Capítulo 5 – Um Espaço para Respirar
A campainha tocou pela segunda vez antes que Mariana conseguisse tomar coragem de abrir a porta.
Ela respirou fundo, ajeitou a alça do vestido no ombro e girou a maçaneta.
Gabriel estava ali, parado, elegante como sempre, com a camisa branca dobrada nos antebraços e o blazer pendurado no braço. Seus olhos percorreram lentamente o corpo dela, do cabelo preso com leveza até os pés descalços sobre o tapete da entrada.
— Uau… — ele soltou. — Você está… linda, Mariana.
Ela corou.
— Obrigada. Achei que poderíamos jantar. Preparei algo simples…
Ele entrou, observando tudo ao redor. A mesa posta com carinho, as velas acesas, o aroma suave da massa com molho de ervas. O ambiente estava acolhedor. Quente, mesmo com o vento da noite que soprava da varanda.
— Você fez isso tudo?
— Achei que… bom, já que você vinha…
— Foi a melhor recepção que já tive — ele disse com sinceridade.
Eles sentaram à mesa. Por alguns minutos, o som dos talheres e das taças preenchia o silêncio. Até que Gabriel puxou assunto.
— Os exames saíram hoje. Tudo certo com você. Saudável, fértil. Como eu já imaginava.
— Que bom — disse ela, tomando um gole de vinho.
— Mas… — ele a olhou — antes de qualquer coisa, queria que a gente se conhecesse um pouco melhor. Não como… partes de um contrato, mas como duas pessoas que estão prestes a viver algo, no mínimo, intenso.
Ela assentiu, surpresa com a sensibilidade dele.
— Quer saber o quê?
— Tudo que você quiser contar. Mas… acho justo começar. — Ele sorriu de canto, repousando o copo sobre a mesa. — Eu cresci aqui mesmo, no Rio. Meus pais sempre foram simples, trabalhadores. Meu avô é um caso à parte, rabugento, exigente. Mas no fundo, é um homem bom. Eu e Gustavo fundamos a empresa juntos. Começamos com quase nada. Dormimos no chão do primeiro galpão que alugamos… Agora é a maior montadora do país. Ainda parece surreal às vezes.
— Uau… — Mariana murmurou. — E mesmo com tudo isso… você quer ser pai.
— Sempre quis. Talvez porque sempre admirei muito meus pais. Mas não encontrei alguém com quem construir isso… E confesso que me frustrei tentando. Então decidi fazer do meu jeito.
Ela não respondeu. Só o olhava com atenção, e ele a olhava também. Até que, com um gesto lento, tocou o ombro dela, suave. Os dedos afastaram uma mecha do cabelo dela e ele a prendeu atrás da orelha.
— Tem algo em você, Mariana… — disse em voz baixa. — Algo diferente. E é bom. Eu gosto disso.
Ela sorriu, tímida. E ele devolveu o sorriso.
Mas, no fundo, ela ainda estava tensa. Os olhos baixavam de tempos em tempos, o corpo parecia não conseguir relaxar totalmente.
Ele percebeu.
— Ei… — disse com gentileza. — Hoje não vamos fazer nada. Essa noite é só pra gente conversar, se conhecer, respirar um pouco.
Ela o olhou com um misto de alívio e surpresa.
— De verdade?
— De verdade. — Ele se recostou na cadeira. — E mais: você vai voltar pra faculdade. Amanhã vamos resolver essa pendência. Você vai se formar. E vai ter tudo que merece ter.
Os olhos dela se encheram de lágrimas, mas ela disfarçou rapidamente com um sorriso grato.
— Obrigada, Gabriel… você não sabe o quanto isso significa pra mim.
—
A noite esfriou devagar, o vento se tornou mais constante. Gabriel fechou a varanda e convidou Mariana a ver um filme na sala.
— Pode escolher o gênero — ele disse, enquanto ela buscava os cobertores no armário.
— Que tal comédia romântica?
— Justo — ele riu. — Mas se eu chorar, você finge que não viu.
—
Fizeram um “ninho” no chão da sala, com almofadas e mantas espalhadas. O sofá virou cenário. A televisão iluminava o ambiente com cores suaves, e o filme seguia sem que nenhum dos dois prestasse muita atenção.
Com o tempo, Mariana se acomodou mais perto, e ele puxou uma das mantas sobre os dois. Não houve malícia. Só o cansaço dos corpos, a paz do momento, o silêncio seguro de uma noite sem pressa.
Antes que o filme terminasse, Gabriel adormeceu com o braço debaixo da cabeça. Mariana o seguiu pouco depois, ali mesmo, enrolada no cobertor.
Dois corpos que haviam se encontrado pelo acaso.
Duas almas que ainda não sabiam o que o destino lhes preparava.
Mas naquela noite… o mundo parecia ter parado.
E, pela primeira vez, ela sonhou em paz.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Marise Teresinha
Estou amando está história
2025-08-01
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