Era uma vez um príncipe. Não sabemos nem em que tempo, nem o lugar onde esta acontece. Sabemos que ele vivia em um reino outrora equilibrado e próspero, com seu pai, o rei, sua mãe, a rainha, e toda a corte. Atras do castelo havia uma grande floresta, na qual o rei gostava muito de caçar. Mas um dia aconteceu que um de seus caçadores dela não regressou. No dia seguinte outros dois foram a sua busca, mas nenhum retornou. A partir daí a floresta foi abandonada por ser muito perigosa, e ninguém mais pôde entrar lá. Isto durou um longo tempo. Até que um certo dia apareceu um caçador desconhecido que se propôs a livrar o reino da maldição. Ele entrou na floresta com seu cão, e ambos seguiram um animal selvagem até um laguinho O caçador foi, então, buscar outros homens que, com baldes, esvaziaram o laguinho encontrando no fundo um homem selvagem, cujo corpo era marrom como o ferro enferrujado, e cujos cabelos iam até os joelhos. Eles, então, o amarraram e o levaram para o rei, que o prendeu em uma imensa jaula de ferro, a qual colocou no jardim do castelo, proibindo sob pena de morte que o libertassem. A chave da jaula o rei deu para a rainha guardar. Depois disso, qualquer um podia ir sem perigo a floresta.
O rei tinha um filho ainda criança, que estava brincando no jardim com sua bola de ouro quando, acidentalmente, ela rolou para dentro da jaula do Homem de Ferro. O príncipe, então, correu até a jaula e pediu a sua bola de volta, ao que o Homem de Ferro respondeu, "não, até que você abra a minha porta." Então o príncipe disse, "não, isto eu não posso porque meu pai proibiu." Na manhã seguinte a cena se repete tal qual a anterior. Mas na terceira manhã, o príncipe chega até a jaula, dizendo ao Homem de Ferro: "mesmo que eu quisesse, não poderia abrir a porta, pois eu não a chave." Ao que o homem selvagem respondeu "ela esta debaixo do travesseiro de sua mãe, e você pode pegá-la se quiser." Assim o príncipe, querendo muito sua bola de volta, pegou a chave e libertou o homem selvagem. Quando a porta da jaula abriu, o menino apertou o seu dedo. O Homem de Ferro, então, devolveu a bola e fugiu. Quando o menino se deu conta disso chamou o homem selvagem dizendo, "homem selvagem, não vá embora ou baterão em mim!" O homem então voltou e, colocando o menino em seus ombros, seencaminhou para a floresta a passos largos. Tão logo o rei chegou e viu a jaula vazia perguntou à rainha o que havia acontecido. A rainha, então, chamou seu filho, mas ninguém respondeu. Então o rei mandou as pessoas irem procurá-lo nos campos, mas ninguém o encontrou. Diante disso o rei imaginou o que havia acontecido, e uma grande tristeza tomou conta do reino.
Enquanto isso, o homem selvagem atingia seus antigos domínios e, colocando o menino no chão, disse-lhe: "Quanto a seu pai e sua mãe você nunca mais os verá novamente, mas eu o manterei comigo, pois você me libertou. Por isso eu tenho pena de você, e se você fizer tudo que eu disser, será bem tratado, pois eu tenho muitos tesouros e dinheiro, na verdade, mais do que qualquer um no mundo."
Esta noite o Homem de Ferro deixou o príncipe dormir em um macio leito musgo e, na manhã seguinte, o levou até um poço e disse: "Veja, esta água dourada é brilhante e clara como um cristal, por isso você deve sentar e cuidar para que nada caia nela, ou ela será desonrada. Sempre ao final do dia eu virei para ver se você obedeceu as minhas ordens." Assim o menino sentou na margem do poço, mas o seu dedo começou a doer e, para aliviar a dor, ele o colocou na água. Ele rapidamente o tirou, mas veja! o dedo estava dourado. Apesar da dor ele esfregou o dedo, mas foi em vão, pois o ouro não saiu. Quando o Homem de Ferro retornou, perguntou ao menino: "O que aconteceu ao meu poço?" - "Nada , nada," respondeu o menino, escondendo o dedo nas costas. Mas o homem disse: "você mergulhou o dedo na água, desta vez eu o perdoarei, apenas cuide para que isto não aconteça novamente."
