Trisal da Praia: entre o Céu e as Águas
A Casa e o Vento
O sol já se preparava para se esconder atrás das montanhas quando Darlex finalmente chegou à vila. A luz dourada escorria pelas paredes coloridas das casas, refletia nas janelas e tingia o céu com um misto de laranja, rosa e azul profundo. Era como se o tempo ali andasse devagar, embalado pela brisa salgada que vinha do mar.
Darlex desceu do ônibus com uma mala em uma mão e uma bolsa atravessada no ombro. Usava uma camiseta fina, quase colada ao corpo pela viagem, e os cabelos curtos ainda cheiravam a shampoo barato de pousada.
Respirou fundo. A maresia bateu no rosto como um velho amigo.
— Que saudade de sentir isso — murmurou pra si mesmo, sem pressa.
Começou a caminhar pelas ruas de pedra batida, cercadas por casas baixas, algumas com portas abertas, outras com moradores sentados nas calçadas. A vila era pequena, mas viva. As vozes vinham de todos os cantos: risos, sons de panela, crianças correndo.
À medida que passava, Darlex notava olhares curiosos. Pessoas se entreolhavam, falavam baixo, disfarçavam mal.
— Deve ser coisa de vila — pensou. — Estranho novo sempre vira assunto.
Mas não era só ele. Ouviu alguém comentar, quase como quem deixa escapar sem querer:
— Esse aí deve ser o terceiro…
— O da casa que de aluguel
Darlex franziu o cenho. Aquilo soou estranho, mas seguiu andando. Os chinelos afundavam na areia da rua que levava direto até a casa. E quando finalmente a viu… sorriu.
Uma varanda larga, madeira envelhecida pelo sal e pelo tempo, três janelas na frente, um portãozinho de ferro meio torto. E ao fundo, depois do quintal espaçoso, o mar. Azul, calmo, infinito.
Uma varanda larga, madeira envelhecida pelo sal e pelo tempo, três janelas na frente, um portãozinho de ferro meio torto. E ao fundo, depois do quintal espaçoso, o mar. Azul, calmo, infinito.
Ele subiu os primeiros degraus da varanda e só então viu. Alguém estava ali
Um homem, de costas, mexendo no celular com a cabeça levemente inclinada. Não era alto — talvez um pouco mais baixo que ele —, o cabelo bagunçado pelo vento, a camiseta colada ao corpo revelando formas discretas, definidas.
O homem virou o rosto.
Os olhos se encontraram.
Foi como um pequeno tropeço no tempo.
A pausa durou só um segundo. Mas naquele segundo, o passado inteiro veio à tona. O último abraço. O último olhar. O que nunca foi dito. E agora… ali, os dois, de novo.
Na varanda de uma casa que os dois, sem saber, haviam escolhido ao mesmo tempo.
Darlex
Cara, quais as chances disso ter acontecido?
Darlex
Que saudade de você cara
Darlex vai até ele joga suas coisas no chão e dá uma abraço apertado nele
Kayky
Mas... você vai me esmagar assim
Kayky
O que veio fazer aqui?
Darlex
Ser cozinheiro em restaurantes da cidade é cansativo
Darlex
Resolvi dar um tempo
Kayky
Fins médicos, um projeto comunitário de saúde, me chamaram e eu vim
Kayky
Mas depois eu vou embora
Darlex da um olhar e respira fundo....
Darlex
E você teve notícia dele?
Eles falam como se suas mentes estivessem conectadas
Darlex
Ele simplesmente sumiu
Kayky
A mãe dele disse que ele saiu para trabalhar em outro estado
Darlex
Ele levou a sério a briga entre nós
Darlex
Não era isso que deveria acontecer
Kayky
Mas a gente falou cousas duras pra ele
Kayky
Ele só estava falando que queria sair para encontrar uma vida melhor
Darlex
Mas vida dele não estava boa com a gente?
Kayky
Sabe que ele não queria ter uma vida só assim
Kayky
mas ele queria ter sua estabilidade financeira
Darlex
Realmente, falamos coisas que não deveríamos
Darlex
Mas eu queria falar mais uma vez com ele
Kayky
Eu também quero o mesmo
A brisa da praia soprava nos rostos deles
Comments