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Malak fechou a porta do quarto com um toque preciso. Thiago ainda parecia um pouco atordoado com a transformação do uniforme, mas um sorriso tímido insistia em seu rosto.

"Você... você não vai me levar à forca, vai?" brincou Thiago, tentando disfarçar o nervosismo com humor.

Malak olhou para ele, um canto da boca se erguendo em algo que não era exatamente um sorriso, mas também não era uma ameaça completa. "A claro, vamos."Sua voz era plana, mas ele começou a andar pelo corredor, indicando que Thiago deveria seguir.

Caminharam em silêncio pelos corredores amplos e ensolarados da escola. Estudantes de todas as raças e origens magicamente possíveis passavam por eles, lançando olhares curiosos – ou apreensivos – para a figura sombria e imponente de Malak, que parecia uma mancha de tinta num quadro de cores pastel.

Até que um deles parou diretamente em seu caminho.

"Oi, Thiago!"

Era um jovem alto, de pele ébano e cabelos black power cortados rentes aos lados, deixando um topo mais alto e definido. Seus olhos, da cor do âmbar claro, fixaram-se primeiro em Thiago com familiaridade, e depois em Malak, com uma desconfiança instantânea e profunda. Ele era, inegavelmente, bonito, mas sua expressão era uma nuvem carrancuda.

"Oi, Du!" disse Thiago, seu sorriso se tornando mais aberto e genuíno. "Tudo bem?"

Du ignorou a pergunta, seu queixo apontando na direção de Malak. "Quem é esse?"A pergunta soou mais como um desafio do que uma saudação.

"Esse é Malak. É o primeiro dia dele, acredita? Ele é filho do Ich Zeige," explicou Thiago, tentando soar casual.

A expressão de Du endureceu ainda mais. "O vilão?"a palavra saiu carregada de desdém.

Malak não deixou que a provocação pairasse no ar. Ele se virou lentamente para encarar Du, sua postura relaxada, mas seus olhos faiscando com um perigo contido. "Não. O herói da pátria,"corrigiu ele, sua voz um fio de gelo cortante. "Vamos logo, Thiago. Está ficando entediante."

Du não recuou. Ele cruzou os braços, seu olhar desafiador percorrendo Malak da cabeça aos pés. "A tá bom. Tchau, Du. Depois a gente se fala,"disse Thiago, pegando suavemente o braço de Malak e puxando-o para continuarem a caminhada.

Malak permitiu ser guiado, mas antes de se virar completamente, ele lançou um último olhar para Du sobre o ombro – um olhar que prometia que aquele não seria seu último encontro.

Du ficou parado, observando os dois se afastarem. Sua voz baixa, mas clara, ecoou no corredor: "Espero que você não vire uma pedra no meu caminho, Malak."

Malak não respondeu. Ele nem mesmo diminuiu o passo. Mas a ameaça foi registrada.

Poucos minutos depois, eles pararam diante de um enorme edifício de mármore branco, com colunas imponentes e vitrais que contavam histórias de glórias passadas. "Chegamos,"anunciou Thiago, sua animação voltando.

Eles entraram. O interior do museu era ainda mais impressionante. Era vasto, silencioso e reverente. Luzes suaves iluminavam exposições de armaduras reluzentes, estandartes desfraldados e artefatos mágicos em vitrines de cristal.

"Aqui! Vem ver!" Thiago sussurrou, puxando Malak pela manga da jaqueta em direção a uma grande ala no fundo do salão.

Ele parou diante de uma pesada cortina de veludo vermelho. Com um gesto dramático, puxou uma corda dourada e a cortina se abriu suavemente, revelando uma galeria majestosa.

Eram estátuas de mármore, maiores que a vida, alinhadas como sentinelas silenciosas. Malak reconheceu cada rosto imediatamente. Seu avô, o conquistador implacável. Sua avó, a feiticeira de vontade de ferro. Seu bisavô, o estrategista que não conhecia a piedade. E no centro, a maior de todas, esculpida com uma expressão de determinação feroz, seu pai, Ich Zeige, segurando uma réplica do próprio Cajado que agora pertencia a Malak.

Sua família era conhecida por botar medo em todos. Ninguém conseguia pará-los. Era um desafio. A frase ecoou na mente de Malak, não como um orgulho, mas como um fato frio e inegável.

"Fiquei impressionado com as estátuas," confessou Thiago, quebrando o silêncio solene. Ele olhava para a estátua do pai de Malak com uma expressão complexa, uma mistura de admiração e perplexidade. "Seu pai era um rei ótimo, estrategista, poderoso... mas por que ele quis acabar com o mundo?"

A pergunta, feita com uma ingenuidade tão sincera, atingiu Malak como um soco no estômago. Seus dedos se contraíram involuntariamente. Ele não olhou para Thiago. Seus olhos permaneceram fixos na estátua de pedra fria. "Fica na tua,"ele rosnou, a voz tão baixa e carregada de raiva que soou como o farfalhar de uma serpente.

Thiago se calou, sentindo o erro que cometera.

Malak então desviou o olhar. Do outro lado do corredor, sob uma luz dourada e celestial, estava outra série de estátuas. A Família Real de Luminária. O Rei, a Rainha, príncipes e princesas de eras passadas. E no centro, o atual Rei, pai de Thiago e Renato. E na cabeça da estátua do Rei...

A Coroa Solaris.

Ela brilhava mesmo sendo apenas uma réplica de ouro e gemas. E logo abaixo, nas mãos da estátua, estava outro cajado – um cajado branco e dourado, a contraparte luminosa do seu.

Malak sentiu um aperto no peito, não de admiração, mas de cobiça pura. Ele sabia das histórias, dos rumores antigos. O Cajado das Trevas de sua linhagem, somado à Coroa Solaris da linhagem de Thiago... a combinação daria um poder não apenas super, mas absoluto. O poder que seu pai sempre ambicionara. O poder que agora ele, Malak, viria buscar.

O silêncio entre eles era pesado, carregado de histórias não contadas e de um futuro que Malak já podia saborear – amargo e doce como veneno.

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