Falso amor.

Felicia Balmort

Desço do carro com as sacolas, o motorista me ajuda e coloca todas na calçada para mim, pago ele, abro o portão e ignoro completamente Carlos Eduardo.

Felicia, vamos conversar, ele fala entrando atrás de mim, deixo as sacolas no chão e volto para fora para pegar o restante.

Felicia, escuta, minha mãe me contou que você ouviu a conversa que tivemos ontem, mas amor me deixa explicar, eu realmente preciso do divórcio, mas eu amo você, a Gabriela não significa nada para mim, eu só vou me casar porque é uma grande oportunidade.

Carlos Eduardo, eu não quero saber, o que eu ouvi ontem a noite foi o suficiente, por favor saia daqui.

Amor, eu amo você, por favor, vamos embora, olha para esse lugar, cheirando a mofo, todo sujo, vamos para a casa, vamos conversar e você vai entender que tudo que estou fazendo é por nós.

Que nós, que amor, nunca teve nós nessa relação, nunca teve amor que não fosse pela minha parte, a sua mãe e a sua irmã me faziam de empregada, me humilhavam, enquanto eu estava lá fazendo de tudo para agradar você, você estava me traindo, vai embora, eu não quero mais ver você, só me procure para assinar o divórcio.

Se o problema for elas eu compro uma casa para você, você não precisa mais voltar para lá e quando eu me casar vou sempre que puder ficar com você.

Você se ouve, meu Deus, isso só pode uma pegadinha, não é possível, como eu nunca enxerguei isso, não é possível que você sempre foi assim e eu estava tão apaixonada que não vi, eu jamais vou ser sua amante, o que você tem na cabeça, vai embora daqui, eu posso ser uma morta de fome, mas essa ainda é a minha casa.

Felicia, por favor, eu desisto do casamento, se é isso que você quer, esquecemos tudo, mas por favor me perdoa, ela fala.

Vai embora ou vou chamar a polícia, eu falo já perdendo a paciência.

Eu vou, mas eu não vou desistir, vou te dar um tempo para pensar e ver que você tá cometendo uma loucura, ele fala saindo.

Loucura foi eu ter me casado com você, bato o portão e entro, sinto a primeira lágrima rolar, mas não posso chorar, não agora, se eu quiser ter um cama para dormir eu preciso limpar tudo isso, a casa é simples, mas bem arrumada, meus pais eram professores, morreram em um acidente de carro a caminho da praia para as férias deles, eles sempre fizeram de tudo por mim, sempre economizaram para que eu pudesse fazer faculdade, eu ganhei a bolsa de estudos para designer de jóias, mas para administração eu precisava pagar, eu pensei em estudar designer e quando eu já estivesse exercendo a profissão e tivesse dinheiro eu faria administração, mas papai insistiu em pagar, meu sonho era abrir minha própria empresa de jóias e eu precisava saber administrar, por isso a faculdade de administração, mas eles morreram antes de me ver concluir a faculdade, mas agora estariam desapontados, por eu ter abandonado o meu sonho por um amor que nem mesmo era amor.

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