Capítulo quatro
Confesso que fiquei um pouco mexida com aquele confronto silencioso que tive com o Gustavo alguns minutos atrás. Depois de ficar me encarando fixamente, como se soubesse todos os meus pecados, ele passou por mim com total indiferença e se sentou no sofá da sala.
Eu e Luigi nos juntamos a ele depois de um tempo. Era estranho estar junto deles novamente, esses garotos marcaram minha infância, mesmo morando longe.
Estávamos os três sentados no sofá, como nos velhos tempos. O clima não estava dos melhores, o silêncio era constrangedor, mas Luigi muda isso me perguntando algo
Luigi
Então, Angelina. O que está achando do ensino médio?
Olhei para ele e demorei um pouco para responder, mas disse
Angelina
Ah...estou gostando, só é um pouco diferente.
Luigi
Realmente, mas logo se acostuma.
Conversamos um pouco sobre a escola e faculdades, mas Gustavo nunca dizia nada na conversa. Apenas me olhava fixamente, me fuzilando com o olhar. Às vezes até mesmo me distraindo da conversa, era impossível não olhá-lo. Ele sempre me chamou atenção, desde criança.
Aquela expressão sombria, os olhos gelados, o quanto ele me intimidava. Todos falavam que ele era assustador, egocêntrico e agressivo, mas pra mim...ele era divino. Mas para minha infelicidade, ele nunca prestou atenção em mim, sempre me tratou com indiferença, e em todas as nossas interações, foi ríspido e grosso.
Eu era sempre ignorada. Como ainda não tinha conversado com ele, resolvi tentar puxar assunto, mesmo sabendo que as chances de ser ignorada ou humilhada eram altas.
Angelina
É...como vão as coisas, Gustavo?
Angelina
Você parece mais quieto.
Senti seus olhos semicerrarem e sua expressão se escureceu ainda mais. Ele ficou me encarando daquele jeito que fazia quando éramos crianças e eu percebia algo que ele estava tentando esconder.
A sala parecia cada vez menor a medida que os segundos passavam e ele não respondia a minha pergunta, apenas me esganando com o olhar. E então disse.
Gustavo
Você não tem noção do que aconteceu nesses três anos.
Gustavo
E não me trate como se me conhecesse.
Ele disse me olhando com raiva, então se levantou com tudo e saiu da sala, tenso. Abri a boca para me desculpar, mas ele já havia sumido em meio ao corredor escuro. Ia me levantar para ir atrás dele, mas Luigi me interrompeu, segurando meu braço.
Luigi
Não, não perde seu tempo com ele.
Angelina
Mas...eu ofendi ele, Luigi.
Respondi ainda olhando para o corredor pra onde ele foi
Luigi
Não ofendeu, ele é assim mesmo.
Parei e olhei para ele, sem entender do que ele estava falando
Disse ele com um brilho de desdém no olhar.
Luigi
Já foi muito magoado, então magoa sem dó.
Luigi
Mas até hoje ninguém sabe o que aconteceu, ele não se abre com ninguém.
Ele sempre foi retraído e difícil de lidar, o garoto problema.
Esther, Luciana e Elizabeth estavam conversando no balcão da cozinha. Esther estava com os cotovelos apoiados sob o balcão e a cabeça entre as mãos.
Esther
Eu já não sei mais o que fazer!
Esther
Ele é terrível, mal fala e quando abre a boca só saem palavras rispidas, ameaças e coisas cruéis. Nem parece ter 10 anos.
A mãe desabafa desesperada e preocupada com o menino.
Luciana
The calma, Esther.
Luciana
Vai ver ele está passando por um momento difícil.
Elizabeth
Ele está crescendo, pode ser coisa da idade.
Esther
Mas isso é desde os três anos!..
Esther
As professoras sempre reclamam, ele é agressivo e retraído, não deixa nenhuma criança se aproximar
Esther
E quando tentam, ele entra na defensiva, se irrita muito rápido
Esther
Já não sei o que tem de errado com ele..
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