Capítulo 2 – Solitário à Beira da Loucura (continuação)
Lissa estava entretida na caça ao tesouro com seus amigos, mas a mente não a acompanhava. O comportamento de Dimitri nos últimos meses a deixava inquieta. Aquela noite, no entanto, parecia diferente. Ele estava estranho, distante, quase como se estivesse em outro mundo. A preocupação crescia a cada minuto que passava longe de casa. O instinto dizia que algo não estava certo, mas não sabia o quê. Despedindo-se rapidamente de seus amigos, decidiu voltar para casa, determinada a confrontar Dimitri e exigir uma explicação. Preferia enfrentar a verdade do que permanecer na ignorância.
Enquanto isso, Dimitri caminhava em silêncio, sua mente absorvida por pensamentos obscuros. O rosto da garota de cabelos negros, que invadia seus sonhos, não saía de sua cabeça. A intensidade do desejo, da curiosidade e do fascínio o deixava à beira da loucura. Ele precisava vê-la, senti-la, tocá-la, mas a consciência do que estava fazendo com Lissa o mantinha contido — pelo menos parcialmente.
Ao chegar à cidade, sentiu o cheiro inconfundível de sangue fresco. Seu coração, há muito parado, parecia pulsar novamente, mas era apenas reflexo da excitação que percorria seu corpo. Lá estava ela, em seu uniforme escolar, alheia a tudo e a todos. Um calor estranho percorreu suas veias, e Dimitri soube que não poderia se afastar agora.
Seguiu a garota discretamente até sua escola, mantendo-se nas sombras, aproveitando cada movimento, cada gesto. Observou-a de longe, notando a delicadeza de sua postura, a maciez de seus cabelos negros e o aroma de seu sangue, suave e irresistível. Quando o sinal final tocou, Dimitri não hesitou: teleportou-se diretamente para o quarto de Emmy, preparando-se para estar presente no instante em que ela chegasse.
Ela entrou exausta, como se o cansaço físico e emocional tivessem se acumulado. Mal percebeu a presença de alguém na sala; seus olhos estavam fixos no chão, os passos leves sobre o tapete do quarto. Dimitri a observava em silêncio, sentindo cada detalhe, cada nuance de seu corpo humano, frágil e encantador. Quando Emmy finalmente se deitou, afundando-se nos travesseiros, Dimitri percebeu que ela estava sonhando novamente. Um sorriso involuntário surgiu em seu rosto, misto de malícia e fascínio.
Não resistiu: entrou em seus sonhos.
O mundo onírico se revelou bizarro e confuso. Figuras estranhas e sombrias cercavam a jovem, observando-a com atenção predatória. Mas com um gesto de suas mãos, Dimitri fez as figuras desaparecerem, deixando apenas ele e a garota. A tensão cresceu, elétrica.
Achou o que procurava, Milady? – sua voz grave e sedutora ecoou pelo sonho.
Ela se virou assustada, tentando recuar, mas a presença de Dimitri era avassaladora. O perfume de seu próprio sangue misturado ao aroma dele parecia fazê-la fraquejar. Um ímpeto súbito o levou a provar seu sangue, e o sabor doce e quente incendiou seus sentidos. Por um instante, o controle se perdeu. Cada fibra de seu ser reagiu à força vital dela, e Dimitri sentiu um prazer que não sentia há séculos.
A consciência voltou apenas quando percebeu ruídos do lado de fora do quarto, lembrando-se de Lissa e do perigo de ser descoberto. Com cuidado, depositou a jovem de volta na cama, limpou os lábios e deu um beijo rápido — suave, quase imperceptível — nos lábios de Emmy, deixando um rastro de calor e confusão.
Desapareceu imediatamente, teleportando-se para a biblioteca do castelo, onde sentou-se em uma poltrona, contemplando a situação. Um riso baixo escapou de seus lábios. Ele havia se apaixonado por ela instantaneamente, e agora a prova de seu sangue o ligava a ela de uma forma que nunca imaginara. A consciência dizia que era insano, mas o coração — ou aquilo que restava dele — gritava por mais.
Horas se passaram. Finalmente, Dimitri ouviu os passos suaves de Lissa aproximando-se. Ela entrou na biblioteca, o olhar preocupado suavizando ao notar sua expressão.
Chegou agora? – perguntou ela, tentando disfarçar a ansiedade.
Sim, estava caçando – respondeu ele, com a voz calma, porém distante.
Onde? – insistiu Lissa, franzindo a testa.
Nas montanhas. – Ele evitou detalhes.
E porque demorou tanto? – O tom de Lissa carregava reprovação.
Não queria um animal qualquer. Precisava de sangue humano, e nessa época do ano, não é fácil encontrar alguém imprudente o suficiente para se aventurar nas montanhas.
Ela permaneceu em silêncio, estudando-o, tentando decifrar a distância que agora existia entre eles. Dimitri percebeu, e suavizou sua expressão. Aproximou-se, depositando um beijo rápido nos lábios de Lissa e a guiou até a cama. Não havia sono, mas queria preservar a paz e a harmonia, ao menos por algumas horas.
Enquanto deitavam-se lado a lado, Dimitri fechou os olhos por um instante, imaginando Emmy, lembrando-se do calor de seu sangue, da maciez de seus cabelos. A culpa misturava-se à excitação, e a intensidade do desejo o deixava à beira da insanidade. Sabia que, uma vez provado o sangue dela, nada seria suficiente para esquecê-la. Lissa dormia ao seu lado, tranquila, inconsciente do turbilhão de emoções que consumia seu marido. Dimitri, o vampiro milenar, estava agora completamente enredado pelo destino.
O desejo de possuir, proteger e controlar a jovem humana se tornara sua obsessão, e ele sabia que nada poderia afastá-lo dela. O conflito era doloroso, mas irresistível. Por um momento, Dimitri percebeu que a eternidade de sua vida não valeria a pena se ele não pudesse ter Emmy ao seu lado. A razão dizia uma coisa, o coração — ou o que restava dele — gritava outra.
E assim, entre sombras, sonhos e desejos, Dimitri se perdeu. Entre a fidelidade a Lissa e o chamado irresistível de Emmy, ele finalmente compreendeu que a vida, por mais longa que fosse, sempre poderia ser sacudida por um único encontro, uma única presença que mudaria tudo.
O silêncio da biblioteca envolvia o castelo, e Dimitri permaneceu sentado, imóvel, saboreando cada lembrança, cada emoção, cada aroma e cada som daquela noite que mudaria o rumo de sua existência para sempre.
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Atualizado até capítulo 32
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