No dia seguinte o menino reassumiu o seu posto ao nascer do sol. Mas logo seu dedo começou a doer novamente, mas desta vez ele o esfregou na cabeça, arrancando, acidentalmente, um fio de cabelo, o qual caiu na água. O menino pegou o cabelo rapidamente, mas ele havia se transformado em ouro. Mais tarde, o Homem de Ferro retornou consciente do que havia acontecido: "você deixou um fio de cabelo cair no poço," disse ele ao menino. Mas mais uma vez eu desculparei sua falta, só que, se isto acontecer novamente o poço será desonrado e você não poderá permanecer comigo."
Na terceira manhã, o menino tomou o seu lugar novamente e não moveu mais o seu dedo, apesar da dor. Entretanto, o tempo passava tão devagar, que ele sentiu vontade de ver sua face refletida na água. Mas quando ele se abaixou, o seu cabelo caiu no poço. Rapidamente ele levantou a cabeça, mas seus cabelos foram transformados em ouro e reluziam à luz do sol. Você pode imaginar o quanto assustado o pobre menino ficou! Assim, ele tomou o seu lenço e o amarrou envolta da cabeça, para que ninguém pudesse ver-lhe o cabelo. Mas assim que o Homem de Ferro retornou, falou ao menino: "desamarre seu lenço!," pois ele sabia o que havia acontecido. Então o cabelo dourado caiu sobre os ombros do rapaz, que em vão tentou se desculpar. "Você não passou na prova," disse o Homem de Ferro, "e não deve mais permanecer comigo. Vá para o mundo, e lá você verá como é a pobreza Mas porque o seu coração é inocente, e eu gosto de você, lhe garantirei um favor: quando você tiver em dificuldades venha até esta floresta, chame meu nome e eu virei ajudá-lo. Meu poder é grande e eu tenho ouro e prata em abundância."
Após ter sido reprovado nas provas a que lhe propôs o Homem de Ferro, o príncipe foi expulso da floresta e devolvido ao mundo. Mas ele não voltou para o castelo de seus pais, mas seguiu pelo mundo em busca de seu destino, viajando por estradas difíceis atrás de seu sustento. Finalmente ele encontrou trabalho na corte de um rei. Como não havia aprendido nada que fosse de útil, o cozinheiro o tomou como seu auxiliar. Ali ele tinha de catar lenha, apanhar água para o fogo e depois limpar as cinzas. Um dia nosso herói foi encarregado de levar um prato até a mesa do rei, e como não quisesse que seu cabelo dourado fosse visto, entrou na sala do trono com um boné na cabeça. "Quando você vier até a mesa real," exclamou o rei assim que viu o menino, "você deve tirar seu boné." - "Ah, sua majestade," respondeu o príncipe, "eu não devo, pois tenho uma terrível doença em minha cabeça." Então o rei chamou o cozinheiro a sua presença e o repreendeu por ter tomado tal jovem a seu serviço. Por fim, ordenou que o cozinheiro dispensasse o rapaz. Como o cozinheiro teve pena dele, trocou-o pelo menino do jardineiro.
Agora o príncipe tinha que plantar e semear, cavar e limpar o pátio, não importando o tempo, a chuva ou o vento.
Em um dia de verão ele estava trabalhando, quando tirou seu boné para refrescar a cabeça. Neste momento, o sol brilhou em seu cabelo e seu brilho foi refletido no espelho do quarto da princesa. Ela correu para ver o que tinha provocado tal reflexo, e, vendo o rapaz do jardineiro, chamou-o para lhe trazer um buque de flores. O príncipe, então, tomou um ramalhete de flores do campo e o levou à princesa. Chegando aos aposentos da princesa, ela lhe ordenou que tirasse o boné, ao que ele responde dizendo que sua cabeça é muito feia de se ver. Mesmo assim ela tirou o boné, e sua enorme cabeleira dourada lhe caiu sobre os ombros. O rapaz tentou fugir, mas a princesa o deteve e lhe deu um punhado de moedas, as quais o príncipe deu aos filhos do jardineiro, pois ele despreza dinheiro. Esta cena se repetiu mais duas vezes, entretanto a princesa não mais conseguiu lhe tirar o boné.
