A manhã seguinte me encontrou em frente ao espelho, vestindo um blazer de tweed cinza-claro sobre uma blusa de seda branca. A saia de couro sintético, que no shopping parecia uma escolha ousada, agora me fazia sentir confiante. Meus sapatos de salto baixo, comprados na noite anterior, me davam um ar de profissionalismo que eu nunca tive. A nova Helena estava pronta para ir trabalhar.
A sensação de ser uma pessoa diferente, mais alinhada com o mundo ao meu redor, me deu um ânimo extra. A cidade parecia mais colorida, o trânsito menos caótico. O Rio de Janeiro, que antes me assustava, agora parecia um desafio que eu estava pronta para enfrentar.
Cheguei à GDM e, como em um passe de mágica, a sensação de deslocamento se dissipou. Meus colegas me olharam de forma diferente, e alguns até me deram um aceno de cabeça. Gabriela me olhou de cima a baixo com um sorriso de aprovação.
— Viu só? Eu te disse que a roupa certa faria a diferença. Você está deslumbrante! — ela sussurrou, e meu peito se encheu de orgulho.
— Obrigada, Gabi. Você estava certa — eu respondi, e me senti grata por ter uma amiga como ela.
Passamos a manhã trabalhando em um novo projeto. O Sr. Matias havia chegado com a ideia de uma campanha de marketing para uma marca de tênis, e ele queria que todos os estagiários e assistentes trabalhassem em conjunto. A sala de reuniões ficou cheia, e o ar ficou tenso.
O Sr. Matias era a personificação do sucesso. Um homem de terno impecável, que falava com uma confiança que parecia intimidar até os mais experientes. Ele dividiu a sala em duplas.
— A ideia é que vocês trabalhem em conjunto. Troquem ideias, aprendam uns com os outros. Helena, você vai fazer dupla com o Arthur.
Meu coração parou. A sala ficou em silêncio por um instante. Eu olhei para a Gabriela, que parecia tão chocada quanto eu, e apenas assenti, tentando manter a calma. O Arthur, por outro lado, apenas sorriu, mas era um sorriso de canto de boca que me fez querer esganá-lo.
O resto da sala de reuniões foi um borrão. Quando todos se levantaram para ir aos seus lugares, ele se aproximou da minha mesa e se sentou na cadeira vazia ao meu lado. Ele não disse nada, apenas me olhava com um ar de diversão. Eu tentei me concentrar na planilha, mas a presença dele me incomodava.
— Então, miniatura, o que você sugere? — ele disse, com uma voz rouca, o que me fez arrepiar.
— Meu nome é Helena. E o que eu sugiro é que você pare de me chamar assim — eu respondi, tentando parecer calma.
Ele deu de ombros. — Achei que a nova roupa significava que você tinha superado a sua fase de "garota do interior". Pelo visto, a roupa mudou, mas a pessoa continua a mesma. Pequena e irritadiça.
Aquele comentário foi a gota d'água. Eu joguei a caneta na mesa, com força.
— Olha aqui, Arthur, eu não sei o que você está tentando fazer, mas eu não estou com paciência para os seus joguinhos. Eu estou aqui para trabalhar, não para ser seu alvo de piadas. Eu não sei quem você pensa que é, mas eu não sou uma das suas garotas que você leva para o shopping.
Ele riu, e a risada dele era como música para os meus ouvidos. Uma risada gostosa, de quem está se divertindo com o momento. A minha raiva, por outro lado, se transformou em vergonha.
— Você me irrita — eu disse, com um tom de derrota.
— Eu sei. E eu adoro — ele disse, com um sorriso de lado. Ele se inclinou na minha direção, e o cheiro do perfume dele me invadiu. — Vamos focar no trabalho, sim? Eu prometo não te provocar, por enquanto.
Eu assenti, derrotada. Eu não tinha como ganhar. Aquele cara era a personificação da arrogância, e eu me sentia como um peixe fora d'água. Eu não podia me deixar abalar por ele. Eu tinha que me concentrar no trabalho. O problema é que a minha mente já não estava mais focada em planilhas, mas sim em um certo par de olhos escuros.
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