vestido entre espinhos
Hael chutou a porta do apartamento com raiva. Jogou o casaco em cima da cadeira e caiu na cama com o celular na mão.
A tela acendeu com a mensagem de Nevara.
📲nevara “Hoje, 20h. Pontual.
Roupa apropriada: vestido preto.
Você é ômega, agora se vista como um.”
Ele piscou, travado. Depois sentou na cama, devagar.
🌪Hael Rossi★
Que… porra é essa?
Leu de novo. Riu. Um riso nervoso, debochado, quase histérico.
🌪Hael Rossi★
Ah, claro. Porque dar o cu já não era o suficiente, agora tenho que ir de saia pro sacrifício?
Pegou o celular e digitou com raiva.
📲 Hael:
“Tu tá me tirando, né? Se for pra usar salto também, já me diz que tipo de desfile vai ser.”
📲 Nevara:
“Isso. Salto também 💋”
🌪Hael Rossi★
Toma no cu, Nevara.
Vai você nesse salto, sua cobra loira.
Ele jogou o celular no sofá e bufou alto.
Abriu o armário um cemitério de roupas masculinas surradas.
🌪Hael Rossi★
Tá bom. Querem que eu seja ômega de verdade?
🌪Hael Rossi★
Então vão ver a porra da flor mais venenosa desse jardim.
O tempo em Moscou era cruel.
Mas não mais do que o que Hael estava prestes a fazer com sua dignidade.
Ele entrou num brechó da rua Três com os braços cruzados e um olhar que dizia: "Não fale comigo, só me aponte onde estão os trapos."
A moça no balcão o observou como se estivesse tentando adivinhar se ele era cliente… ou confusão.
🌪Hael Rossi★
Vestido preto. Médio. Nada com brilho de dragão nem renda de noiva abandonada.
🌪Hael Rossi★
(encarando ela)
É pra mim. Algum problema?
Silêncio. A mulher apontou pro fundo da loja, desconcertada.
?
Terceira fileira… perto da seção de noivas.
Hael foi até lá, revirando cabides com pressa e desdém.
Nada parecia bom o suficiente ou era brega, ou parecia parte de um velório de novela.
🌪Hael Rossi★
Até que viu um.
Preto. Justo. Corte limpo. Sem babados. Com uma fenda lateral que dizia: “Tente me ignorar.”
🌪Hael Rossi★
Voltou ao balcão e jogou o vestido sobre o balcão com o mesmo carinho que jogaria uma fatura vencida.
🌪Hael Rossi★
Quanto custa o vexame?
🌪Hael Rossi★
Isso aqui é brechó ou butique da máfia?
hael pagou com o cartão de um cliente esquecido e saiu com a sacola amassada nas mãos.
Me meti num teatro de ódio… e tô no papel principal.
Ele dobrou a esquina com a sacola do vestido na mão e a alma na sola do pé.
Achou uma lojinha pequena, meio escondida, com um letreiro vermelho piscando:
"Calçados Elegância — todo tipo de altura."
Entrou como quem tá indo ser condenado.
A atendente, uma senhora de cabelo tingido e maquiagem exagerada, olhou para ele com um sorriso cansado.
?
Boa tarde! Posso ajudar?
🌪Hael Rossi★
Quero um salto.
Preto, Alto, Discreto, mas que quebre o tornozelo de quem tentar me derrubar.
🌪Hael Rossi★
41… do pé. Porque da cara, já perdi faz tempo.
Ela saiu andando entre as prateleiras e voltou com duas opções um scarpin de bico fino e uma sandália com tiras cruzadas.
?
Esses dois são firmes e discretos.
Quer experimentar?
🌪Hael Rossi★
Eu vou mesmo calçar isso?
Sentou devagar, tirou o tênis furado e, depois de uma luta interna de três segundos, enfiou o pé no salto.
Ele se levantou com dificuldade, quase tropeçando.
🌪Hael Rossi★
Isso é tortura.
Meu pé tá gritando em russo.
?
É como amor. Dói no começo, mas depois a gente acostuma.
🌪Hael Rossi★
Amor não. Isso aqui é submissão com glitter.
Olhou para o espelho lateral da loja.
O salto combinava com o vestido. E, mesmo relutante, ele sabia que… funcionava.
🌪Hael Rossi★
Tá. Levo esse.
Já tô me prostituindo emocionalmente, né? Que diferença faz calçar isso?
Pagou em silêncio. Saiu com a sacola balançando e a dignidade cada vez mais enterrada. Mas andava ereto, firme. Como se dissesse ao mundo:
Vocês vão me olhar e vão engolir
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