato porque nós não soubemos valorizar os pequenos detalhes da nossa vida, e não por falta de amor. Agora eu percebi que, desde o dia em que carreguei minha esposa no dia do nosso casamento para nossa casa, eu devo segurá-la até que a morte nos separe, como eu prometi a ela.
Jane então percebeu que era sério, deu um tapa no meu rosto, bateu a porta na minha cara e pude ouvi-la chorando, eu voltei para o carro e fui trabalhar.
Na loja de flores, no caminho de volta para casa, eu comprei um buquê de rosas para minha esposa.
- O senhor deseja um cartão para escrever algo para presentear junto com as rosas?
Eu sorri e escrevi: "Eu te carregarei em meus braços todas as manhãs, até que a morte nos separe".
Naquela mesma noite quando cheguei em casa com um buquê de flores na mão e um grande sorriso no rosto, girei a chave com força e apressadamente entrei em casa.
- RAQUEL! RAQUEL!
Gritei chamando por minha esposa a fim de me reconciliar com ela, fui direto para o nosso quarto onde encontrei minha esposa deitada na cama de costas para porta e consequentemente para mim também.
Eu me sentei na cama, deixei as flores na cabeceira da cama, toquei nos seus cabelos, ela não se mexia... eu toquei nos seus braços e senti sua pele gelada.
- Raquel meu amor, você está gelada.
Falei preocupado, mas ela não me respondeu.
- Amor?
Fiz um pouco de força e seu corpo virou, ela estava mais branca que o normal, seus lábios roxos e sua pele fria, vi-me desesperado.
- Raquel, pelo amor de Deus, me responda!
Eu comecei a chorar e a sacudir seu corpo frio, deitei sobre seu peito e seu coração não batia.
- Não me deixe, por favor, não agora que eu percebi o quanto eu te amo, o quanto você é importante para mim e que você é tudo que eu e o Eduardo precisamos.
Liguei rápido para a emergência e quando eles avisaram que estavam a caminho, eu abracei seu corpo, chorando desesperado.
Em poucos minutos, o resgate chegou e já não havia mais como reverter, ela estava morta já fazia algumas horas.
Ainda na mesma noite, fizeram exames de corpo delito no hospital e prepararam uma papelada para eu assinar a respeito do seu falecimento.
Eu assinava chorando e aí apareceu um médico que veio falar comigo a respeito de sua morte.
- Sua esposa estava com câncer em estado terminal e estava se tratando vários meses atrás, você não sabia a respeito?
O médico perguntou, receoso.
- Não senhor, ela nunca contou a ninguém, muito menos a mim.
Minha esposa estava com câncer e vinha se tratando há vários meses, mas eu estava muito ocupado com a Jane para perceber que havia algo errado com ela.
- É estranho, pois ela usava peruca para esconder sua cabeça sem cabelo, o que é normal para algumas mulheres com câncer. Eu sinto muito pela perda.
O médico me deixou sozinho, eu voltei para casa, sentando na cama me lembrei do momento em que viu Raquel escrever durante a noite, ela havia escrito uma carta e havia deixado dentro da sua bolsa.
Peguei uma caixa de papelão no closet e abri, procurando o envelope branco que na frente estava escrito: "Abra-o quando eu não estiver mais aqui...", respirei fundo e abri o pacote e lá tinha dois documentos: Eram um testamento e exames que comprovavam a doença, li o testamento e dizia que Raquel tinha uma conta no valor de R$800 Mil que pertencia ao Eduardo e que deveria ser investido no futuro acadêmico e esportivo dele, também dizia que tudo: O imóvel, carro, e todo o resto pertencia a mim e ao nosso filho, já que eu teria a guarda do menor.
Lembrei-me das palavras que disse trocando os votos matrimoniais.
-"Prometo ser fiel a ti, prometo amar-te, respeitar-te, cuidar do nosso filho com todo o amor e carinho que eu tenho a ele e lembrar de você em minhas doces lembranças pelo resto de minha vida, ainda que a morte venha nos separado, eu te amarei para sempre, meu amo"...