Renascida Entre Colheitas
Sinal
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A manhã chegou silenciosa, o céu branco de neve prestes a cair. A mãe estava ocupada varrendo a cozinha e Tomás já tinha saído para buscar água no poço.
Helena, sozinha no berço, notou algo diferente.
Entre as dobras ásperas do cobertor de lã, havia um brilho suave, quase invisível sob a luz fraca. Com esforço, ela conseguiu puxar o pano com as mãozinhas pequenas até revelar um objeto: uma pequena medalha prateada, fria ao toque, com um símbolo gravado — um círculo envolvendo uma estrela de oito pontas.
O mais estranho é que ela sabia exatamente o que era.
Lembranças que não pertenciam a nenhuma das suas vidas começaram a surgir: imagens de um templo dourado, uma figura feminina com olhos como o céu ao amanhecer, e uma voz ecoando: “Você não veio por acaso. E quando o momento chegar, saberá usar o presente que lhe dei.”
Helena
Helena sentiu um arrepio. Aquilo não era um sonho.
A criatura de olhos dourados realmente esteve ali.
Helena
Ela fechou a mãozinha sobre a medalha, tentando escondê-la. Algo dentro dela dizia que nem a mãe nem o irmão deviam saber disso. Ainda.
E, enquanto o vento do inverno assobiava lá fora, Helena percebeu que não era apenas uma bebê renascida… era alguém marcada por uma deusa.
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Quando Tomás voltou, trazendo um balde de água gelada que quase transbordava, ele se aproximou do berço.
Pequeno Tomás
— Dormiu bem, Lena? — perguntou, inclinando-se para brincar com os dedos dela.
Por instinto, Helena fechou a mãozinha sobre a medalha. Ele não parecia notar nada, então ela abriu a palma, curiosa para ver a reação dele.
O olhar de Tomás não mudou. Era como se estivesse vendo apenas a mão vazia de uma bebê.
Pequeno Tomás
— Você está estranha hoje — murmurou ele, ajeitando o cobertor. — Deve estar com frio.
Quando a mãe veio, o mesmo aconteceu. Ela tirou Helena do berço para amamentar, mas seus olhos não registraram o brilho prateado que Helena sentia pesar levemente na palma da mão.
Foi nesse momento que ela entendeu: apenas ela podia ver a medalha.
Ou, mais precisamente… apenas quem tivesse a bênção da deusa poderia.
Isso explicava por que a criatura tinha dito que ela deveria “permanecer oculta”. Se alguém suspeitasse do que carregava, talvez a paz daquela pequena casa fosse destruída.
Segurando o objeto invisível para o mundo, Helena decidiu uma coisa:
Até que pudesse andar e falar, essa seria a sua arma mais bem guardada.
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