Karina Costa 18 anos
O ronco do motor da viatura parecia um pouco mais baixo agora, ou talvez fosse só o meu corpo começando a relaxar depois de tanta tensão. A cidade lá fora, com suas luzes que pareciam mais suaves agora, era um contraste gritante com a escuridão e o caos do galpão. Eu dirigia devagar, tentando absorver cada detalhe daquela noite, cada movimento, cada palavra.
Quando a porta do meu apartamento se fechou atrás de mim, o silêncio foi quase ensurdecedor. Era bom, mas também um pouco estranho depois de toda a agitação. A primeira coisa que fiz foi tirar o colete e a arma. Coloquei tudo no lugar, como sempre, mas hoje parecia que tinha um peso extra.
O banho foi um ritual. Deixei a água quente cair sobre mim, sentindo os músculos relaxarem um por um. Fechei os olhos e tentei apagar as imagens mais fortes da operação, mas elas teimavam em voltar. O jeito que um deles tentou sacar a arma, a expressão no rosto do outro quando foi imobilizado... Era parte do trabalho, eu sei, mas não era fácil.
Depois, a fome. Abri a geladeira e peguei o que tinha de mais rápido. Um sanduíche. Comi ali mesmo, em pé, enquanto meus pensamentos ainda vagavam pela operação. Será que eu podia ter sido mais rápida? Será que o Sargento achou que eu agi certo? Essa coisa de se questionar é chata, mas acho que faz parte de querer ser a melhor.
Finalmente, a cama. Ah, a cama! Desabei nela, e o can saço me pegou de jeito. Tentei não pensar muito, mas a adrenalina ainda estava ali, um zumbido baixo. Fechei os olhos, e por um momento, vi o galpão de novo. Mas aí, lembrei do sorriso do meu colega quando a gente saiu de lá, da sensação de que tínhamos feito a coisa certa. Essa sensação, essa certeza, foi o que me fez adormecer, com a promessa silenciosa de que, amanhã, estarei pronta para tudo de novo.
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