Capítulo 1: Ecos da Noite

A chuva caía incessantemente sobre Eldridge, transformando as ruas em rios de reflexos distorcidos. Clara Mendes segurava seu guarda-chuva com firmeza, enquanto caminhava pelas calçadas iluminadas apenas pela luz fraca dos postes. O cheiro da terra molhada misturava-se ao ar frio, criando uma atmosfera pesada que parecia sussurrar segredos.

Nos últimos meses, a cidade havia se tornado um lugar de medo e incerteza. Pessoas desaparecendo sem deixar rastros; cada novo caso fazia o coração de Clara disparar. Como jornalista, ela não podia ignorar aqueles relatos. A verdade a chamava, e ela estava determinada a encontrá-la.

Com seu bloco de notas em mãos, Clara seguiu em direção ao café local onde se encontraria com sua amiga e psicóloga, Dra. Helena Costa. A conversa sempre a ajudava a organizar seus pensamentos e a lidar com a crescente ansiedade que sentia em relação aos desaparecimentos.

Ao entrar no café, o aroma de café fresco envolveu Clara como um abraço acolhedor. Ela avistou Helena em uma mesa no canto, seus olhos atentos e compreensivos brilhando nas luzes suaves do local.

“Oi, Clara! Como você está?” perguntou Helena, sorrindo calorosamente.

“Melhor agora que estou aqui. Preciso desabafar,” respondeu Clara, sentando-se à mesa.

Helena inclinou-se para frente, interessada. “Sobre o que? Os desaparecimentos novamente?”

Clara suspirou, passando os dedos pelos cabelos molhados. “Sim. Estou começando a me sentir obcecada por isso. É como se cada história fosse um grito pedindo ajuda e eu não consigo ignorar.”

“Você sabe que é importante se cuidar também, não é? Não pode carregar o peso do mundo sozinha,” disse Helena suavemente.

“Eu sei… mas não posso ficar parada enquanto há pessoas desaparecendo.” O olhar de Clara se perdeu na janela embaçada pela chuva. “E se eu puder fazer algo? Se eu conseguir descobrir o que realmente está acontecendo?”

Helena hesitou antes de falar novamente. “Você já considerou que isso pode ser mais perigoso do que imagina? Há coisas neste mundo que devem permanecer ocultas.”

Justamente naquele momento, um homem alto entrou no café, molhado da cabeça aos pés. Seus olhos escuros e intensos capturaram a atenção de Clara instantaneamente. Ele parecia deslocado no ambiente aconchegante, como se estivesse ali por um propósito específico.

Lucas Almeida.

Clara sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao reconhecê-lo. Ele era conhecido na cidade por sua natureza enigmática e por estar sempre à margem da sociedade. O coração dela acelerou quando ele olhou diretamente para ela, um sorriso sutil surgindo em seus lábios.

“Clara,” ele disse com uma voz profunda e suave enquanto se aproximava da mesa.

“Oi… Lucas,” respondeu ela, surpresa com sua presença repentina.

“Posso me juntar a vocês?” ele perguntou, já puxando uma cadeira sem esperar pela resposta.

Helena lançou um olhar curioso para Clara antes de assentir discretamente.

Enquanto Lucas se acomodava na mesa, Clara percebeu que a atmosfera havia mudado. A tensão entre eles era palpável; era como se cada palavra pudesse desencadear algo inesperado. E mesmo com todos os perigos à espreita nas sombras da cidade, ela não conseguia evitar a atração crescente por aquele homem misterioso.

“Ouvi rumores sobre os desaparecimentos,” Lucas começou, seu olhar fixo em Clara. “E tenho algumas informações que podem te interessar.”

O coração dela disparou novamente; as peças do quebra-cabeça estavam começando a se encaixar.

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