Capítulo 05 • Olivia Ferreira

Revejo a mensagem do Alberto e sinto vontade de jogar o celular longe. Estou tão irritado com esse idiota que não suporto mais nada que venha dele.

Estou exausta de ser a alternativa secundária na sua vida; Alberto presume que sou obrigada a suportar os ataques de birra da sua irmã em busca de atenção. A ridícula morre de ciúmes do irmão mais velho e faz de tudo para atrapalhar nosso namoro.

Juro que tentei me entender com ela, fiz um esforço enorme para que pudéssemos ser amigas, mas, quando não há afinidade, é impossível que algo funcione. Michelle é insuportável, excessivamente mimada pelo pai e pelo irmão por ser a filha mais nova. Ela sempre teve seus desejos atendidos por toda a família.

A nossa última briga aconteceu porque ele me deixou esperando em casa, depois que ela ligou pedindo que ele a buscasse em uma festa distante, após discutir com o namorado.

Caramba! A jovem tem vinte anos e pode perfeitamente solicitar um carro para ir embora. Não precisa do irmão idiota para fazer isso. O problema é que tudo o que a princesa diz é uma ordem, e o Alberto foi apressado para salvá-la.

Não dá para ter um relacionamento com um homem que não consegue dizer não à própria irmã. Estou cansada de ser constantemente ignorada; sei que posso conquistar algo muito melhor do que aquele idiota.

Agora que estou oficialmente solteira, vou aproveitar para conhecer novos rapazes. Quero voltar à minha fase piriguete e pegar geral sem me apegar. Quem sabe em algumas dessas aventuras não apareça o cara da minha vida?

Já tenho 26 anos e, quando menos perceber, serei uma balzaquiana. Não quero completar 30 anos sem ter um filho; meu instinto materno anseia por um bebê adorável. Eu costumava acreditar que esse filho seria fruto da minha relação com Maurício, meu primeiro namorado, o homem por quem me apaixonei perdidamente.

Mas aquele filho da puta me traiu com a minha melhor amiga, e todos os planos que fiz de ter um futuro com ele foram por água abaixo quando descobri que o cafajeste teria um filho com ela.

Fiquei mal por um longo período, sem nenhuma expectativa de voltar a me relacionar. Até que resolvi dar uma oportunidade ao Alberto para acreditar em relacionamentos, e veja no que resultou.

Que raiva!

“Miau”

O som de Napoleon miando me avisa que meu gato está me convocando para dormir. Ele fica mais carente nas sextas-feiras, pois saio do trabalho e vou direto para o MBA. Estou na metade do meu curso de Gestão de Projetos e tenho muita vontade de concluí-lo para poder me candidatar a uma vaga na minha área em uma empresa.

Embora receba um salário excelente como Secretária Executiva do Alex, eu me formei em Administração com o sonho de trabalhar nessa área. Concordei em trabalhar com ele apenas para cobrir os custos do financiamento do meu curso e da pós-graduação que realizei logo após me formar. Porém, mesmo com um bom salário, desejo alcançar voos maiores.

- Estou a caminho\, Napoleon. Preciso desligar todas as luzes\, então me dê alguns minutos.

Acaricio seu pelo macio e, em resposta, ouço um ronronar agradável. Napoleon recebeu esse nome em francês, pois o considerou muito elegante com seus olhos azuis e pelo todo branco. Eu amo muito esse gato irritante.

Apago as luzes do apartamento e vou para o quarto segurando uma taça de vinho. Logo que me deito, Nap sobe na cama e começa a miar sem parar. Ele está se tornando um gato resmungão; só fica tranquilo quando se acomoda ao meu lado.

Enquanto experimento o vinho, ligo a televisão e procuro algo para assistir. Soares, um empresário promissor do setor têxtil que fez parceria com Alex, me ofereceu uma bebida.

Ele é um homem mais velho, quase na faixa dos cinquenta, com aparência de latino e um sorriso que me faz derreter. Quando ele chega à empresa, sinto um aumento significativo na minha temperatura corporal.

Até mesmo Karina, uma mulher reservada, perde a compostura na presença do homem. Só Alex o detesta, e não preciso explicar por quê. Desde que soube da nossa paixão por Soares, ele não demitiu o homem do escritório, pois é muito afeiçoado ao dinheiro. No entanto, sempre faz questão de menosprezar o coitado na nossa presença, alegando que ele é um conquistador barato e inescrupuloso. Como se ele também não fosse.

Reviro os olhos ao pensar em todos os arranjos de flores que já enviei, ignorando as conquistas dele. Alex enfrenta grandes dificuldades para dispensar as mulheres. Segundo ele, o choro quando tudo termina é constrangedor.

Então, sou eu quem escreve no cartão as palavras de despedida que partem o coração das mulheres.

- Babaca! - grito no momento em que meu celular toca.

Olho no visor e resmungo ao ver que é o Alberto. Se ele acredita que ainda tem alguma chance comigo, está muito enganado; perdi o pouco interesse que ainda tinha por ele.

Acabou!

Ele continua insistindo e me liga mais três vezes. Desconsidero todas as suas tentativas e, posteriormente, percebo que ele envia algumas mensagens. Aguardo um momento e, sem resistir à curiosidade, leio todas.

O filho da puta tem a audácia de me chamar de mimada e dizer que estou fazendo tempestade em copo d’água. Ele avisa que está em frente ao meu prédio e deseja me encontrar. Nunca vou deixar que ele suba, não quero mais vê-lo.

- Hoje não é meu dia\, Nap. - falo para o meu gatinho. - Agora sou a mimada da história. Eu sou digno disso.

Vou à galeria de fotos e seleciono uma das imagens falsas que utilizo para afastar pessoas como o Alberto quando necessário. Envio uma imagem em que estou sorrindo com um copo de bebida na mão. Vou agir como se estivesse na noite, para que ele entenda que segui em frente.

Ao enviar a foto dizendo que estou distante e indisponível, ele vai me insultar muito. Sorrio ao ver a foto carregada e deixo o celular de lado. Acabo de beber o vinho e não fico satisfeita. Como Soares me disse, é um vinho delicado e incrivelmente saboroso.

Vou à cozinha e trago a garrafa. Como vou ficar sozinha em casa numa sexta-feira à noite, que eu tenha pelo menos um bom vinho como companhia. É uma pena que não pude aproveitar a companhia de quem me deu. Se aquele homem atraente estivesse aqui, eu não estaria me preocupando em ficar bêbada.

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