Recomeço

Angelina narrando — Um ano depois

Milão.

Nunca imaginei que conseguiria recomeçar em uma cidade tão grande, tão cheia de possibilidades… e de lembranças. Mas aqui estou. Um ano depois. Viva. E, talvez pela primeira vez, quase inteira.

Abandonei Bellagio como quem foge de um incêndio. Deixei pra trás o peso da minha família, os olhares julgadores, os fantasmas… e, principalmente, Felipe Castellani.

Dizer que o esqueci seria a maior mentira da minha vida. Mas eu aprendi a conviver com o vazio. Com o eco da ausência dele, com as lembranças que queimam, mas não me paralisam mais.

Mudei. Cortei o cabelo, troquei o estilo, enterrei a garota frágil que ele conheceu. E me reconstruí, do jeito que consegui.

Eu e Karolaine alugamos um apartamento pequeno no centro de Milão. Nada luxuoso, mas nosso. Trabalho em uma empresa de tecnologia, entre reuniões e café frio, tentando ser só mais um rosto anônimo em meio à multidão.

E tem funcionado.

Passeio pela cidade, ando de metrô, vou ao supermercado sem medo de ser reconhecida, sem o peso do sobrenome Castellani me perseguindo.

A Karolaine sempre diz que eu mereço mais. Que eu não deveria me esconder, que minha força é maior do que imagino. Mas ela respeita meu tempo. Ela sabe o quanto ainda dói. O quanto aquele nome, aquele rosto, aquele homem… ainda me assombra.

Mas já faz um ano.

E eu jurei pra mim mesma: nunca mais.

Nunca mais me deixar perder por alguém. Nunca mais me envolver em um jogo onde só um lado dita as regras. Nunca mais ser a garota que se ajoelha em lágrimas por um homem.

Eu sei que Milão é grande. Que ele está em outro mundo, com outros problemas, cercado pelo poder e pelas mentiras que sempre o acompanharam.

Eu sei… mas ainda assim, no fundo, existe uma parte de mim que não consegue esquecer.

Mas vou tentar. Nem que seja a última coisa que eu faça.As ruas de Milão são um caos elegante.

Gente apressada, buzinas, cafés lotados, turistas fotografando cada canto, enquanto os locais seguem ignorando o espetáculo ao redor. No começo, me sentia um ponto fora da curva, uma estrangeira, perdida… Mas o tempo faz a gente se adaptar, mesmo quando o peito ainda sangra por dentro.

Saí do metrô apertando o casaco ao redor do corpo. O vento frio da manhã cortava a pele, mas eu estava acostumada. Me acostumei com muita coisa desde que deixei Bellagio.

O prédio da empresa onde trabalho não tem nada de luxuoso. Nada de tapetes vermelhos ou seguranças engravatados como os ambientes em que o Felipe me arrastava. Aqui, é diferente. É real.

Entrei no escritório, cumprimentei os colegas, me sentei em frente ao computador, e mergulhei na rotina de planilhas, e-mails e tarefas que, ironicamente, me trazem paz.

Meu chefe é rígido, mas justo. E os colegas… bom, ninguém aqui sabe quem eu fui antes. E é exatamente assim que quero manter.

Cheguei em casa no fim da tarde, o sol já se escondendo entre os prédios altos. Karolaine estava na cozinha, cabelo preso de qualquer jeito, moletom largo, mexendo no celular enquanto o cheiro de café se espalhava.

Karolaine: — Sobreviveu mais um dia no caos? — perguntou, sorrindo de canto, me analisando dos pés à cabeça — Ou algum italiano rico tentou te arrastar pra uma vida de luxo de novo?

Revirei os olhos, largando a bolsa no sofá.

Angelina: — Eu sou invisível aqui, Karol. E, sinceramente? Prefiro assim.

Ela veio até mim, segurando minha mão, o olhar mais sério agora.

Karolaine: — Invisível não combina com você, Angel. Você se esconde… mas o brilho ainda tá aí, só esperando o momento certo.

Suspirei, desviando o olhar, o coração apertando.

Angelina: — Eu não quero mais brilho, nem caos, nem jogo de poder. Eu só quero… paz. Só isso.

Karolaine me abraçou de lado, o carinho sincero dela me ancorando no meio de tudo.

Karolaine: — Paz você vai ter. Mas não adianta fingir que esqueceu o que viveu. Nem ele. Uma hora ou outra… o passado sempre volta.

Engoli em seco, o nome dele não sendo pronunciado, mas pairando no ar.

Eu sei que ela tem razão.

Mas, por enquanto… minha prioridade é sobreviver ao presente.

Só que o passado?

Ele tem o péssimo hábito de sempre bater na porta… quando menos se espera.

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Comments

Adriane Alvarenga

Adriane Alvarenga

E vamos para mais uma jornada...Felipe × Angel...❤❤❤❤❤❤❤

2025-07-28

0

Liliane Ramiro

Liliane Ramiro

amandoooooo

2025-07-25

1

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