A Fuga do Banco de Couro

Sem muita escolha  após a conversa que tiveram na praça, Valentina entrou no carro de Lorenzo por livre e espontânea pressão atmosférica, como ela mesma pensou.

Ou talvez porque ele abriu a porta com aquele olhar que dizia “entra, ou eu te coloco no porta-malas com elegância”.

Sentou-se com rigidez. Como se o banco de couro pudesse morder.

Val: Uau, cheiro de carro novo. Ou de homem perigoso que pode me matar a qualquer momento. Difícil saber.

Lorenzo ligou o carro. Não disse uma palavra. Apenas dirigia com a calma de quem já enterrou segredos no deserto — e agora carregava um ainda mais imprevisível: ela.

Valentina, por sua vez, ativa seu modo sobrevivência versão Delírio Total.

E como não tinha um caderno abriu o seu celular discretamente e digitou em uma nota:

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 NOVO PLANO DE FUGA: OPERAÇÃO PANETONE AZUL

Objetivo: escapar do carro do mafioso bonito antes de ser assassinada ou seduzida (ambas perigosas), porém ser seduzida seria o melhor já que ele é muito gato,muito gato mesmo...

Recursos disponíveis: banana (leve machucada), chiclete, 1 moeda de R$ 0,25, sarcasmo afiado, 1 curso incompleto de yoga.

Plano:

1. Simular enjoo.

2. Fazer barulho estranho (tipo um javali gripado) até ele parar o carro.

3. Abrir a porta e correr em zigue-zague.

4. Gritar "FUI ENVENENADA COM RÚCULA!" para confundir civis assim eles vem mais rápido para me socorrer.

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Ela disfarçou. Suspirou alto. Depois murmurou:

Val: Acho que tô... meio... pálida. Você sente isso? Uma energia ruim? Tipo possessão demoníaca misturada com lactose? Ou sei lá o que?

Lorenzo, com uma sobrancelha arqueada:

Lorenzo: Valentina. Você está bem?

Val: Ou é isso ou estou virando uma entidade espiritual. Não sei. O banco tá quente demais, minha alma tá evaporando.

Lorenzo: Você está sentada num carro de luxo com ar condicionado em 18 graus.

Ela limpou o suor imaginário da testa.

Val: Sinto cheiro de sequestro. O ar tá... mafioso. Denso. Acho que vou vomitar.

Ele parou o carro. Devagar. No acostamento de uma rua quase vazia.

Valentina congelou.

Val: É agora. Ele vai me transformar em adubo.

Mas Lorenzo apenas olhou para ela.

Lorenzo: Você quer fugir?

Val: ...Não sei. Depende. Foge comigo ou de você?

Ele piscou devagar os olhos , depois encostou no volante com um leve sorriso.

Lorenzo: Você é a mulher mais confusa que já ameaçou me atacar com uma banana.

Val: E você é o homem mais elegante que já me sequestrou com educação.

Eles ficaram em silêncio por dois segundos.

Valentina, mais uma vez, tentou abrir a porta.

Trancada. Claro.

Ela olhou para ele.

Ele olhou para ela.

Val: Vai me levar pra onde?

Lorenzo: Pra um lugar onde posso descobrir quem você realmente é.

Valentina engoliu em seco.

Val: Se eu disser que sou contadora...?

Lorenzo: Eu vou rir.

Ela cruzou os braços.

Val: Então me leve. Mas saiba: sou perigosa quando tenho acesso a redes sociais e a um copo de café.

Lorenzo sorriu.

Lorenzo: Não duvido. Por isso quero você por perto assim não corro perigo.

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