Capítulo 4 – Quando Começa a Doer de Verdade

A primeira mensagem dele chegou na manhã de terça-feira.

Rafael Monteiro:

“A sua equipe no instituto é admirável. Queria agradecer mais uma vez por me receber. Estou pensando em voltar, se você não achar que seria incômodo.”

Sorri sozinha, olhando para a tela do celular por tempo demais. As palavras eram formais, mas o que vinha nas entrelinhas era mais suave. Havia delicadeza na forma como ele escrevia. E eu, mesmo querendo manter distância, respondi.

Helena:

“Não seria incômodo. Mas se você aparecer de novo de camisa dobrada e cara de CEO em retiro espiritual, as alunas da costura vão desmaiar.”

Quase imediatamente ele respondeu:

Rafael:

“Se você estiver por perto, garanto que vão continuar respirando.”

Meu coração bateu mais forte.

Era isso que ele fazia. Jogava frases no meio da rotina, como quem atira pequenas faíscas, e eu passava o resto do dia tentando apagar o incêndio que vinha depois.

Aos poucos, nossas conversas se tornaram frequentes. Começamos a trocar mensagens todos os dias — às vezes sobre o projeto, outras sobre coisas banais, como café, livros ou frases aleatórias.

Ele sempre dizia algo que me fazia rir. Ou pensar. Às vezes, as duas coisas ao mesmo tempo.

Mas o pior era que, aos poucos, ele estava entrando na minha rotina. E isso doía.

Doía porque eu queria mais. Doía porque eu ainda achava que não merecia. E doía, acima de tudo, porque sentia que estava me transformando em alguém que poderia se apaixonar — e isso me aterrorizava.

Na sexta-feira à noite, durante o jantar em família, meu pai mencionou casualmente que Rafael Monteiro tinha ligado.

— Ele quer rever o planejamento estratégico. Disse que gostaria de conversar com você também, Helena — ele comentou, pegando mais um pedaço de carne.

Minha mãe, que até então cortava o peixe com concentração cirúrgica, parou o movimento.

— Com a Helena?

Meu pai assentiu, distraído.

Isadora largou os talheres com mais barulho do que o necessário.

— Mas por quê? Ele tem nossa equipe inteira de projetos à disposição.

— Ele disse que a Helena tem uma visão sensível sobre os impactos do projeto social — respondeu meu pai, como se estivesse citando um dado estatístico.

Minha mãe manteve o sorriso social nos lábios, mas o olhar dela queimava. Eu conhecia aquele olhar. O mesmo que ela lançava quando eu dizia que não ia ao salão de beleza, ou quando escolhia um vestido “impróprio para meu biotipo”.

— Acho ótimo você se envolver mais, filha — ela disse, com doçura ensaiada. — Mas cuidado para não criar... expectativas fora da realidade.

Foi como uma facada. Pequena. Precisa. Fatal.

Ela queria me lembrar do meu lugar.

E talvez ela estivesse certa.

No dia seguinte, Rafael apareceu no instituto sem avisar. Vestia jeans escuros, camiseta preta e tênis. A barba por fazer deixava seu rosto mais humano. Menos CEO. Mais homem. E o pior: mais perigoso para o meu coração.

— Achei que não viesse — comentei, surpresa.

— Achei que você estivesse me evitando — ele rebateu, encarando-me de forma direta demais.

— Talvez eu esteja.

Ele sorriu de lado.

— Posso saber por quê?

— Porque eu ainda não sei o que você quer.

Ele parou, cruzando os braços enquanto me olhava.

— Eu quero te conhecer.

— E o que mais?

— Não sei ainda. Mas estou disposto a descobrir. Com você. Sem pressa. Sem máscaras.

Aquilo me desmontou.

Eu queria recuar. Criar uma barreira. Dizer que ele estava apenas brincando, que homens como ele não se apaixonam por mulheres como eu.

Mas em vez disso, levei-o até a estufa do projeto ambiental, o canto mais calmo do instituto. As crianças já haviam ido embora, e a luz do fim da tarde filtrava pelas folhas como em uma pintura antiga.

— Aqui é meu lugar favorito — falei, tentando mudar o rumo da conversa.

— Agora é o meu também — ele respondeu, a voz mais baixa. — Você fica diferente aqui.

— Diferente como?

— Mais leve. Mais você.

Fechei os olhos por um momento, sentindo a garganta apertar.

— Às vezes acho que não sei mais quem sou de verdade.

— Posso te ajudar a lembrar, se quiser.

E foi ali que ele estendeu a mão, sem pressa. Não para me tocar. Mas como um convite.

Eu olhei para aquela mão por um longo tempo. E, pela primeira vez em anos, me permiti aceitá-la.

Os dedos dele se fecharam ao redor dos meus com firmeza, mas com gentileza. Eu tremia. Ele percebeu, mas não disse nada. Apenas me deu tempo. E isso era tudo o que eu mais precisava.

Naquela noite, de volta ao meu quarto, deitei com a mão ainda sentindo o calor da dele.

