Capítulo 3

Senti-me um pouco deslocada ao entrar, ainda não entendia bem o que estava acontecendo, mas confio em Lina, que parece tão à vontade aqui. Segui-a até o balcão, onde ela, sem hesitar, pediu dois drinks, uma tequila para cada uma.

— Não se preocupe, Marcela — disse com um sorriso confiante, enquanto empurrava o copo em minha direção. — Relaxe e aproveitemos esta noite.

Olhei para o drink com alguma dúvida. Nunca havia provado álcool antes e não estava segura de como ia reagir hoje, mas as palavras de Lina soavam tão convincentes que decidi, ao menos, tentar relaxar. Apesar dos meus esforços, sentia que a atenção aumentava dentro de mim. Não estava acostumada a lugares como este, nem à multidão que me rodeava.

Virei-me e já não vejo Lina, desapareceu sem aviso prévio, procuro-a entre as pessoas e não a vejo, é como se tivesse desvanecido no ar. Fiquei ali, sozinha, olhando ao redor, insegura do que fazer, foi então que vários homens começaram a se aproximar de mim, olhando-me com sorrisos intrigantes, começando a flertar comigo de maneira descarada. Não sabia como reagir, sentindo-me mais incômoda do que já estava enquanto tentava esquivar os olhares e palavras destes homens.

O pânico começou a apoderar-se de mim, e num impulso, dei um passo atrás, disposta a sair correndo deste bar, quando, vejo Lina aparecer de novo, abrindo caminho com uma atitude desafiante. Com um gesto de mão, afastou todos os homens.

— Vão-se embora! — ordenou-lhes, e os homens, perante a sua postura tão decidida, não disseram uma palavra mais e se afastaram, deixando-nos a sós com uma sensação de alívio.

Lina aproximou-se rapidamente de mim, sorrindo com um ar de vitória, e estendeu-me um cartão.

— Toma — disse-me com um tom tranquilo. — Vamos, já não há volta atrás.

Olhei para o cartão com confusão, sem saber o que pensar.

— Para que serve este cartão? — perguntei, enquanto segurava o objeto nas minhas mãos.

Vejo Alina dar-me um olhar travesso e, sem perder a calma, explicou-me.

— Definitivamente vamos nos embriagar. Mamãe nos mataria se chegássemos bêbadas, então aluguei um quarto neste hotel. Voltaremos para casa amanhã, e tudo estará bem.

Ainda desconcertada pela proposta, olhei para minha meia-irmã com desconfiança. Não estou segura do que pensar sobre tudo o que está acontecendo.

Antes que pudesse refutar algo, o cenário se iluminou no meio do bar. As luzes se atenuaram brevemente, e a música pareceu desvanecer-se, dando lugar a vivas e aplausos da multidão. Todos se aglomeravam, emocionados pelo que estava prestes a acontecer.

A multidão ficou louca, gritando e aplaudindo com entusiasmo. Lina, que havia estado observando o cenário com expectativa, levantou a mão e, com um sorriso emocionado, gritou:

— São Camilo e sua esposa!

Eu, por outro lado, não conseguia apartar o olhar deles. O homem, com porte elegante, e a mulher ao seu lado, tão requintada, vestida com uma túnica cerimonial de cor vermelho profundo e adornada com metais preciosos, faziam com que o resto do mundo parecesse opaco em comparação. Os aplausos enchiam o bar, mas logo se apagaram, o murmúrio da multidão converteu-se em sussurros entre algumas garotas que estavam perto de mim.

Com curiosidade aproximei-me um pouco mais delas para escutar melhor o que diziam.

— Camilo é muito bonito — disse a primeira garota, quase num sussurro, olhando fixamente o cenário.

— Sim, é — respondeu a segunda garota, também com uma expressão admirada. — Sua esposa também é bela. Ouvi dizer que é a mulher mais bonita da capital.

— Não duvido — disse com um sorriso cúmplice. — Nasceu há vinte anos, na noite da lua da colheita.

Senti como se o ar me escapasse dos pulmões. Meus olhos se abriram ligeiramente, e meu coração deu um pulo. A lua da colheita. A mesma lua sob a qual eu também havia nascido.

— A lua da colheita? — sussurrei, sentindo como se o mundo de repente se tivesse tornado menor.

A lua da colheita é um fenômeno raro, que só ocorre uma vez por ano. Aquela noite, todas as criaturas da manada, os lobos, sentiam uma conexão mais forte com a lua. Dizia-se que qualquer loba nascida sob a Lua da colheita crescia para ser incrivelmente poderosa, para possuir uma beleza avassaladora e uma força além do comum. Na capital, essas histórias eram lendas, histórias sussurradas entre os anciãos, histórias de mulheres escolhidas pelo universo, destinadas a serem líderes e heroínas.

E agora, Ana... Também havia nascido nessa mesma noite.

Um estremecimento percorreu minha espinha dorsal. A dor no meu peito se fez mais forte, mais pungente. Eu também havia nascido nessa mesma noite, sob a mesma lua cheia e brilhante. Havíamos compartilhado o mesmo destino, mas os caminhos de ambas pareciam ter sido completamente diferentes. Ana havia recebido o que todos sonhavam: uma beleza deslumbrante, uma graça que a fazia destacar-se entre as demais, e agora, a futura esposa de um dos príncipes mais poderosos do reino.

O universo podia ter-se esquecido de dar-me poderes, mas o destino também me havia deixado de lado. Não importava que eu também tivesse nascido sob a mesma lua: a vida de Ana seria sempre muito melhor e mais grandiosa que a minha.

Apartei o olhar do cenário onde o compromisso real seguia seu curso, tentando dissipar o crescimento nó no meu peito. Meu olhar vagueou pela multidão, observando os rostos iluminados por sorrisos de júbilo, reflexos de admiração e satisfação. Todos pareciam desfrutar do evento como se fosse o clima de um conto de fadas. Exceto...

Camilo Moon.

O príncipe estava no centro do palco, de pé junto à sua prometida, Ana. Seu porte imponente e seu rosto impecável faziam-no parecer a encarnação da perfeição. Mas havia algo no seu olhar, algo gelado e distante, que traía essa imagem. Embora os aplausos retumbassem e sua prometida sorrisse deslumbrantemente, Camilo mantinha-se rígido como se nada do que ocorria ao seu redor lhe importasse realmente.

Quando Ana o beijou, o gesto foi recebido com um estouro de entusiasmo por parte dos presentes. No entanto, eu notei o ligeiro endurecimento na mandíbula de Camilo, o frio nos seus olhos que não alcançava dissipar-se. Era como se estivesse cumprindo com um dever, um papel imposto pelas circunstâncias, sem deixar entrever nenhum ativo de emoção verdadeira.

— Muito triste — sussurrou de repente outra voz feminina perto de mim, captando minha atenção.

Girei minha cabeça e vi outras duas jovens conversando em voz baixa, suas expressões revelam que compartilhavam um segredo.

— Triste? — replicou uma delas, uma garota de vestido preto que parecia confusa. — Por que dizes isso?

A primeira garota, uma jovem de cabelo castanho que segurava um leque de renda, sorriu como se estivesse prestes a revelar algo impactante.

— Não sabias? — sussurrou, inclinando-se para sua companheira.

Sem querer, afinei o ouvido, incapaz de ignorar o tom conspiratório na voz da garota.

— Saber o quê? — perguntou a de vestido preto, com evidente curiosidade.

— Ana é a companheira predestinada do segundo príncipe, Leandro — respondeu a primeira, com um tom de mistério que deixou a outra boquiaberta...

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