CAPÍTULO 2
O elevador subiu lentamente até o 14º andar da Sabaku Fashion House. Shinki estava calado, ainda sentindo no ombro o calor do casaco que Yuna havia emprestado. O cheiro leve de hortelã e tecido limpo ainda estava presente, e, por algum motivo, isso o acalmava.
O andar era todo envidraçado, elegante, cheio de manequins vestidos com peças estilosas e pessoas apressadas carregando croquis e pastas. Ele caminhou sem pressa, cruzando o corredor até chegar à sala do fundo, onde uma placa discreta dizia: Diretor Criativo — Gaara Sabaku.
Shinki respirou fundo e bateu duas vezes antes de entrar.
Gaara Sabakuno
Pode entrar
Ele empurrou a porta e entrou. Gaara estava em pé ao lado de um manequim, analisando uma jaqueta preta de alfaiataria com detalhes dourados nos ombros. Ao ver o filho, desviou os olhos da peça e franziu levemente a testa.
Gaara Sabakuno
Onde você estava?
Shinki
*Tirou o casaco devagar, dobrando-o cuidadosamente nos braços*
Gaara Sabakuno
*cruzou os braços, não bravo, mas com aquela expressão neutra que só ele conseguia fazer*
Shinki
A cidade é muito grande, e você sabe que meu senso de direção é péssimo
Shinki
Mas... alguém me ajudou.
Gaara Sabakuno
Alguém?
*Arqueou uma sobrancelha.*
Shinki
Não sei o sobrenome, mas o nome dela é Yuna. Ela parecia... diferente
Shinki
Me tratou como se eu fosse só... um garoto normal
Gaara Sabakuno
Você é normal,filho.
Shinki
Me emprestou um casaco pra esconder dos paparazzi. Me ajudou sem fazer muitas perguntas.
Gaara Sabakuno
*Encarou o filho por alguns segundos, depois relaxou os ombros.*
Gaara Sabakuno
Fico feliz que alguém tenha ajudado. Ainda assim, você devia ter ligado
Shinki
Eu sei. Foi só um momento meio... confuso. Mas estou bem agora.
Shinki
Não vai acontecer novamente
Gaara Sabakuno
*Andou até ele e colocou uma mão leve sobre seu ombro.*
Gaara Sabakuno
Que bom. Você sabe que pode confiar em mim, certo?
Shinki
*Olhou para o chão e depois para o pai, abrindo um meio sorriso.*
Gaara Sabakuno
Vou mandar alguém te acompanhar da próxima vez.
Shinki
*Balançou a cabeça, mas não protestou.*
Em silêncio, pensava em Yuna e no jeito como ela o abraçou, como se aquilo fosse simples. Como se ele não fosse "o filho do Gaara Sabakuno", mas só um menino um pouco perdido precisando de direção.
E por algum motivo, isso ficou gravado com mais força do que qualquer flash de câmera.
A brisa morna balançava seus cabelos escuros enquanto ela ajeitava a alça da mochila no ombro. Seu olhar ficou preso nas costas dele, e então, como se algo batesse em sua memória — não um rosto, nem um nome, mas uma sensação.
“Ele não parecia perdido do mundo. Parecia perdido de si mesmo.”
Yuna sabia bem como era aquilo. Já havia sido esse tipo de pessoa.
Yuna Uchiha
*Apertou os olhos, deixando o momento passar*
Mas a sensação ficou com ela
Como se tivesse acabado de olhar um reflexo dela mesma anos atrás
Yuna passou a tarde inteira caminhando pelas ruas quentes de Suna, entrando e saindo de lojas, escritórios, lanchonetes, qualquer lugar que parecesse minimamente disposto a contratar alguém. Cada “deixamos seu currículo e entraremos em contato” era mais um peso nas costas. Ela já havia perdido as contas de quantas portas se fecharam com um sorriso educado e vazio.
Yuna Uchiha
Não aguento mais
Quando o sol começou a se esconder entre os prédios, Yuna arrastou os pés de volta para casa. Suas roupas estavam grudadas no corpo, os ombros caídos e os olhos sem brilho. Jogou a mochila no chão assim que entrou, tirou os sapatos e caiu no sofá como se tivesse sido empurrada por um vendaval invisível
Dia. O celular tocou no bolso da calça jeans.
Ela atendeu sem nem olhar quem era
Yuna Uchiha
Sakura? Meu Deus… faz tempo! Como você tá?
Sakura
Aprovada em medicina, bebê!
*diz rindo*
Sakura
Mas não é sobre mim. É sobre você.
Sakura
Acabei de ver que a empresa Sabakuno tá contratando! É aquela mesma do prédio espelhado. Estão precisando de gente urgente.
Yuna Uchiha
*Sentou no sofá num pulo, mesmo com as pernas doendo.*
Yuna Uchiha
Você tá falando sério?
Sakura
Tô! Quer o contato?
Yuna Uchiha
Não precisa nem dizer o que é. Eu aceito! Pelo amor de Deus, eu aceito!
Yuna Uchiha
*Desesperada, com um sorriso cansado se abrindo no rosto.*
Sakura
Mas Yuna, você nem sabe qual cargo é
Yuna Uchiha
Não importa! Pode ser pra varrer o teto! Se for pra pagar as contas e comprar um miojo… tô dentro.
Sakura
*Riu alto do outro lado.*
Sakura
Tá. Vou mandar tudo no seu e-mail. Só não esquece de respirar, viu?
Yuna desligou e ficou encarando o teto por um momento, como se não acreditasse que algo — qualquer coisa — finalmente tinha se movido a seu favor naquele dia.
O nome Sabaku ainda ecoava na cabeça dela.
E, junto dele, o rosto de um certo garoto de olhos cheios de areia e silêncio.
Depois de desligar o telefone com Sakura, Yuna respirou fundo e correu até o notebook que ficava quase sempre desligado num canto da sala.
As mãos ainda tremiam um pouco, mas os dedos voaram nas teclas assim que a tela acendeu.
Ela abriu o e-mail indicado pela amiga e começou a escrever. Não sabia exatamente o que dizer, então foi no impulso — do jeito que a vida sempre a obrigava a ser.
Yuna usou o nome de sua antiga mãe falecida
Yuna Uchiha
*relia, mordeu o lábio, e mesmo assim clicou em Enviar.*
Yuna Uchiha
Pronto. Seja lá o que for... por favor, só me deixa entrar
Comments