Ele não me beijou.

Não tentou me seduzir.

Mas me olhou como se eu fosse feita de vidro precioso, daqueles que não se tocam com brutalidade.

E essa delicadeza partiu algo dentro de mim.

Porque nunca, em toda a minha vida, eu havia sido tratada como alguém digna de cuidado.

E agora, com apenas alguns gestos, Rafael Monteiro estava mudando tudo.

Tudo.

Inclusive… a forma como eu olhava para mim mesma.

Capítulos
1 Capítulo 1 – A Invisível da Família Vasconcellos
2 Capítulo 2 – O Espelho Que Me Quebra
3 Capítulo 3 – Quando Ele Me Enxerga
4 Capítulo 4 – Quando Começa a Doer de Verdade
5 Capítulo 5 – O Convite Que Assusta
6 Capítulo 6 – E Se For Só Um Capricho?
7 Capítulo 7 – A Verdade à Luz do Dia
8 Capítulo 8 – Onde Doem os Olhares
9 Capítulo 9 – A Coragem de Ficar
10 Capítulo 10 – O Lugar Que Me Cabe
11 Capítulo 11 – O Homem Que Me Enxerga
12 Capítulo 12 – Aquilo Que Não Se Esconde Mais
13 Capítulo 13 – Aquilo Que Eu Não Devo Mais a Ninguém
14 Capítulo 14 – O Peso da Voz Que Não Cala Mais
15 Capítulo 15 – Tudo o Que Podemos Ser Juntos
16 Capítulo 16 – As Partes Que Eu Escondi Até de Mim
17 Capítulo 17 – Quando Minha Voz Encontrou o Mundo
18 Capítulo 18 – Quando o Mundo Me Leu Inteira
19 Capítulo 19 – Verdades Que Ninguém Vai Suavizar Por Mim
20 Capítulo 20 – Eu Me Reconheço Nela
21 Capítulo 21 – Quando A Dor Vem Com Vozes De Fora
22 Capítulo 22 – O Peso de Ser Vista Por Quem Me Apagou
23 Capítulo 23 – A Mãe Que Eu Quase Desisti de Esperar
24 Capítulo 24 – A Menina Que Queria Ser Invisível
25 Capítulo 25 – Quando o Mundo Começa a Escutar
26 Capítulo 26 – Entre Fronteiras e Futuros
27 Capítulo 27 – O Amor Também Pode Ser Casa
28 Capítulo 28 – A Mulher que Planta o Amanhã
29 Capítulo 29 – Onde a Voz Encontra o Mundo
30 Capítulo 30 – De Volta à Casa que Eu Construí
31 Capítulo 31 – A Menina no Espelho
32 Capítulo 32 – Novos Começos Não Avisam
33 Capítulo 33 – Corpo que Gera, Corpo que Sente
34 Capítulo 34 – Quando a Espera É Também Recomeço
35 Capítulo 35 – E Aurora Chegou
36 Capítulo 36 – Onde Tudo Recomeça em Silêncio
37 Capítulo 37 – Um Lugar Para Recomeçar
38 Capítulo 38 – O Tempo Também Cuida
39 Capítulo 39 – Voz Que Alcança
40 Capítulo 40 – Quando As Vozes Viram Ecos
41 Capítulo 41 – Quando a Ponte Range
42 Capítulo 42 – Entre o que se guarda e o que se revela
43 Capítulo 43 – Voltar Não é Retroceder
44 Capítulo 44 – Entre o Sucesso e o Sentido
45 Capítulo 45 – Quando a Voz Ecoa Alto Demais
46 Capítulo 46 – A Casa que Nunca Foi Lar
47 Capítulo 47 – A Ponte que se Constrói em Silêncio
48 Capítulo 48 – O Mundo Me Chama pelo Nome
49 Capítulo 49 – Onde o Silêncio Também Fala
50 Capítulo 50 – Quando o Mundo Te Escuta com o Coração
51 Capítulo 51 – Quando o Lar Reconhece Você de Volta
52 Capítulo 52 – A Casa Que Eu Nunca Tive
53 Capítulo 53 – Onde Mulheres Constroem Janelas
54 Capítulo 54 – Onde o Silêncio Se Transforma em Voz
55 Capítulo 55 – A Vida que Renasce em Mim
56 Capítulo 56 – Aquilo Que Nasce e Também Abala
57 Capítulo 57 – A Voz Que Ficou Em Silêncio Tempo Demais
58 Capítulo 58 – O Livro Que Me Escreve de Volta
59 Capítulo 59 – O Círculo Que Nunca Se Rompe
60 Capítulo 60 – O Primeiro Choro de Clara
61 Capítulo 61 – Aquilo Que Se Expande e Aquilo Que Permanece
62 Capítulo 62 – Voltar Sem Se Encolher
63 Capítulo 63 – O Livro que Mora em Muitas Vozes
64 Capítulo 64 – Onde As Palavras Criam Raízes
65 Capítulo 65 – Quando o Mundo Chama
66 Capítulo 66 – Quando Outras Vozes Conduzem
67 Capítulo 67 – O Tempo Que se Escreve em Nós
68 Epílogo – O Corpo Onde as Palavras Voltaram a Morar
Capítulos

