A corda era um nó de humilhação e dor. As fibras ásperas se cravaram em seus pulsos e tornozelos, e o aperto parecia sugar não apenas a circulação de suas mãos, mas também a sua última gota de liberdade. Rafaely se contorcia, puxava, lutava com cada fibra de seu ser, mas as amarras eram implacáveis. As feridas em sua pele, já secas e irritadas, eram uma lembrança constante da sua impotência. Seus músculos gritavam de exaustão, e a dor era uma presença constante, que sussurrava que sua luta era fútil. Em sua mente, o rosto de Marcel se repetia como uma imagem demoníaca: o sorriso cruel, os olhos frios, a promessa de que ela seria "domada". A raiva era o que a mantinha acordada, sua única fonte de energia contra o cansaço que a ameaçava engolir.
O tempo se tornou um conceito perdido. A luz que entrava pela janela pequena da cabana parecia a única maneira de medir as horas, mas ela não sabia se era a manhã, a tarde ou o crepúsculo. A fome era uma presença aguda, um buraco negro em seu estômago que parecia sugar toda a sua força. A sede era ainda pior, a garganta seca, as pálpebras pesadas. O medo era um companheiro silencioso, que se sentava ao lado dela na cadeira, sussurrando sobre o que Marcel faria, sobre o seu futuro incerto. Sua mente, antes um espaço de cores e criatividade, agora era um campo de batalha, onde a esperança e o desespero lutavam por cada centímetro.
"Não", ela sussurrava para si mesma, com a voz rouca e baixa. "Não vou desistir. Não vou me quebrar." Mas a sua boca estava tão seca que as palavras mal saíam. Ela tentou se concentrar em seu corpo, em seu coração que ainda batia com teimosia. Ela se lembrava do sol em seu rosto, da sensação da grama sob seus pés, do cheiro da liberdade. Essas memórias eram a sua última fortaleza, a sua última defesa contra o homem que queria roubá-las dela. Ela puxou as cordas mais uma vez, um grito silencioso de frustração escapando de seus lábios rachados. A dor a fez fechar os olhos. O mundo se tornou preto, e ela se rendeu, não ao seu captor, mas à exaustão física que seu corpo não podia mais suportar. A escuridão a engoliu, e o peso da derrota foi um alívio temporário.
A escuridão foi a sua única companhia por um tempo indefinido. A inconsciência foi um bálsamo temporário, uma fuga da dor e da realidade. Quando ela acordou, a primeira coisa que sentiu foi a estranheza. A madeira fria da cadeira tinha sido substituída por algo macio, e o chão duro, por algo ainda mais suave. Um cheiro de flores e sabonete caro, que era a antítese do cheiro de madeira e de poeira que impregnava a cabana. Ela abriu os olhos, com a mente ainda embaçada pelo sono e pelo cansaço.
O susto foi tão grande que ela quase se esqueceu da dor em seus pulsos. Ela não estava mais na cabana. Estava em um quarto. Não, aquilo era algo mais pessoal, mais imponente. O teto era alto, com um lustre de cristal que refletia a luz suave de uma luminária de cabeceira. As paredes eram cobertas com um papel de parede de seda em um tom suave de azul marinho, e uma cama enorme, com uma cabeceira entalhada em madeira escura, dominava o centro do cômodo. As colchas eram de um tecido macio e luxuoso, e uma poltrona de veludo verde, ao lado de uma mesa com um vaso de flores frescas, completava o cenário. O ambiente era um contraste gritante com a sua condição. Ela ainda estava amarrada.
O choque foi tão grande que Rafaely ficou paralisada por um instante. O tempo tinha passado, mas quanto? Horas? Dias? Como ela tinha chegado ali? A sua última lembrança era a dor e a escuridão. Ela sentiu uma pontada de pânico, e a fúria que a mantinha viva voltou com toda a força. Ela olhou para os seus pulsos, e a corda ainda estava lá. O terror se instalou em seu coração. Mesmo em um cenário de luxo, ela era uma prisioneira.
"Ele me moveu", ela pensou, sentindo uma onda de nojo. "Ele me tocou. Enquanto eu estava... inconsciente."
O pensamento fez sua pele se arrepiar de repulsa. Ele havia se aproveitado de sua fraqueza, de seu estado de inconsciência, para levá-la a um novo cenário de cativeiro. O controle dele era tão absoluto que ele podia movê-la de um lugar para outro, como se ela fosse uma peça de xadrez em seu tabuleiro de jogo perverso. Ela tentou se sentar, mas a corda ainda a mantinha presa à poltrona de veludo. A luta para se sentar era difícil, e ela se sentiu ainda mais fraca do que antes. A fome e a sede a estavam matando aos poucos.
O que ele queria? Qual era o propósito de todo esse luxo? Seria uma cela de ouro? Ele queria que ela se sentisse grata por ter um teto sobre a cabeça e um lugar macio para dormir, em troca de sua liberdade? A ideia a fez revirar o estômago. O luxo não a enganava. O ouro era apenas uma gaiola mais elaborada. A beleza daquele quarto era uma ironia cruel, um contraste grotesco com a sua alma aprisionada.
O som de uma chave na fechadura a fez prender a respiração. A porta do quarto se abriu, e um homem entrou. Não era Marcel. Era um homem alto, vestido com um terno preto, mas com uma expressão séria e profissional no rosto. Ele carregava uma bandeja com um prato de comida e um copo de água, e seus olhos mal olharam para Rafaely. Ele parecia um servo, um lacaio, mas o silêncio com que ele agia era assustador. Ele colocou a bandeja na mesa, olhou para ela por um instante, e então, sem dizer uma palavra, saiu do quarto, fechando a porta atrás de si com o mesmo som de chave.
Rafaely ficou olhando para a bandeja. O cheiro da comida era delicioso, mas ela não conseguia comer. A sua mente, antes um espaço de cores, agora estava cheia de perguntas e de um medo que ela nunca havia sentido antes. A sua vida, que antes era uma tela em branco, agora parecia ter sido pintada com a cor da obsessão e do perigo. Ela estava presa, mas a luta não havia terminado. A sua mente, a sua alma, ainda eram dela, e ela não permitiria que Marcel roubasse a sua última essência de liberdade.
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Atualizado até capítulo 34
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