O caminho até o apartamento de Damián foi feito em silêncio — daqueles que gritam por dentro.
Isadora sentia o motor da moto vibrar entre suas pernas, os braços enlaçados na cintura dele, o couro da jaqueta queimando contra sua pele exposta. A cidade passava ao redor como um borrão indiferente. Nada importava, exceto o homem que ela escolheu seguir.
Um desconhecido. Um perigo vivo. E, ainda assim, a única coisa que parecia real.
O prédio era antigo, escondido entre construções modernas. Um monólito esquecido. Subiram três lances de escada, e o som das botas de Damián nos degraus ecoava como um aviso. Isadora não sabia se tremia de expectativa ou de medo — talvez dos dois.
Quando ele abriu a porta, o cheiro de cigarro, álcool e algo mais — algo dele — invadiu os sentidos dela. O apartamento era escuro, com paredes nuas e móveis gastos. Um espaço que não pedia licença, só aceitava os que tinham coragem.
Damián jogou as chaves sobre a bancada e se virou para encará-la.
— Você ainda pode ir embora — disse, a voz grave como um trovão contido. — Ninguém saberia que esteve aqui. Ninguém saberia que me viu.
Isadora deu um passo à frente. A pouca luz desenhava sombras no rosto dele. Era bonito, sim, mas não de um jeito doce. Era o tipo de beleza que vem com faca na alma e gosto de perigo na boca.
— Eu não quero esquecer — ela respondeu, os olhos cravados nos dele. — Quero lembrar. Cada segundo.
Damián se aproximou como um predador. Os dedos tocaram o pescoço dela com uma lentidão quase reverente. Subiram até a linha do maxilar, e pararam no queixo. Ele a fez olhar para cima.
— Você não é feita pra esse mundo — murmurou. — Mas algo em você... quer sangrar.
Ela não respondeu. Só ficou ali, parada, sentindo o peso do toque, a ameaça na ternura. Ele não precisava usar força. A presença bastava. Era como estar diante de um deus pagão — um deus que exigia sacrifícios, e ela estava pronta para se oferecer.
Os lábios dele tocaram os dela sem aviso. Não foi um beijo. Foi uma invasão.
E ela permitiu.
A língua exigia, os dentes ameaçavam, e a mão dele segurava a nuca dela como se temesse que ela fugisse — ou esperasse que ela tentasse. Mas Isadora não fugia. Não agora. Talvez nunca mais.
Damián a empurrou contra a parede, e ela arfou, não de dor, mas de rendição. O vestido subiu um pouco, e as mãos dele exploraram com a precisão de quem conhece a anatomia do desejo. Havia algo quase cruel na forma como ele a tocava — como se quisesse marcar não o corpo, mas a alma.
— Você ainda não entende — ele rosnou contra sua pele. — Eu não sei amar bonito. Não sei tocar sem quebrar.
— Então me quebra — ela sussurrou, o olhar incendiado.
Por um momento, ele congelou. E então riu — baixo, rouco, perigoso. Como se acabasse de encontrar um vício novo.
Naquela noite, Isadora não descobriu o amor. Descobriu outra coisa.
Um espaço entre dor e prazer onde o controle desaparece.
Onde a entrega é total. Onde não existe mais certo ou errado — só verdade.
E quando o sol ameaçou nascer, filtrando uma luz tímida pela janela suja, Damián olhou para ela como quem enxerga além da carne.
— Agora você é minha, princesa — ele disse, sem suavidade.
— Eu sempre fui — ela respondeu.
O que começou como curiosidade… agora tinha gosto de sentença.
E ela o saboreava como quem bebe veneno, sabendo que já é tarde demais para parar.
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Atualizado até capítulo 35
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