**Capítulo 3 – Irmã, amiga, esquecida (Nina)**
Desde pequena, aprendi que o abandono dói mais do que qualquer tapa.
Minha mãe me deixou no portão da casa da Márcia com o cordão umbilical ainda sangrando. Nem nome me deu. Foi minha tia que me batizou de Catarina. Mas ninguém me chama assim. No morro, sou só Nina.
Márcia era a única pessoa que realmente se importava comigo. Mesmo com pouco, ela dava tudo. A gente dividia o pão, o cobertor, e o medo de morrer a qualquer instante naquele lugar tomado pelo tráfico, pelo som das rajadas à noite, e pelo silêncio pesado da manhã seguinte.
Crescer ali não foi fácil. Ainda mais sendo a menina sem mãe, filha de ninguém.
Mas aos doze anos, minha vida mudou.
Foi quando conheci Weslei.
O moleque era a sombra de Gustavo, o dono do morro. Mandava e desmandava com aquela cara de malandro precoce. Só que quando olhou pra mim pela primeira vez, não teve deboche, nem desprezo. Teve... curiosidade.
— E aí, novinha. Mora aqui?
Respondi com o que eu sabia fazer melhor: mostrando o dedo do meio.
Ele riu.
— Gostei de tu.
Daquele dia em diante, ele passou a me seguir. Eu xingava, batia, empurrava, e ele ria. Me chamava de encrenca. E de tanto brigar, viramos melhores amigos. Quase irmãos.
Mas eu nunca quis ser irmã dele.
No começo era leve. Eu ria das besteiras dele, das rimas improvisadas que fazia, dos planos de dominar o morro.
Mas com o tempo, fui sentindo outra coisa. Um calor no peito. Uma saudade mesmo quando ele estava por perto.
Era amor. Só que eu nunca disse nada.
Porque logo apareceu **Letícia**.
Ela era tudo que eu não era. Magra, ousada, bonita de um jeito que chamava atenção até no escuro.
E ele... claro, ele se encantou.
No meu aniversário de 14 anos, eu me arrumei com cuidado. Vestido azul, cabelo preso, perfume da tia.
Sonhei com um beijo. Com uma palavra diferente. Um olhar.
Mas ele me puxou pra um canto, sorriu com os olhos brilhando e disse:
— Tu é minha irmãzinha. Eu vou te proteger pra sempre.
Eu sorri. Mas por dentro, eu morri.
Pra piorar, ele ainda completou:
— Tô a fim da Letícia. Acho que gosto dela de verdade.
Eu engoli seco. E a partir dali, comecei a me treinar pra sofrer calada. Porque o meu papel era esse: ser a irmã, a amiga, a ouvinte. A mulher invisível.
Aos 17, ele e Letícia já estavam juntos.
Ela era a futura dama do morro, e eu... só a amiga gorda, que ninguém via.
Henrique, o outro do quarteto, sempre ficava de bobeira pra cima de mim. Me chamava de “doce de leite”. Mas eu sabia que era zoeira.
GV me implicava direto, mas era só jeito dele. Não era mal.
Então veio meu aniversário de 18 anos.
Preparei um bolinho simples. Convidei os três.
A gente se reuniu, riu, zoou. GV brigou comigo como sempre, Henrique ficou rindo das nossas provocações, e Weslei… não tirava a mão de Letícia.
No fim da festa, subi pra chamar os dois que tinham ido “beber algo” lá em cima.
Abri a porta. E vi.
Os dois. Nus. Transando.
Ela montada nele, rindo alto.
Ele agarrando a cintura dela como se fosse o bem mais precioso.
Fechei a porta sem fazer barulho. E ali, decidi: eu não podia mais viver na sombra.
Fui embora do morro uma semana depois.
Disse pra Márcia que precisava estudar. Que tinha uma chance em São Paulo. Mentira. Eu só queria desaparecer.
E desapareci.
Mas o tempo… ah, o tempo faz justiça.
Anos depois, voltei por causa da minha tia.
E descobri que Letícia tinha traído Weslei, o entregado, e ainda sumido com dinheiro.
Ele ficou preso. Sem ninguém.
Sem mim.
E agora, ele não consegue me olhar sem ódio.
Porque no fundo, ele sabe: eu fui a única que realmente o amou.
E fui embora.
Porque ele me quebrou primeiro.
Mas eu voltei.
E dessa vez, não sou mais a mesma menina que chorava escondido.
Sou mulher.
Sou dor e aço.
Sou a porra da Naja do Alemão.
E vou mostrar pra ele que agora… quem escolhe sou eu.
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Atualizado até capítulo 26
Comments
Ana Barbosa
pp só 12 capítulos história boa porque não escrevem tudo de uma vez
2025-08-09
1
Maria Daniele Alves
gostei,mostra a mulher q vc se tornou Nina, amando autora
2025-08-08
2
Leitora compulsiva
só que por ironia do destino,teve que pagar uma dívida da pior maneira
2025-08-08
1