Cap.4

O voo de Alex foi curto, mas cada minuto no ar parecia uma eternidade. Ele passou a maior parte do tempo olhando pela janela do avião, o rosto encostado no vidro frio, tentando ignorar a realidade de que estava sendo exilado de sua vida em Busan. Quando pousou, uma van já o aguardava para levá-lo ao novo condomínio. Seus pais, sempre eficientes, haviam providenciado tudo: o apartamento, o transporte e até o envio de seu conversível, que chegaria em breve. Alex, no entanto, não conseguia sentir gratidão. Tudo o que sentia era um vazio misturado com raiva e uma pitada de medo do desconhecido.

Ao chegar ao condomínio, foi recebido com uma cortesia quase exagerada. O corretor, um homem de meia-idade com um sorriso ensaiado, o acompanhou até o último andar, onde sua nova casa — uma penthouse ampla, com janelas do chão ao teto e uma vista que parecia engolir a cidade — o aguardava. O lugar era impressionante, até para os padrões de Alex, que estava acostumado com luxo. Móveis modernos, uma cozinha que parecia nunca ter sido usada e um quarto principal com uma cama que poderia abrigar uma festa inteira. Ele quase sorriu ao ver o espaço, mas o peso de sua situação o impedia de sentir qualquer entusiasmo.

— Bem-vindo à sua nova casa, senhor Lee — disse o corretor, entregando as chaves com um floreio. — Espero que se sinta à vontade.

Alex apenas assentiu, murmurando um — Valeu — enquanto seus olhos vagavam pelo apartamento. Ele jogou a mala no canto do quarto e se deixou cair no sofá, ainda tentando processar tudo. No grupo do condomínio, uma mensagem foi enviada para todos os moradores, anunciando a chegada do novo vizinho. Do outro lado do corredor, Elliott viu a notificação piscar em seu celular, mas não deu importância. Ele estava decidido a passar o dia em casa, longe do trabalho e, principalmente, das memórias dolorosas do jantar de família. Pegou uma revista de moda, preparou um prato de bibimbap caseiro e se encolheu no sofá, alternando entre a leitura e episódios de um drama que ele fingia assistir. Cada página virada, cada cena na tela, era uma tentativa de bloquear as palavras cruéis de sua família. Ele não queria mais se machucar.

Para Alex, o apartamento luxuoso era uma gaiola dourada. Ele ligou para seu omma por videochamada, o rosto ainda carregado de ressentimento. — Omma, por favor, isso é ridículo — implorou, deixando o drama escorrer pela voz. — Eu juro que vou me comportar, me deixa voltar!

Do outro lado da tela, Soo-jin o encarou com uma expressão que misturava cansaço e determinação. — Alex, já conversamos sobre isso. Você tem dois cartões, um de crédito e outro de débito, ambos ilimitados. Gaste como quiser, mas comporte-se. Não me decepcione.

A chamada terminou com um clique, e Alex jogou o celular no sofá, a ficha finalmente caindo. Não havia volta. Ele estava preso ali, longe de seus amigos, de suas festas, de tudo o que fazia sua vida valer a pena. Ele passou o fim de semana trancado no apartamento, sem energia para explorar ou conhecer a cidade. A única coisa que fez foi abrir uma garrafa de soju que encontrou na dispensa e assistir a vídeos antigos no celular, tentando se convencer de que aquilo era temporário.

Enquanto isso, Elliott também não saiu de casa. Ele viu os stories de sua família em uma viagem à praia, rindo e posando para fotos como se ele nunca tivesse existido. Por um momento, o vazio apertou seu peito, mas ele respirou fundo e agradeceu por não ter sido convidado. Pelo menos, longe deles, ele não seria humilhado. O fim de semana passou em um silêncio reconfortante, mas solitário, com Elliott se agarrando à rotina de pequenas coisas — um chá quente, uma revista nova, o som da televisão preenchendo o vazio.

A segunda-feira chegou como um lembrete cruel de que a vida seguia, quer eles quisessem ou não. Elliott acordou cedo, o corpo funcionando no piloto automático. Ele se arrumou com a precisão de sempre, escolhendo uma bolsa qualquer, jogando dentro seu celular, chaves e alguns documentos. Antes de sair, olhou-se no espelho, ajustando a postura. Era hora de voltar ao trabalho, ao único lugar onde ele ainda sentia que tinha controle. Ele caminhou até o elevador, apertando o botão com um suspiro cansado.

No apartamento do outro lado do corredor, Alex também estava de pé cedo. Apesar de sua fama de festeiro, ele era surpreendentemente responsável com os estudos. Gostava de manter as coisas organizadas, dividindo sua vida entre a bagunça das noites e a disciplina das aulas. Naquela manhã, ele precisava se matricular em uma nova faculdade, e não havia tempo a perder. Vestiu uma camiseta preta, jeans rasgados e pegou as chaves do carro que finalmente havia chegado. Ele saiu do apartamento com pressa, mas, ao tentar entrar no elevador, viu as portas se fechando lentamente. Elliott estava lá dentro, de cabeça baixa, perdido em seus pensamentos.

— Droga — murmurou Alex, batendo o pé no chão enquanto esperava o próximo elevador. Ele não tinha visto quem estava lá dentro, e Elliott, por sua vez, nem notou a figura do outro lado do corredor.

No estacionamento, Elliott entrou em seu carro e partiu, os pneus rangendo levemente contra o piso. Dois minutos depois, Alex chegou ao mesmo estacionamento, jogando-se no assento do seu conversível com um suspiro frustrado. Ele ligou o motor e saiu, sem saber que o homem que acabara de perder o elevador para era seu vizinho de porta — e muito menos que aquele pequeno desencontro era apenas o primeiro de muitos momentos que o destino estava prestes a entrelaçar.

Roupa de Elliott

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