Seduzindo Meu Ex-Sogro
O tilintar das taças se mistura com as risadas e o murmúrio do restaurante. Estamos todas reunidas ao redor da mesa, nossas vozes competindo com a música suave de fundo, mas nada pode ofuscar o brilho que emana de Katy. Ela sorri de orelha a orelha, quase tremendo de emoção quando levanta a mão e deixa que a luz capture o anel que acabou de nos mostrar.
—Meu Deus, Katy, é precioso!— Exclama Ana, levando as mãos ao rosto como se tivesse visto uma joia de museu.
Eu também sorrio, com as bochechas ardendo de pura ilusão. O anel brilha, sim, mas o que me atrai não é a pedra em si, mas o que significa. Uma promessa, um futuro, um sonho tornado realidade. Katy fala atropelada, contando-nos cada detalhe de como Daniel se ajoelhou no meio do parque, em frente à fonte que sempre foi seu lugar favorito, e eu sinto que o coração me bate no mesmo ritmo que o dela enquanto recria a cena.
—Eu não parava de chorar— Diz entre gargalhadas, enquanto brinca com o anel.
Todas rimos, emocionadas, e nesse instante me descubro perguntando como seria se fosse eu a que estivesse mostrando um anel.
Respiro fundo. A ideia me sacode com força, mas não me é estranha. De fato, levo semanas pensando nisso. Tenho vinte e sete anos, um bom trabalho como designer gráfica em uma empresa que me inspira e me desafia, e junto a mim… está Stefan. O homem que escolhi, com quem compartilhei três anos da minha vida e a quem ainda olho com a mesma fascinação com a qual o vi da primeira vez.
Lembro daquele dia como se fosse uma cena pintada em óleo: a galeria estava cheia de quadros modernos, cores intensas e sombras dramáticas, mas tudo desapareceu quando o vi. Tão correto, educado, com um sorriso caloroso e uma voz profunda que parecia querer envolver você em confiança. Falou-me de arte, de viagens, de sonhos e o fez com um detalhe tão doce —ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha quando se soltou enquanto eu me inclinava para observar uma pintura— que não me restou outra opção a não ser me derreter sem remédio.
O que começou com olhares tímidos e conversas longas terminou, meses depois, na relação mais bela que tive. Três anos juntos, três anos de detalhes, de flores inesperadas, de notas na minha bolsa com frases que ainda guardo como tesouros. Ele é bonito, sim, mas o que me apaixonou de verdade foi sua forma de me fazer sentir única, como se eu fosse a coisa mais importante do seu mundo.
Agora que ambos terminamos nossos estudos, que ele se juntou à empresa de seu pai e eu dei um grande passo profissional, sinto que nada mais impede o próximo grande capítulo de nossas vidas. Estou morrendo de vontade de começar uma nova vida com ele, de levarmos nosso amor ao próximo nível.
—Talvez seja assim, não é, Emma?— Me diz Laura, me dando uma cotovelada. —Você será a próxima, certo?
Rio, mas meu peito se enche de uma tibieza que me denuncia. E se ela tiver razão?
Porque nas últimas semanas tenho notado Stefan… estranho. Mais calado, mais distante, como se escondesse algo. Estou preocupada desde então, mas agora, ouvindo Katy, tudo ganha outro sentido. Talvez ele esteja tramando uma surpresa, talvez algo tão grande como um anel escondido em uma pequena caixinha de veludo.
Olho de soslaio meu telefone, apoiado ao lado da taça de vinho. A tela continua apagada, sem mensagens nem chamadas, e uma pontada de inquietação me percorre. Desde ontem não me ligou nem respondeu nada, o que é raro nele.
Deixo-lhe novamente uma mensagem curta, quase casual, só para saber se está bem.
Quando volto a levantar a vista, Katy continua falando dos preparativos, de como contaram aos seus pais, de quão feliz está. Eu também sorrio, e enquanto acaricio dissimuladamente a superfície fria da minha taça, penso que talvez Stefan esteja, neste mesmo momento, procurando um anel.
A ideia me provoca um arrepio doce, um daqueles que percorrem as costas como um segredo grande demais para guardar. Volto a olhar o celular, sorrio para mim mesma e o deixo de lado. Agora quero focar ainda mais no que minha amiga diz. Afinal, este poderia ser o prelúdio da minha própria história.
A noite está quente quando fecho a porta do meu apartamento e ainda tenho o sorriso pintado nos lábios pelo encontro com minhas amigas; a felicidade de Katy é contagiante e eu continuo imaginando como seria se algum dia fosse eu quem mostrasse um anel no meu dedo. Deixo a bolsa sobre a mesa, tiro os sapatos de salto e, antes mesmo de trocar de roupa, verifico meu celular. Nada.
