Mag lembrou que faziam 10 anos.
Cuidar dela parecia ter se tornado uma rotina para ele, um hábito que ela sempre esperou que fosse mais do que isso.
Enquanto ele envolvia as bandagens ao redor de seus pés, Mag olhou para ele.
Ele ergueu o olhar e baixou a cabeça terminando de enfaixar os pés dela.
Adam, com a testa franzida, parecia absorto em seus pensamentos. Ele não perguntou sobre a origem dos ferimentos; em vez disso, sua voz soou baixa e carregada de frustração:
— Sabendo que você é surda, por que não fica em casa direito?
As palavras cortaram o ar como uma lâmina, e Mag sentiu um frio na espinha. Ele então pareceu perceber que ela não conseguia ouvi-lo. Franziu a testa novamente, mas desta vez com uma frieza que gelou seu coração:
— E por isso que não quero me casar com alguém como você.
Aquelas palavras reverberaram em sua mente como um eco distante e doloroso. Mag sentiu o coração apertar dentro do peito, como se estivesse sendo esmagado sob o peso da rejeição.
Lembrou-se de sua adolescência, quando estava no ensino médio e um grupo de crianças a seguia, rindo e brincando. Ela não conseguia ouvir nada do que diziam; tudo era apenas sussurros abafados pelo silêncio ao seu redor. A sensação de isolamento era quase palpável, e mesmo assim ela continuava andando, agindo como se nada estivesse errado.
Mas Adam, que veio lhe buscar, não conseguiu se conter e correu para lutar.
No final, ele estava coberto de hematomas e a carregou em seus braços, preocupado.
Ela não entendia e perguntava por que ele lutou.
Ele disse: "Porque eles te chamaram de surda. Mag, você não está morta, você tem ouvidos.
Eu serei seus ouvidos.
Ele chorou muito naquele dia.
Foi naquele dia, pela primeira vez que ela realmente entendeu que o mundo dos surdos é tão sombrio e cruel.
Agora, naquela lembrança vívida, Mag percebeu que havia construído muros ao seu redor para se proteger da dor. Mas cada palavra de Adam era uma rachadura nesses muros, revelando a fragilidade de sua autoestima.
Mas ela não se importava, porque Adam tinha prometido que ele sempre seria dela.
Então por que ele quebrou o acordo?
As lágrimas quase não puderam ser contidas.
Ela apertou sua palma com força.
Talvez sua expressão não estivesse certa.
Ele franziu os lábios e rapidamente sinalizou:
Dói?
Antes que ela pudesse responder, o telefone dele vibrou.
Na frente dela, ele abriu uma mensagem de voz de Catherine.
"Sr. Watson, você é tão ruim que me deixou com as pernas bambas."
Catherine e Adam eram colegas de faculdade.
Depois de retornar ao país, ela se tornou sua secretária. Eles frequentemente trocavam mensagens de voz.
Mesmo que algumas fossem enviadas tarde da noite, por confiança em Adam, Mag sempre pensava que eles estavam discutindo trabalho.
"Quer tentar algo ainda pior?", Adam respondeu à mensagem dela, e o sorriso em seu rosto nunca desapareceu.
"Com quem você está conversando?"
De repente, Mag sinalizou, e Adam ficou surpreso.
Mas ele rapidamente se acalmou e sinalizou:
"Um cliente, há uma pressa em algumas mercadorias."
Depois de sinalizar, ele imediatamente enviou uma mensagem de voz para a outra pessoa.
"Comprei um conjunto de lingerie para Mag, parece bom, comprarei outro na próxima vez e você pode usá-lo para mim."
Nojento.
"Eu jamais vou querer usar a mesma coisa que aquela surda"
Não aguentando mais ouvir a conversa vulgar deles, Mag mancou em direção ao quarto, abraçando a foto de família com seus pais e se enrolou na cama, cobrindo seus ouvidos com o cobertor.
Ela deixou o desespero avassalador lhe afogar.
Mas a porta era muito fina e, não importa o quanto ela tentasse, não conseguia bloquear os dois rindo e conversando por videochamada lá fora.
Cada palavra parecia uma tortura.
Este homem é realmente imundo.
Não o quero mais.
Adam e Catherine não trocaram muitas palavras virtuais antes que a porta alta da sala de estar se abrisse, revelando um momento que Mag não queria presenciar.
Sentada na cama, ela sentiu o peso da solidão se instalar em seu peito. O relógio na parede marcava meia-noite, e a consciência do que eles estavam fazendo era como uma faca afiada cortando seu coração.
A brisa noturna entrava pela janela, trazendo consigo um alívio temporário, dissipando gradualmente a névoa que envolvia suas emoções.
Mag olhou para a mesa de cabeceira, onde o convite dourado do casamento estava cuidadosamente posicionado. As letras em relevo brilhavam sob a luz suave, mas para ela, eram apenas um lembrete da dor do que estava por vir.
Com um impulso de buscar conforto, Mag pegou o telefone e discou o número dos seus pais adotivos. O toque soou duas vezes antes de alguém atender:
"Mãe, pai, quero visitar vocês dois, o vovô e a vovó."
A voz deles do outro lado da linha estava cheia de preocupação, como se sentissem a agitação em seu tom:
"O que aconteceu? Algo deu errado?"
Eles rapidamente lembraram que ela não conseguia ouvir e o silêncio tomou conta da conversa, exceto pelo som dos dedos deles digitando respostas no celular. Ela respirou fundo antes de responder:
"Não, só sinto falta de vocês."
A sinceridade em suas palavras fez com que sua voz tremesse com soluços contidos.
A conexão com seus pais adotivos era um porto seguro em meio à tempestade emocional que estava enfrentando. Enquanto falava, as lágrimas começaram a escorregar pelo seu rosto. A saudade invadia seu coração como uma onda avassaladora; ela precisava deles mais do que nunca naquele momento de vulnerabilidade. A ligação se transformou em um espaço onde Mag podia ser autêntica, sem barreiras ou julgamentos.
Adam e Catherine estavam no sofá, envolvidos em suas próprias emoções, rindo e sussurrando palavras íntimas. O barulho deles, risadas e suspiros, ecoava pela sala, uma sinfonia de momentos e gemidos que eles achavam Mag não podia ouvir.
Era como se estivessem em um mundo à parte, completamente alheios ao que ela estava passando, enquanto a solidão se instalava no coração de Mag.
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Elenir Lima
Dois ordinários, gostaria muito autora que ela tomasse uma atitude, que ela começasse a se amar e visse que ela não precisa dele pra continuar viva e que ela saísse do quarto determinada e acabasse com a pouca vergonha dos dois e depois desse um pé na bunda desse canalha e fosse viver imponderadamente.
2025-06-03
5
Marilena Yuriko Nishiyama
só espero que a Mag dê uma reviravolta em sua vida e que deixasse esse crápula plantado no altar
2025-06-03
1
Lorrainecristinioliveira Oliveira
ela poderia ajustar provas e desmarcar eles bem no dia do casamento
2025-06-03
1