Atualizado até capítulo 68

1
Capítulo 1 – A Invisível da Família Vasconcellos
2
Capítulo 2 – O Espelho Que Me Quebra
3
Capítulo 3 – Quando Ele Me Enxerga
4
Capítulo 4 – Quando Começa a Doer de Verdade
5
Capítulo 5 – O Convite Que Assusta
6
Capítulo 6 – E Se For Só Um Capricho?
7
Capítulo 7 – A Verdade à Luz do Dia
8
Capítulo 8 – Onde Doem os Olhares
9
Capítulo 9 – A Coragem de Ficar
10
Capítulo 10 – O Lugar Que Me Cabe
11
Capítulo 11 – O Homem Que Me Enxerga
12
Capítulo 12 – Aquilo Que Não Se Esconde Mais
13
Capítulo 13 – Aquilo Que Eu Não Devo Mais a Ninguém
14
Capítulo 14 – O Peso da Voz Que Não Cala Mais
15
Capítulo 15 – Tudo o Que Podemos Ser Juntos
16
Capítulo 16 – As Partes Que Eu Escondi Até de Mim
17
Capítulo 17 – Quando Minha Voz Encontrou o Mundo
18
Capítulo 18 – Quando o Mundo Me Leu Inteira
19
Capítulo 19 – Verdades Que Ninguém Vai Suavizar Por Mim
20
Capítulo 20 – Eu Me Reconheço Nela
21
Capítulo 21 – Quando A Dor Vem Com Vozes De Fora
22
Capítulo 22 – O Peso de Ser Vista Por Quem Me Apagou
23
Capítulo 23 – A Mãe Que Eu Quase Desisti de Esperar
24
Capítulo 24 – A Menina Que Queria Ser Invisível
25
Capítulo 25 – Quando o Mundo Começa a Escutar
26
Capítulo 26 – Entre Fronteiras e Futuros
27
Capítulo 27 – O Amor Também Pode Ser Casa
28
Capítulo 28 – A Mulher que Planta o Amanhã
29
Capítulo 29 – Onde a Voz Encontra o Mundo
30
Capítulo 30 – De Volta à Casa que Eu Construí
31
Capítulo 31 – A Menina no Espelho
32
Capítulo 32 – Novos Começos Não Avisam
33
Capítulo 33 – Corpo que Gera, Corpo que Sente
34
Capítulo 34 – Quando a Espera É Também Recomeço
35
Capítulo 35 – E Aurora Chegou
36
Capítulo 36 – Onde Tudo Recomeça em Silêncio
37
Capítulo 37 – Um Lugar Para Recomeçar
38
Capítulo 38 – O Tempo Também Cuida
39
Capítulo 39 – Voz Que Alcança
40
Capítulo 40 – Quando As Vozes Viram Ecos
41
Capítulo 41 – Quando a Ponte Range
42
Capítulo 42 – Entre o que se guarda e o que se revela
43
Capítulo 43 – Voltar Não é Retroceder
44
Capítulo 44 – Entre o Sucesso e o Sentido
45
Capítulo 45 – Quando a Voz Ecoa Alto Demais
46
Capítulo 46 – A Casa que Nunca Foi Lar
47
Capítulo 47 – A Ponte que se Constrói em Silêncio
48
Capítulo 48 – O Mundo Me Chama pelo Nome
49
Capítulo 49 – Onde o Silêncio Também Fala
50
Capítulo 50 – Quando o Mundo Te Escuta com o Coração
51
Capítulo 51 – Quando o Lar Reconhece Você de Volta
52
Capítulo 52 – A Casa Que Eu Nunca Tive
53
Capítulo 53 – Onde Mulheres Constroem Janelas
54
Capítulo 54 – Onde o Silêncio Se Transforma em Voz
55
Capítulo 55 – A Vida que Renasce em Mim
56
Capítulo 56 – Aquilo Que Nasce e Também Abala
57
Capítulo 57 – A Voz Que Ficou Em Silêncio Tempo Demais
58
Capítulo 58 – O Livro Que Me Escreve de Volta
59
Capítulo 59 – O Círculo Que Nunca Se Rompe
60
Capítulo 60 – O Primeiro Choro de Clara
61
Capítulo 61 – Aquilo Que Se Expande e Aquilo Que Permanece
62
Capítulo 62 – Voltar Sem Se Encolher
63
Capítulo 63 – O Livro que Mora em Muitas Vozes
64
Capítulo 64 – Onde As Palavras Criam Raízes
65
Capítulo 65 – Quando o Mundo Chama
66
Capítulo 66 – Quando Outras Vozes Conduzem
67
Capítulo 67 – O Tempo Que se Escreve em Nós
68
Epílogo – O Corpo Onde as Palavras Voltaram a Morar

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