Ou… não era ele?
Meu deus, eu esperava que não fosse, ou ia morrer ali mesmo.
“Eu… eu sinto muito” sussurrei.
Me afastei para cobrir os seios e tirá-los do rosto dele, mas a alça arrebentada do meu biquíni ficou presa na jaqueta dele. Isso me fez praticamente cair de novo contra seu rosto, esfregando meus seios na sua cara mais uma vez.
Droga.
Desesperada, puxei a jaqueta dele, arrancando um botão. Olhei para ele no exato momento em que ele ergueu o olhar para mim.
Seus olhos azuis, tão claros que chegavam a puxar para o cinza, me atravessaram completamente. O cenho franzido, o rosto frio… tudo nele mostrava que nada daquilo estava sendo engraçado para ele.
Tudo isso aconteceu em questão de segundos, mas para mim pareceu uma eternidade.
Engoli em seco, sentindo meu rosto ficar completamente vermelho. Dei passos desajeitados para trás, me cobrindo, saindo daquele transe. Só então percebi todas as pessoas ao redor falando, tirando fotos e rindo de mim. Foi quando me virei e comecei a correr de salto alto até desaparecer nos bastidores.
Droga, droga, droga!
Eu tentava recuperar o fôlego, com o rosto ainda mais quente a cada vez que a cena voltava à minha cabeça.
Eu precisava entrar numa piscina e me afogar agora mesmo… ou me jogar de uma ponte… ou esperar um caminhão me atropelar.
Esse dia não podia piorar.
“Você tá bem?” perguntou Richard quando me viu procurando minha roupa.
Vesti o vestido preto com o qual tinha chegado e meus tênis. Peguei minhas coisas e joguei o maldito biquíni no peito dele, sentindo que se me cortassem eu não sentiria nada, de tanta raiva que eu estava.
“O que a sua loja faz é lixo!” soltei, furiosa. “Nunca mais volto aqui!”
Arranquei a máscara do rosto e a joguei no chão, saindo pela porta dos fundos direto para a rua.
Pelo menos eu esperava que aquela máscara tivesse escondido minha identidade, para que ninguém me reconhecesse.
Que vergonha!
Andei rápido pela calçada para tentar parar o primeiro táxi que passasse, mas ouvi uma buzina. Quando olhei, vi que era o carro da minha mãe.
Ela não estava trabalhando?
Franzi a testa quando vi o carro encostar e o vidro descer, revelando que realmente era ela. E, no banco do passageiro, estava…
Kevin.
Meu namorado Kevin.
O traidor Kevin.
Depois de tanto tempo sem vê-lo, depois daquelas fotos com outra mulher, ele aparecia no carro com a minha mãe?
Os dois estavam com expressões tensas. Será que tinham visto o desastre no desfile? Será que também tinham recebido as fotos?
“O que vocês estão fazendo aqui?” perguntei.
“Entra” disse minha mãe.
Obedeci, sentando no banco de trás. Ela arrancou com o carro. “ Eu estava te ligando, mas você não atendia.”
Peguei o celular com as mãos trêmulas de dentro da bolsa. Realmente havia várias chamadas perdidas.
“O que aconteceu?” olhei para ele que permanecia imóvel no banco da frente. “Kevin?”
Ele mantinha os olhos fixos à frente, sem falar nada, quase sem piscar, e estava pálido.
Ele nem ia me dar uma explicação?
“A gente conversa em casa” disse minha mãe.
Eu não entendia o que estava acontecendo… esse dia só parecia piorar.
Quando chegamos em casa e entramos, a primeira coisa que vi foi minha irmã, Patricia, sentada no sofá.
Ela vestia um suéter azul e tinha os olhos inchados de tanto chorar. Franzi o cenho, fazia tempo que eu não a via desde que ela tinha ido para a Universidade de Harvard. Ela estava apenas no primeiro ano, o que significava que nem estava de férias… então, o que estava fazendo aqui?
Meu pai estava na cozinha, com a expressão fechada.
“Isso tem a ver com as fotos?” perguntei, tentando encaixar as peças na minha cabeça, mas nada fazia sentido.
“Queriam me chantagear” explicou Kevin, finalmente, sem me encarar. “Mas eu não tinha dinheiro… então mandaram para toda a sua família.”
Franzi o cenho.
Será que todos estavam assim porque meu namorado tinha me traído?
“Mas não entendo… por que você trouxe o Kevin, se ele me traiu?” perguntei para minha mãe, e depois olhei para ele. “Acho que isso é algo entre ele e eu.”
Eu precisava de explicações agora.
Minha mãe bufou sem humor e disse:
“Você não reconheceu o rosto da sua irmã?”
O rosto da minha…?
Olhei para Patricia de novo, e só então percebi que o cabelo descolorido dela tinha perdido o verde vibrante e estava num tom mais amarelado.
Então, era… ela?
Parei de respirar. Era como se o chão tivesse se aberto e eu estivesse caindo sem controle. Eu tinha estado tão focada olhando para o Kevin nas fotos que nem tinha identificado a outra pessoa. Eu nem sabia que minha irmã tinha tatuagens.
“Você ficou com a minha irmã?” murmurei, quase sem voz, olhando para Kevin.
Ele finalmente me encarou. Aqueles olhos claros que tantas vezes me olharam com carinho agora pareciam diferentes… e cheios de culpa.
“Eu não planejei” murmurou ele.
Dei um passo na direção dele.
“De todas as mulheres, por que a minha irmã mais nova? Ela só tem 19 anos!”
“Eu não sou uma criança” retrucou Patricia, do sofá. Apesar de ter chorado, sua voz mostrava raiva e frustração.
Nós nunca fomos as irmãs mais unidas do mundo, mas também não nos odiávamos… pelo menos não que eu soubesse.
“Como você pôde fazer isso comigo!?” perguntei, encarando Patricia.
“Me desculpa” respondeu Kevin. “Só… aconteceu, e…”
“Só aconteceu?” interrompi, olhando para ele. “Quer dizer que, acidentalmente, o seu pênis entrou na vagina dela não uma, mas várias vezes?”
Ele ficou em silêncio e desviou o olhar.
“Quanto tempo?” exigi saber.
“O suficiente para que agora estejam esperando um bebê de quatro meses” soltou minha mãe, com os braços cruzados. Pelo visto, essa bomba já tinha explodido para todos… menos para mim.
“Um bebê… de quatro meses?” repeti, quase sem voz, enquanto meus olhos iam para a barriga dela.
Levei a mão ao peito, sentindo meu coração despedaçado. Eu não conseguia respirar.
Além de ter ficado com ela, eles nem sequer usaram camisinha.
Eu precisava sair dali.
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Atualizado até capítulo 43
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