Arthur saiu do prédio do curso com um sorriso satisfeito estampado no rosto, um sorriso que não chegava aos olhos, gelados e calculistas. Ele entrou em seu carro e dirigiu até sua residência, um apartamento de alto padrão, impessoal e frio como seu proprietário. Ao entrar, jogou as chaves em um pote de cristal e deixou-se cair no sofá de couro branco, soltando um suspiro profundo que ecoou na sala vazia.
A porta do escritório interno se abriu e Miguel apareceu, segurando um copo de uísque.
— Que bom que chegou.
Arthur nem olhou para ele. — Minha casa virou cabaré? — disse, com a voz carregada de um tédio venenoso. — Aparece quando quer.
Miguel se aproximou, oferecendo o copo. Arthur ignorou. — Calma, meu amigo.
— Não sou amigo de ninguém — Arthur retrucou, fechando os olhos e apoiando a cabeça no encosto do sofá. A imagem de Ravi, vulnerável e surpreso com os livros, queimava atrás de suas pálpebras.
Miguel sentou-se ao lado dele, incômodo. — Foi ver o garoto?
— Sim.
— E então?
Um sorriso genuíno, raro e assustador, tocou os lábios de Arthur. — Consegui chegar bem perto dele. Toquei em sua mão... Senti o calor dele. Foi maravilhoso. Não vejo a hora de tê-lo por mais tempo. Muito mais tempo.
Miguel balançou a cabeça, cético. — Será que ele vai querer você, Arthur? Ele é só um adolescente.
Os olhos de Arthur se abriram de repente, fixando Miguel com uma intensidade que fez o homem se encolher. — Miguel, faz um favor para mim e cala a porra da sua boca, seu inútil. — A voz era um fio de pura ameaça. — Eu sei. Nos primeiros dias, ele vai ficar tímido, com medo. Não vai gostar. Vai ser aos poucos. A água mole na pedra dura... tanto bate até que fura. Vou furar a resistência dele.
— Você não vai... machucar o moleque, vai? — a pergunta de Miguel saiu cautelosa.
Arthur riu, um som baixo e lascivo. — Só machuco na hora do sexo, Miguel. E só se ele gostar. Alguns gostam de um pouco de dor... dá um tempero especial.
Miguel soltou uma risada curta e nervosa. — Seu pervertido. Já tá pensando em sexo?
— Porra, já viu o garoto? — Arthur levantou-se, começando a andar pela sala, sua energia contida explodindo em movimento. — É... puro. Incrivelmente lindo. E a princípio, eu só queria comer ele, sabe? Saciaria essa vontade. Mas não... não quero só isso. Quero mais. Quero que ele sinta o mesmo amor que eu sinto por ele.
— Amor? — Miguel não conseguiu disfarçar o ceticismo.
— O meu tipo de amor — Arthur corrigiu, com um olhar perigoso. — Posse. Devoção. Obediência. Vou fazer de tudo para me aproximar dele durante essa semana. Ser o benfeitor, o protetor. E depois... quando ele estiver confiante... ele descobre a verdade. Que ele já é meu. E então, nós ficamos juntos. Para sempre.
— As coisas para você são um morango, né? — disse Miguel, sacudindo a cabeça em incredulidade. — Só estalar os dedos.
— Na verdade, não são — Arthur parou diante da janela panorâmica, olhando a cidade sob seus pés. — Eu faço as coisas ficarem fáceis. Elimino os obstáculos. Moldo a realidade ao meu bel-prazer.
— Tá... — Miguel mudou de assunto, sentindo o ar ficar pesado. — Agora seu pai morreu, o que você vai fazer? Só pegar o garoto e pronto?
— A primeira coisa é pegar o garoto. A segunda coisa é tornar a nossa máfia maior. Muito maior. E vou fazer as duas coisas ao mesmo tempo, vou vendo.
— E o seu irmão? — Miguel lembrou. — Ele também tem uma parte na herança, na empresa. Ele vai contestar sua liderança.
Arthur virou-se, e sua expressão era de completo desprezo. — Não vou me preocupar com ele. Além do mais, ele é muito coração mole. Chora por tudo. Não serve para isso. É um fraco.
— Sabe, Arthur... ele vai querer vir atrás do que é dele. Pela lei.
A frieza no rosto de Arthur era absoluta. — Então mata ele logo de uma vez. É um problema a menos.
Miguel ficou em silêncio por um momento, absorvendo a frieza. — E... sua mãe? Esse é um problema maior.
— Minha mãe... — Arthur repetiu, e pela primeira vez, uma centelha de algo complexo — não ódio, mas uma irritação profunda — passou em seus olhos. — Esse é o problema. É minha mãe. Mas também... eu tô no tempo. Não tô ligando nem um pouco mais para ela. É muita frescura para uma velha só. Se ela ficar no caminho... — Ele não terminou a frase. Ele não precisava. O silêncio que se seguiu foi a sentença mais assustadora de todas.
Arthur pegou o copo de uísque da mão de Miguel, finalmente, e deu um gole, seus olhos perdidos no horizonte,
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