EPISÓDIO 3 —
Liz passou a aula inteira de braços cruzados, encarando Rian como se ele fosse um inimigo declarado. E talvez fosse. Cada palavra, cada gesto dele a fazia sentir um incômodo crescente, como se ele tivesse o poder de invadir seu espaço sem pedir permissão. Ela detestava aquele sorriso arrogante, a forma como ele parecia sempre ter controle de tudo até das pessoas ao seu redor.
Ele fingia não notar, mas vez ou outra seus olhos se encontravam com os dela. E sempre que isso acontecia, uma tensão indescritível se formava no ar, como se o simples ato de olhar um para o outro fosse suficiente para criar uma conexão ou talvez uma colisão. E o maldito ainda sorria, como se estivesse se divertindo com tudo aquilo.
Era irritante. Arrogante. Intenso.
Liz desviava o olhar imediatamente sempre que seus olhos se cruzavam com os dele, mas a sensação de estar sendo observada não desaparecia. Ela tentava se concentrar na aula, mas a presença dele, como sempre, a desestabilizava. Ele não precisava falar, apenas estar ali já era o suficiente para deixá-la desconfortável. Ele sabia como fazer isso, como sempre fazia com todos ao seu redor.
No final da aula, enquanto os alunos se aglomeravam em volta da mesa, empolgados para tirar selfies com o "professor gato", Liz permaneceu sentada. Guardava os materiais com calma exagerada, como se a pressa tivesse desaparecido do seu corpo. Na verdade, só queria evitar a muvuca e principalmente ele.
Mas, claro, o universo parecia gostar de pregar peças.
— Está fugindo de mim, aluna número um?
Rian falou ao se aproximar, parando ao lado da mesa dela com aquele sorriso presunçoso estampado no rosto. Ele se aproximava dela como se tivesse todo o direito do mundo, sem hesitar.
Liz levantou o olhar, firme, sem se intimidar. Seus olhos castanhos fixaram-se nos dele com determinação, mas no fundo, uma pontada de algo mais a fez hesitar por um segundo. Não era medo, não, mas algo estranho que ela não queria admitir nem para si mesma.
— Só estou tentando evitar mais uma troca de cafés… ou de egos inflados.
Ele soltou uma risada baixa, quase divertida. Como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo.
— Você tem sempre uma resposta na ponta da língua, né?
Liz o ignorou por um instante, voltando a arrumar seus materiais. Não tinha tempo para perder com aquele tipo de conversa. Mas ele não desistiria tão fácil. Ele nunca desistia.
— E você tem sempre um comentário arrogante pronto.
— Gosto disso.
Ele inclinou a cabeça levemente, os olhos fixos nela. O tom de voz dele era suave, quase sedutor.
— Você não baixa a guarda. A maioria das pessoas tenta me agradar.
Ela estremeceu por dentro, mas não cedeu. Era sempre assim. Ele jogava com as palavras e ela se sentia desafiada a não deixar transparecer o quanto ele a mexia. Mas, por dentro, um pedaço de si desejava, quase sem querer, baixar a guarda. Mostrar um pouco de quem realmente era. Mas isso não aconteceria. Não com ele.
— Pois eu não sou a maioria
disse, levantando-se devagar e ficando frente a frente com ele. O rosto dele estava ali, a poucos centímetros do seu, e ela podia sentir o cheiro de seu perfume algo que a fazia querer desviar os olhos, mas não podia.
— E, sinceramente? Ser seu fã não está nos meus planos.
Rian a observou por um instante, o sorriso sumindo apenas por um segundo. Era como se ele estivesse analisando cada palavra, cada gesto dela. Como se, no fundo, estivesse tentando entender algo mais profundo do que apenas uma provocação. Depois, deu um passo para o lado, abrindo caminho com um movimento sutil, mas intencional.
— Até semana que vem, Liz.
Ela travou. Como ele sabia seu nome?
— Como...?
— Está na lista de chamada
ele respondeu, dando de ombros, mas com um brilho travesso nos olhos. Ele estava se divertindo com o desconforto dela.
— E porque você é difícil de esquecer.
Liz saiu da sala com o coração acelerado, mas o semblante firme. Não ia dar moral. Não podia. Ele era exatamente o tipo de problema que ela sempre evitou: bonito demais, seguro demais, acostumado a ter tudo e todos aos seus pés.
Ela caminhou pelos corredores, tentando se acalmar. Mas uma sensação estranha a acompanhava, como se Rian tivesse invadido não só o seu espaço físico, mas também o território do seu pensamento. Ela tentava se convencer de que não deveria se importar. Ele era apenas mais um arrogante. Mas, por dentro, sabia: ele já estava mexendo com ela.
Cada olhar trocado, cada frase provocadora. Ele não a deixava em paz. E o pior? Ela não queria que ele a deixasse em paz.
Era como se estivessem numa guerra silenciosa, onde nenhum dos dois estava disposto a ceder. E pior: uma parte dela, uma parte que Liz lutava para ignorar ,começava a gostar do desafio. Ele a desafiava constantemente, e, de alguma forma, ela se via sendo puxada para esse jogo.
Ele era um campo minado, e ela sabia. Mas tinha algo nos olhos de Rian Cárter que parecia chamá-la para o perigo.
E, pela primeira vez em muito tempo, Liz não tinha certeza se queria recuar.
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Atualizado até capítulo 60
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