— Nosso pai foi é grande líder — disse Peter, a voz pesada, feita de memórias que queimavam.
— Ele sustentou a tribo quando a doença chegou. Fez de tudo para salvar nossas fêmeas, mas a
praga era rápida demais. Quando a nossa mãe adoeceu, em dois dias ela morreu. Em uma
semana, quase todas as fêmeas da tribo estavam mortas ou doentes. Os machos permaneceram
sãos — e até hoje não sabemos por quê. As poucas que sobreviveram tiveram de ser protegidas.
O nosso Pai permitiu que escolhessem seus pares, mas as que recusavam... eram forçadas. Era isso ou a
extinção.
Hades encolheu os ombros, com um riso seco que não chegava aos olhos.
— Todos sabemos
disso. Por isso nos tornamos caçadores. Compramos fêmeas quando podíamos; quando não,
tomávamos à força as que “não fariam falta”.
Apolo deixou escapar um murmúrio — mais observação que pergunta.
— o nosso Pai falou desta cidade.
Disse que essa casa foi um esconderijo de alguns de nós, antes de os humanos se mudarem.
Depois disso, as fêmeas humanas começaram a desaparecer; corpos começaram a aparecer
dentro da casa e nos seus jardins. Corpos cuja origem nunca desvendaram.
Luiz enrijeceu, a voz saída como se doer fosse falar aquilo. — Foram nossos os que mataram
essas pessoas?
Peter balançou a cabeça, calado. — O nosso pai não contou.
— Então não é de se admirar que a casa tenha uma energia ruim — murmurou Luiz. — Eu não
quero ficar aqui.
Hades lhe lançou um olhar cortante. — Não seja rato, meu irmão. Você é uma fera, não um
gatinho assustado.
Luiz respirou fundo, lembranças azedas passando-lhe pela garganta.
— Lembro que até duas
horas atrás eu estava na forma de gato... até um cachorro me atacar.
— Agora entendo a demora — disse Hades, sem compaixão.
— Era isso... ou revelar o que eu sou — completou Luiz, com amargura.
Apolo afinou o tom, curioso, quase paternal. — Você se escondeu na casa de uma humana?
— No jardim dela — respondeu Luiz.
Hades arregalou os olhos. — E como é a humana?
— Parecia comum, como todas da espécie dela — disse Luiz, contido.
Peter franziu o cenho. — “Mas”?
Luiz sorriu meio envergonhado. — Como você sabia que havia um “mas”?
Peter sorriu de canto. — Para nós você é um livro fácil de ler, irmão.
Apolo pressionou. — O que ela tem?Luiz respirou, as palavras saindo em lampejos. — Ela me atrai... não sei por quê. É como se o
corpo dela me chamasse.
Peter ficou em silêncio por um instante, avaliando. — Acho que você já achou a sua fêmea, Luiz.
Apolo, incrédulo, cutucou. — Logo de primeira? Você só está na cidade há quantas horas?
— Não sei ao certo — murmurou Luiz. — Mas por que dizem que ela é a minha fêmea?
— Pelo simples fato de ela te atrair — respondeu Peter, objetivo.
— É só uma pequena atração — defendeu-se Luiz.
— Então diga-nos: como ela é? — pediu Hades, direto.
— Uma mulher. Agora me deixem... preciso observar tudo aqui — disse Luiz, afastando-se.
Peter ergueu a voz com suavidade perigosa. — Não se irrite, Luiz. Quando a atração começa, é
apenas o primeiro passo para o amor.
Luiz riu, um som áspero e incrédulo. — Amor? Que piada de muito mau gosto. Amor nunca fez
parte da nossa natureza. Somos atração, sexo, instinto. O que seria o amor para seres como nós?
— Não o culpo, você é o mais novo — disse Peter, como quem acalma.
Mas Luiz não se conteve. As palavras eram lâminas soltas agora. — Algum de vocês sabe o que é
amor? Amor não é dividir a fêmea com outros machos. Amor é cuidar, proteger, se importar. Quem
de nós já fez isso? Somos feras; só nos importamos com a nossa sobrevivência, não com a fêmea —
nossa ou alheia. Usamos-nas como fábricas de crianças. Quanto mais jovens, mais filhos podem
gerar. Digo a verdade: tenho pena das fêmeas que nascerão condenadas a esse ciclo
interminável.
Apolo deixou cair a cabeça, pensado. — Ou isso... ou o fim da nossa espécie.
Hades murmurou, resignado. — É triste. Mas não temos escolha.
Luiz avançou, a voz baixa e desesperada. — E se fugíssemos?
Peter o confrontou com dureza. — E abandonar o povo? Não precisamos acabar com todas as
fêmeas; só precisamos das mais resistentes.
Luiz escarneceu. — Essa também é uma piada! Já olharam para nós? Somos como lobos: feras
selvagens e sanguinárias. A casa é grande, mas está meio destruída.
— Teremos trabalho — disse Apolo, prático.
— Sim — concordou Peter —, mas não ficaremos aqui por muito tempo.
— Apenas vamos conhecer o lugar e as pessoas — completou Hades.
Apolo corrigiu, com frieza predadora. — As fêmeas, você quer dizer.
Hades assentiu. — Sim. Os machos também seriam... divertidos, mas não servem.
O silêncio que se seguiu foi um pacto não verbal. A casa, com suas janelas cegas e jardim morto,
aguardava. Lá fora, a cidade chamada Mistério continuava a respirar, e com ela a promessa de
escolhas impossíveis — e de perigos ainda maiores.
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Atualizado até capítulo 67
Comments
BIBI🌕🌑
uma linda mulher pra quatro machos kkk vai dá muito bom kkk
2025-09-02
5