Em seguida, o reino entrou em guerra, e o rei reuniu todo o seu povo para lutar, pois o inimigo era muito poderoso e tinha um imenso exército. O rapaz, então, pediu um cavalo para ir à batalha, mas, sendo ainda muito pequeno, os outros não o levaram a sério e lhe deram um cavalo coxo. Assim ele foi com seu cavalo até a floresta e lá chamou pelo Homem de Ferro tão alto que as árvores ecoaram. Logo que o Homem de Ferro apareceu e perguntou o que ele queria, o príncipe respondeu, "eu desejo um cavalo forte, pois vou para uma batalha." - "Isto você terá, respondeu o homem selvagem, e até mais do que você deseja." E vindo por entre as árvores apareceu um pagem trazendo um cavalo fogoso e impetuoso. Atras do garanhão apareceram uma tropa de guerreiros, todos vestidos de ferro, com espadas que brilhavam à luz do sol. O príncipe desmontou seu cavalo coxo e montando o garanhão foi para a batalha a frente de sua tropa. Chegando lá encontrou o exército do rei quase vencido. Então o jovem príncipe caiu sobre seus inimigos como uma tempestade de granizo, exterminando-os a todos. Mas ao invés de levar sua tropa diante do rei, ele voltou à floresta e devolveu tudo ao Homem de Ferro, tomando novamente para si seu cavalo coxo e voltando para o castelo, sem que ninguém soubesse de seus feitos.
Algum tempo depois, o rei promoveu um grande festival, na expectativa de que o cavaleiro que salvara o reino aparecesse. O festival deveria durar três dias, em cada um dos quais a princesa lançaria uma maçã de ouro que seria disputada pelos cavaleiros. Diante dessa situação, o príncipe foi até o Homem de Ferro e pediu condições para que pudesse conquistar as maçãs de ouro. Assim, no primeiro dia, o Homem de Ferro vestiu o príncipe com uma armadura vermelha e lhe deu um cavalo avermelhado para montar. Logo que obteve a maçã na disputa com os outros cavaleiros, o príncipe, ao invés de se apresentar ao rei, fugiu.
No segundo dia, o Homem de Ferro vestiu o jovem como um cavaleiro branco e lhe deu de montaria um cavalo branco. Novamente, somente ele pôde obter a maçã de ouro. O rei ficou furioso quando o cavaleiro fugiu com o prêmio pela segunda vez, e proclamou que no dia seguinte, se o cavaleiro se recusasse a se apresentar, seria perseguido e morto.
No terceiro dia, o príncipe recebeu do Homem de Ferro uma armadura negra e um garanhão negro, e, novamente, conquistou a maçã quando ela foi jogada. Ele foi perseguido, e um dos perseguidores chegou tão perto que conseguiu feri-lo com a ponta da espada. Em sua fuga o cavaleiro negro deixou cair seu elmo e sua cabeleira dourada foi vista. Os cavaleiros então retornaram e contaram ao rei o que tinham visto.
No dia seguinte a princesa perguntou ao jardineiro sobre seu menino, este respondeu que o rapaz estava no festival, e que ontem à noite retornou e deu para seus filhos três maçãs de ouro que ele ganhou lá.
Quando o rei soube disto mandou que o jovem fosse trazido a sua presença, e ele apareceu como costumava andar, com seu boné na cabeça. Mas a princesa veio até ele e lhe tirou o boné, e seus cabelos dourados caíram sobre seus ombros. Ele pareceu tão bonito que todos ficaram impressionados. Então o rei perguntou, "Você é o cavaleiro que apareceu no festival usando cada dia uma cor diferente e que ganhou as três maçãs de ouro? " - "Sim," ele retrucou, "e estas são as maçãs," e assim dizendo ele tirou-as de sua bolsa e entregou-as ao rei. "Se você quiser outra prova," continuou ele, "eu lhe mostrarei o ferimento que os seus me fizeram quando eu fugia; mas eu sou também o cavaleiro que obteve a vitoria sobre seus inimigos." - "Se você pode fazer estes feitos," disse o rei, "você não é um jardineiro, diga-me, quem é seu pai?" - "Meu pai é um poderoso rei, e ouro eu tenho não só o quanto eu deseje, mas muito mais do que pode ser imaginado," disse o jovem príncipe. "Eu reconheço," disse o rei, "que estou em débito com você, posso fazer alguma coisa para demonstrar isto?" - "Sim, se você me der sua filha como esposa!," replicou o jovem. A princesa sorriu e disse: "ele não fez rodeios, eu tinha visto há muito tempo que ele não era um simples menino do jardineiro por causa de seu cabelo dourado," e com essas palavras ela se aproximou e beijou-o. Assim foi celebrado o casamento, e para ele vieram os pais do príncipe, que há muito tempo tinham dado seu filho como morto. De repente, enquanto todos estavam na festa, uma musica foi ouvida, as portas se abriram e um magnifico rei entrou, seguido de uma enorme corte. Ele se aproximou do príncipe, abraçou-o e disse: "Eu sou o Homem de Ferro, que você salvou de sua natureza selvagem, todos os tesouros que me pertencem são, daqui em diante, sua propriedade!"