O consultório era frio, silencioso e limpo demais.
Do-yun odiava estar ali.
Sempre odiou.
Sentado na maca, com o blazer dobrado nos braços e as mãos geladas, ele observava o médico folhear sua ficha com um suspiro pesado.
Médico_⚖️
— Você devia ter atualizado sua classificação no sistema da empresa, Kang Do-yun.
Kang Do-yun_🪻
— Eu sei. Eu só… não queria que me tratassem diferente.
O alfa do outro lado da mesa — um clínico impessoal, velho conhecido da família dele — ergueu os olhos com cansaço.
Médico_⚖️
— Tomar supressores desse nível sem supervisão é perigoso. Ainda mais se seu ciclo for instável como o da última vez. O que aconteceu dessa vez?
Do-yun mordeu o lábio.
Olhou pro chão.
Kang Do-yun_🪻
— Um alfa... sentiu. Mesmo com o remédio.
Médico_⚖️
*O médico parou.*
— E o que ele fez?
Do-yun hesitou. Por um momento, a imagem de In-ha tão perto, os olhos escuros analisando sua pele como se pudesse ver através dela… voltou com força.
Kang Do-yun_🪻
— Me confrontou. Mas não… não fez nada.
Médico_⚖️
— Isso é raro. A maioria dos alfas dominantes entra em resposta fisiológica imediata diante de um cheiro de cio. Ele não?
Kang Do-yun_🪻
*Do-yun desviou o olhar, rápido.*
— Ele só… me ameaçou.
Médico_⚖️
O médico suspirou mais uma vez. Digitou algo no tablet.
— Vou te passar um supressor mais forte. Injetável. É mais estável e dura 72 horas, mas tem efeitos colaterais.
Kang Do-yun_🪻
— Quais?
Médico_⚖️
— Náusea, insônia, dores musculares e perda de apetite. Também pode afetar o humor. Mas você vai ficar "inodoro" até o final da semana. Se é isso que quer…
Kang Do-yun_🪻
— É — respondeu Do-yun, firme. — É exatamente isso que eu quero.
Porque se In-ha não sentisse mais seu cheiro... talvez ele conseguisse respirar.
---
Ele passou o dia seguinte em casa, com atestado.
Febril, suando frio, sem fome, virando de um lado pro outro na cama.
O remédio fazia efeito. Nenhum traço de cio. Nenhum impulso. Nenhum calor.
Mas a mente dele…
**Essa não sossegava.**
A cada vez que fechava os olhos, sentia de novo o calor da respiração de In-ha tão perto do pescoço.
O toque discreto na gola da camisa.
A voz grave sussurrando “ômega desobediente”.
Ele apertou os lençóis.
Kang Do-yun_🪻
— Por que ele fez aquilo?
Era como se... ele tivesse gostado.
**Não do toque. Mas do controle. Da humilhação. Da tensão.**
Kang Do-yun_🪻
💭"Ele nem quer nada comigo. Só quis me assustar. E funcionou, porra."💭
Mesmo assim… Do-yun passou a mão no próprio pescoço e imaginou o toque de novo.
O cheiro não estava mais lá. O cio tinha sumido.
Mas o **desejo**, não.
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.
.
.
Na manhã seguinte, já controlado, ele voltou pro escritório.
Rosto pálido, olheiras discretas, mas cheiro neutro e uniforme.
Nada em sua aparência indicava o inferno que tinha passado.
O time o recebeu com um sorriso simpático.
A coordenadora do RH disse que o atestado foi aceito sem problemas.
Mas quando ele entrou no elevador para subir…
Seo In-ha já estava lá dentro.
Sozinho.
Porta se fechando. O mesmo silêncio sufocante.
Do-yun congelou. Os olhos imediatamente foram pro chão.
Por instinto. Por defesa. Por… instinto de ômega.
**Ele não podia cheirar nada agora. Nem um traço.**
Mas In-ha olhou. E sentiu.
E o que veio foi pior do que um ataque.
**Foi indiferença.**
In-ha apenas virou de costas. Como se nada tivesse acontecido. Como se o que houve dois dias antes **nunca tivesse existido.**
Do-yun apertou os dedos contra a lateral da coxa. O peito doía.
Kang Do-yun_🪻
💭“Era isso que você queria, idiota. Ser invisível de novo.”💭
As por algum motivo…
**Aquilo machucou.**
Quando a porta do elevador abriu no 13º andar, In-ha saiu sem olhar.
Nem uma palavra. Nem uma expressão.
E Do-yun ficou ali por dois segundos, sozinho, com o gosto amargo da rejeição que ele nem tinha pedido.
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Ao longo do dia, In-ha passou por sua mesa três vezes.
Não disse nada.
Não olhou.
Mas em cada uma delas, Do-yun soube.
**Soube que ele ainda estava atento.**
O olhar periférico. A respiração mínima alterada. O dedo apertando a pasta com mais força.
Ele fingia que não via.
**Mas sentia.**
E Do-yun… gostava demais disso.
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