O celular do Rafe estava sobre a mesa da casa da Mila, encarando todos como uma prova silenciosa.
A frase ainda tremia na mente deles, como se tivesse sido dita em voz alta:
“NEM TODO SEGREDO DESAPARECE COM O TEMPO.”
Assinada apenas com... R.
— Isso não tá certo — disse Evelyn, pela terceira vez naquela noite. Ela andava em círculos pela sala, os braços cruzados, a respiração curta.
— Mas é o celular dele, Eve — insistiu Cassie, sentada no sofá com os braços cruzados e a cara fechada. — A frase tá lá. A pasta tá lá. Ele deixou cair? Esqueceu? Ou queria que a gente visse?
— Pode ter sido alguém que mexeu no celular dele — sugeriu Mila. — Ou… ele pode ter sido ameaçado também.
— Então por que ele não falou nada? — rebateu Jules. — Por que ele sumiu desde aquela discussão no carro?
— Porque vocês apontaram o dedo na cara dele — Evelyn retrucou, com mais dureza do que esperava. — Talvez ele só… tenha se cansado. Talvez ele esteja com medo também.
Cassie bufou.
— Medo? Rafe nunca teve medo de nada. Ele sempre pareceu acima de tudo. Até da Savannah.
O nome dela caiu no ambiente como uma pedra num lago calmo.
Silêncio.
Savannah.
A amiga que não estava mais ali. Que riu com eles na fogueira, tirou fotos com eles na praia, e depois… desapareceu como fumaça.
Jules se levantou.
— Tá. Vamos supor que o Rafe não seja o R. — Ele caminhou até o celular e pegou o aparelho. — Isso aqui é a única pista concreta que a gente tem. O celular dele. A frase. A pasta de notas.
— A gente devia investigar — disse Mila.
— O que exatamente? — perguntou Cassie. — Ele provavelmente deletou tudo que poderia ferrar ele. Ou talvez nem tenha mais nada.
— Eu quero ver a galeria — disse Evelyn.
Cassie a olhou, desconfiada.
— Por quê?
— Porque se ele tem algo a esconder, vai estar lá. Talvez prints de conversas. Talvez uma foto… de quem tá por trás disso tudo.
Mila entregou o celular a Evelyn, que deslizou os dedos pela tela. A galeria estava organizada por datas.
Verão passado. Outono. Inverno. Primavera.
E então…
— Aqui — murmurou ela. — A noite da festa.
As fotos de Rafe apareciam uma após a outra. Algumas com a galera. Outras selfies. Mas então…
— Espera — disse Mila. — Volta nessa.
Era uma foto borrada. Uma escada. Um vulto passando. A qualidade era péssima, mas dava pra ver claramente: Savannah. Subindo as escadas do casarão dos Penhascos, sozinha.
— Isso foi tirado depois da meia-noite — disse Jules, lendo o horário no canto da imagem. — Mas ele não tava com a gente nesse momento.
— Ele a seguiu — disse Cassie. — Ele sabia onde ela foi. Ele só nunca contou.
— Tem mais — murmurou Evelyn, deslizando.
A próxima imagem era ainda pior. Uma parede branca. E algo rabiscado nela.
Uma frase apagada. Com tinta vermelha.
“SE ELA FALAR, VOCÊS VÃO PAGAR.”
Mila prendeu a respiração.
— Isso foi escrito dentro da casa?
— Parece, mas tá tudo apagado, como se alguém tivesse limpado depois — respondeu Evelyn.
— Então o Rafe já sabia disso há um tempo — Jules concluiu. — Ele viu isso. Ele fotografou. E… ele escondeu da gente.
Cassie se levantou e começou a andar, impaciente.
— Ele tava protegendo alguém — disse ela. — Ou se protegendo.
— Mas quem ele estaria protegendo? — perguntou Mila. — Savannah? Ou… o verdadeiro culpado?
—
Mais tarde naquela noite, Evelyn voltou para casa com a cabeça fervendo.
Ela se jogou na cama e encarou o teto do quarto por minutos. O silêncio era sufocante.
O celular vibrou.
Ela pegou o aparelho, esperando uma mensagem de Mila ou Jules.
Mas não era nenhum deles.
Era um número desconhecido.
E a mensagem… gelou sua espinha.
“Curioso como você defende tanto ele, né?”
E abaixo:
“Cuidado pra não ser a próxima a desaparecer.”
— R
O sangue de Evelyn pareceu sumir das veias.
Ela se sentou, os dedos tremendo. Antes que pudesse responder, uma nova mensagem apareceu.
Dessa vez, era uma foto.
Uma captura de tela.
Mostrava ela, Evelyn, conversando com Rafe por mensagem uma semana antes. Eles falavam sobre Savannah. Sobre a dúvida que Evelyn já sentia… mas não tinha contado ao grupo.
“Às vezes eu também acho que a Sav sabia de algo. Algo grande. Que podia acabar com alguém.”
“Mas com quem?” — tinha respondido Rafe.
E a última frase da conversa era dela:
“Talvez... com a gente.”
—
No dia seguinte, Evelyn não disse nada para os outros.
Mas agora, ela também tinha um segredo.
E, como Savannah já sabia…
nem todo segredo desaparece com o tempo.
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Atualizado até capítulo 37
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