As semanas passaram, e o relacionamento entre Mariana e Rafael parecia florescer com naturalidade. Eles se viam quase todos os dias, trocavam mensagens constantes e faziam planos para o futuro. Para Mariana, era como se finalmente tivesse encontrado o pedaço que faltava em sua vida. O vazio deixado pela rejeição da família começava a ser preenchido por aquele carinho que Rafael demonstrava de tantas formas.
No entanto, aos poucos, algumas pequenas mudanças começaram a surgir. No início, quase imperceptíveis, escondidas entre gestos carinhosos e palavras doces. A primeira vez aconteceu em um jantar no restaurante que Mariana adorava. Ela escolheu o prato favorito, mas Rafael comentou, em tom de brincadeira, que aquilo “não era a escolha mais saudável”. Mariana riu, mas dentro de si sentiu uma pontada de desconforto.
Em outro momento, quando Mariana saiu com uma amiga de longa data para tomar um café, Rafael pareceu incomodado. Perguntou várias vezes quem era, o que conversaram, por que demoraram tanto. Ela achou curioso, mas interpretou como cuidado. Afinal, quem nunca quis saber detalhes da vida de quem ama? Mariana ignorou a inquietação e decidiu não se prender àquilo.
Com o tempo, esses pequenos comentários se tornaram mais frequentes. Rafael, antes sempre tão compreensivo, começou a opinar sobre as roupas que ela usava. Dizia que ficaria mais bonita de vestido em vez de calça, ou que certas cores não combinavam com ela. Mariana, insegura como sempre fora, começou a se adaptar às preferências dele, acreditando que isso era parte natural de um relacionamento.
Apesar dessas pequenas mudanças, o carinho continuava presente. Rafael ainda a levava para lugares bonitos, ainda a fazia rir, ainda dizia que ela era especial. Esse contraste confundia Mariana, que não sabia distinguir se estava exagerando em suas percepções ou se realmente havia algo errado.
Certa noite, depois de um passeio, Rafael a levou até em casa e, antes de se despedirem, segurou suas mãos e disse com um olhar sério:
— Eu quero que você saiba que sou diferente de todos os outros. Ninguém vai te amar como eu amo. Você não precisa de mais ninguém, Mariana. Só eu sou suficiente.
A frase soou doce, mas também carregava um peso estranho. Mariana sorriu, tentando acreditar que aquilo era apenas a expressão de um amor intenso, mas por dentro algo a fez hesitar. Uma parte de si — a parte que aprendeu a viver em alerta pela rejeição constante da família — sentiu que havia um tom de posse naquelas palavras.
No entanto, Mariana não quis pensar demais. Afinal, não era isso que ela sempre quis? Ser amada, ser escolhida, ser colocada em primeiro lugar? Depois de tantos anos sendo ignorada, finalmente alguém dizia que ela era essencial. A sensação de ser prioridade a fazia se agarrar a Rafael com ainda mais força, mesmo que uma pequena voz dentro dela tentasse avisar que havia algo fora do lugar.
Naquela noite, deitada em sua cama, Mariana revivia cada detalhe. O sorriso de Rafael, os beijos demorados, o carinho em público… tudo parecia perfeito. Mas, entre os pensamentos felizes, as lembranças dos comentários sobre sua comida, suas roupas e até suas amizades surgiam como pequenas rachaduras em um vidro aparentemente intacto.
Ela suspirou fundo, decidindo que era apenas insegurança de sua parte. Afinal, Rafael estava ao lado dela, enquanto sua família nunca estivera. Era melhor se concentrar no presente e acreditar que, finalmente, o amor estava ao seu alcance.
O que Mariana não sabia era que aquelas pequenas mudanças eram apenas o início de um ciclo que, com o tempo, se tornaria mais difícil de ignorar.
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Atualizado até capítulo 100
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