Capítulo 004

@Júlia🌸

•Capítulo 004🌸

Acordei mais cedo do que o normal, sentindo uma tensão no ar. Hoje não era só mais um dia qualquer. Eu estava indo pro presídio, pra fazer uma consulta com o Lucas, o famoso “Perigo”. Ele era o dono da Rocinha, tinha uma fama daquelas, de quem todo mundo tem medo e respeito. Mas, eu era psicóloga, e a minha missão ali não era nada pessoal, era tentar entender os motivos que tinham levado aquele cara até o fundo do poço.

Eu tomei um café rápido, enquanto mandava uma mensagem pro PH. Ele sempre me tranquilizava, mas, mesmo assim, eu sentia aquele peso no peito. Eu sabia que o Lucas não seria fácil. Mas, de alguma forma, tinha aceitado o desafio. Respirei fundo, peguei minha bolsa e saí de casa. O carro estava estacionado na garagem, esperando.

A rua estava calma, o trânsito não estava tão pesado, e o som da rádio preenchia o silêncio do carro. Eu liguei o som, pra tentar relaxar um pouco. A voz da cantora na rádio era suave, mas logo fui interrompida por uma mensagem do PH. 

PH: “Cuidado, Jujuba. Não subestime o Lucas, ele não é qualquer um. Mas tô te acompanhando, qualquer coisa me liga.” 

Eu sorri ao ver a mensagem. O PH sempre me alertava, mas eu tinha minha própria forma de trabalhar. Não era porque ele era um “chefe” do tráfico que eu ia me deixar intimidar. Eu era psicóloga, e tinha que mostrar o meu espaço.

O caminho pro presídio parecia interminável, mas eu continuei dirigindo com a mente focada. Enquanto dirigia, não conseguia deixar de pensar no que me esperava ali. O Lucas era conhecido por ser impiedoso, sem limites, e, mesmo preso, ele continuava a ser uma figura temida no Rio de Janeiro. Mas, o que ele queria comigo? Por que me chamaram? Não sabia bem o que esperar.

Cheguei ao presídio, e o clima era tenso. O lugar era grande, com muros altos e cercado por arame farpado. Entrei pelo portão de segurança, me identificaram, e fui conduzida até a sala onde ele estava aguardando. O coração começou a bater mais rápido. Fui conduzida por um corredor frio, e o som dos meus passos ecoava naquelas paredes. Aquele lugar exalava um ar de tensão.

Quando cheguei à sala, vi o Lucas sentado em uma cadeira, me esperando. Ele estava usando um uniforme simples, mas seu olhar era firme, impassível. Não parecia ter medo de nada nem de ninguém. Quando ele me viu, deu aquele sorriso de quem já dominava tudo ao redor, mas não me reconheceu de imediato. Eu, no entanto, lembrava muito bem dele.

— E aí, doutora... Como cê tá? — ele falou, com um sorriso que só alguém como ele saberia dar.

Eu me sentei em frente a ele, tentando manter a postura. Minha mente estava alerta, mas sabia que, se eu mostrasse fraqueza, ele ia se aproveitar disso.

— Eu tô bem, Lucas. Vamos começar a nossa consulta. Eu sou a Dra. Júlia, fui chamada pra falar com você sobre a sua situação. Como você está se sentindo? — comecei, com a voz firme.

Ele me olhou, com aquele olhar de quem tava avaliando tudo ao meu redor. Parecia que ele estava mais interessado em ver até onde eu iria do que realmente fazer uma consulta.

— Me sinto bem, cê sabe, né? Aquele bagulho de cadeia não me afeta. Mas, confesso, achei que a gente ia conversar sobre outro rolê... — Lucas falou, com aquele jeito descontraído, como se estivesse esperando algo mais. 

Eu o encarei, tentando entender qual era o jogo dele. Ele não sabia que, pra mim, isso não era só uma conversa informal. Ele queria saber sobre como sair dali, e eu precisava ser firme, mas ao mesmo tempo, humana. Ele não podia sair com uma simples mudança de comportamento, eu precisava de muito mais do que ele estava disposto a me oferecer.

— Lucas, a gente vai conversar sobre sua recuperação e sua reintegração na sociedade. Não é sobre o quanto você acha que a cadeia é fácil, e sim sobre o que você pode mudar em si mesmo, entende? — tentei ser objetiva, sem deixar que ele tomasse o controle da situação.

Ele se ajeitou na cadeira e sorriu mais uma vez, dessa vez com um ar mais sedutor.

— Ah, doutora, cê parece ser da quebrada, né? Não me engana, não. Eu sou da rua, e sei reconhecer quem é de verdade. Agora, esse papo de recuperação... O que a senhora acha disso? Eu, por exemplo, não sei se vou conseguir viver sem o corre, sem o comando, sem a favela nas minhas mãos... — Lucas falou, já indo direto ao ponto, tentando me desviar do foco da consulta.

— Eu entendo, Lucas. Mas o foco aqui não é sobre o que você tinha ou não tinha. O que importa é o que você pode fazer daqui pra frente, pra mudar sua trajetória. — falei, mantendo a postura firme. 

Ele deu uma risadinha, se inclinando pra frente.

— Cê é bem inteligente, viu, doutora. Mas, sei lá, não dá pra negar que tem um charme... — ele falou, com aquele sorriso de quem estava tentando me desestabilizar.

Eu senti que ele estava me provocando de propósito. Mas, eu não ia deixar isso me afetar. Ele continuava tentando me desviar do foco, fazendo piadinhas, tentando me seduzir com palavras.

— Olha, Lucas, eu não tô aqui pra esse tipo de conversa. Sei que você é casado, e mesmo assim, tá tentando me dar em cima... Isso não é certo. Eu tô aqui pra te ajudar, não pra fazer amizade. — falei, decidida a cortar esse papo.

Ele olhou pra mim, com um sorriso mais malicioso, mas logo se recompôs.

— Olha, doutora, ninguém precisa saber de nada, né? A senhora me entende, eu sei que entende. Mas, só sei que o dia que a senhora sair daqui, me dá um alô... — Lucas disse, ainda com aquele tom de brincadeira.

Eu fechei os olhos por um momento, tentando controlar minha raiva e manter o foco no que realmente importava.

— Vamos voltar ao trabalho, Lucas. Como você tem se comportado desde que entrou aqui? — perguntei, tentando trazer a conversa de volta pro que realmente importava.

A conversa seguiu por mais algum tempo, com ele tentando me desviar do foco. Mas, no final, eu consegui conduzir a sessão e terminar o que eu precisava. Ele ainda tentou algumas provocações, mas eu permaneci firme.

Saí da sala e fui conduzida de volta até a saída. O ar lá fora parecia mais leve, mas ainda sentia a pressão no peito. O que seria daquele homem? Eu sabia que ele não ia mudar tão fácil. Mas o que mais me incomodava era o fato de ele ainda tentar me manipular, me seduzir, como se fosse algo normal.

Voltei pro carro, e, enquanto dirigia, a tensão do dia inteiro ainda estava em mim. Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz foi tomar um banho. A água quente caindo sobre meu corpo parecia me purificar, tirar um pouco da sujeira emocional daquele dia. Eu precisava relaxar, desligar, mas, ao mesmo tempo, sabia que aquilo ainda não tinha acabado. A batalha, de alguma forma, ainda continuava.

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