Solto um suspiro. Levo o dia todo tentando falar com Stefan, e o silêncio começa a me incomodar. Ligo outra vez, convencida de que desta vez ele responderá. O toque soa… e então ouço sua voz.
—Olá.
Fico imóvel, aliviada. —Finalmente! Você está bem? Estava preocupada, Stefan.
—Sim… estive ocupado— Sua voz soa cansada, como se levasse o dia todo correndo com mil coisas na cabeça. —Meu pai voltou ao país.
Meus olhos se abrem como pratos e um sorriso enorme se desenha no meu rosto. —Sério? Isso é maravilhoso! Então… finalmente poderei conhecê-lo?
Faz tempo que desejo esse momento. Em três anos de relacionamento nunca tive a oportunidade de ver seu pai, ele sempre estava viajando e ausente. Quero dar-lhe as boas-vindas como corresponde, que saiba o quão importante seu filho é para mim.
—Stefan…— Digo entusiasmada antes que ele possa dizer algo. —Se seu pai concordar, eu poderia preparar um jantar aqui, na minha casa. Nós três juntos. Que tal?
Silêncio. Apenas ouço sua respiração do outro lado da linha. Finalmente responde com a mesma lentidão:
—Te vejo hoje à noite às oito.
Nada mais. Nem emoção, nem reprovações, nem detalhes. Fico com o telefone grudado na orelha mesmo depois que ele desliga, mas meu coração bate forte e ansioso, como para pensar demais sobre sua atitude brusca. Talvez ele esteja esgotado, penso, talvez sua mente esteja em mil coisas agora mesmo e é melhor não incomodá-lo. O que importa agora é que em algumas horas poderei estar jantando com o homem mais importante de sua vida.
E quero que tudo seja perfeito.
Mãos à obra. Arrumo o apartamento até que cada canto brilhe, coloco velas e preparo um menu que me deixa orgulhosa. Cozinho como se cada prato fosse uma declaração de amor, imaginando os sorrisos que verei depois, a aprovação do pai de Stefan, o brilho nos olhos do meu namorado ao se sentir orgulhoso.
Quando me arrumo, escolho com cuidado um vestido elegante, mas sóbrio, na cor champanhe. Nada justo, coberto até abaixo dos joelhos e com mangas compridas. Stefan gosta que eu use esse tipo de roupa. A maquiagem coloco na medida certa e o cabelo mantenho preso de forma bem simples. Quero que minha primeira impressão fale de respeito, de calor e de amor.
O relógio marca oito e cinco quando ouço a porta se abrir. É Stefan. Leva a chave que lhe dei meses atrás e entra sem anunciar, como sempre faz. Saio do meu quarto e o coração dá um salto.
—Olá, amor— Aproximo-me dele e, como de costume, tento beijá-lo.
Mas ele vira o rosto e o evita.
Fico paralisada, com o beijo suspenso no ar. Meu olhar se desloca para a porta, esperando ver mais alguém atrás dele.
—Onde está seu pai?— Pergunto, sorrindo ainda.
Stefan me olha sem expressão.
—Ele não virá.
Sinto que algo se quebra no meu peito.
—Como assim ele não virá? Por quê?
Ele respira fundo, pesado.
—Porque não… e eu também não vou ficar.
Fico franzindo a testa, confusa. Olho a mesa impecável, os pratos quentes, as velas acesas. Tudo se torna irreal para mim.
—Não entendo— Sussurro. —O que você quer dizer? É sexta-feira, você sempre fica no fim de semana.
Stefan passa uma mão pelo cabelo e me crava os olhos com frieza. —Vim por duas coisas. A primeira é que amanhã alguém passará para pegar as coisas que tenho neste lugar e a segunda…— Para por um segundo, e nesse instante sinto que me falta o ar. —É para te dizer que não quero continuar mais com este relacionamento. Não quero mais ficar com você.
Fico gelada, incapaz de reagir. O ruído das velas crepitando na mesa é a única coisa que me lembra que o mundo continua girando.
—O quê?— A palavra se quebra na minha garganta. —Você está… terminando comigo?
Ele assente, sem piscar.
A raiva sobe como fogo.
—Me diga por quê! Eu mereço uma explicação, Stefan!
Seus lábios se curvam em uma careta amarga.
—Cansei de você— É a única coisa que se limita a dizer.
Sem um carinho, sem um beijo, sem um único olhar de arrependimento, ele dá a volta e vai embora, me deixando sozinha, de pé, em frente a uma mesa que agora parece um monumento cruel às minhas ilusões.
E eu desabo em silêncio, certa de que tudo o que acreditava estável acaba de desmoronar em um abrir e fechar de olhos.
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Atualizado até capítulo 74
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