Passado assombrando

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𝐑𝐎𝐁𝐄𝐑𝐓𝐀
A madrugada retorna com um calor nostálgico. Após passar a humilhação de ser rejeitada pelo meu próprio noivo, realizo o desejo no meu sonho, amada de maneira almejava
Deitada na cama, um corpo nu prolonga o beijo que iniciou faz cinco minutos, sedentos pelo pecado. Passa a mão pela minha coxa, envolvendo-a mais no seu quadril, que mexia para frente e para trás
Os gemidos eram abafados pelo beijo, meu corpo se contorcia de dor pela ação sexual acontecendo de mim. Não pedia para parar, mesmo não reconhecendo o gosto, gostava da penetração grande e grossa, se segurando acabar com o prazer
Gostava daquilo, mas Anderson proporcionava mais, poderia estar em outros corpos, mas ele nunca me deixou com fome ou sede. E gostar daquilo, me fazia sentir péssima com a situação, o sentimento de traição, deslealdade e ingratidão
Como isso abro os olhos a força, vendo tudo escuro. Ofego alto, tremia ao perceber ser um sonho, foi falso e nada me penetrava
Continuava sendo do Anderson. Eu não traio ele. Lealdade era meu lema e cumpria ele com toda a sinceridade do mundo
Viro de lado e o vejo deitado, preso num sono profundo
Anderson
Anderson
Por que acordou?
Bem... foi isso que imaginava
Ele não reage abrindo os olhos, mostrando preocupação. Anderson aceitava o sono, mas também não poderia deixar de cuidar de mim
Roberta
Roberta
Te trai no sonho — 𝐑𝐞𝐬𝐩𝐨𝐧𝐝𝐨 𝐛𝐚𝐢𝐱𝐨 — Desculpa
Anderson
Anderson
Era um homem bonito pelo menos?
Roberta
Roberta
Não. Você é o mais lindo de todos
Ele sorri de canto. Seu braço abre um espaço planejado. Sem pensar inúmeras vezes, enfio-me lá dentro, sentindo o sabor do acolhimento
Anderson
Anderson
Amanhã nos conversamos
O silêncio é minha resposta
Não passando de dez minutos, ronco junto com o Anderson
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Desço as escadas, sonolenta. Esfrego o olho com o punho fechado, bocejando alto. Sigo a trilha de café fresco, produzindo ansiedade de consumir cafeína da minha cozinheira predileta
É uma senhora de meia idade, ela sorri assim que me vê sentar na bancada, cumprimentá-la e como todas as manhãs, elogiar seu café
Anderson apertada as teclas do notebook ao meu lado, rápido na escrita, concentrado no projeto. Sua mão direta pausa para pegar a xícara de café, escravizando a outra com a escrita
Adiciono o café na xícara para mim, puxando papo com a cozinheira. É domingo de manhã, apenas ela vem trabalhar, preparando o café e o almoço. Após isso, ela vai embora e volto quarta-feita
Dias cumpridos para alguém que é fã dos seus temperos caseiros e o modo de preparo da sua comida
Passo meia hora rindo, bebendo mais café e pão com frios na companhia da cozinheira sentada na minha frente. Anderson não para, não resta segundos de descanso quando ativa o modo concentrado, esquecendo da casa, das pessoas, da futura esposa
O intervalo termina e a senhora volta ao trabalho, dando inicio ao preparo do almoço. Puxo ao sentir um tédio me consumir quando ela se vai, adiciono mais café na xícara, engolindo de pouquinho em pouquinho
Cruzo os braços na bancada. É chato morar numa casa com poucas pessoas, fui acostumada assim, vivia eu e minha mãe em silêncio. Até um período que se apaixono e meteu o cara dentro de cara com um mês de namoro. Desde então, minha moradia passou a ser um inferno barulhento
Olho para o Anderson de canto, notando sua noite mal dormindo pelas olheiras inchadas, ele mordia um pedaço do lábio inferior, aumentando a velocidade nos dedos
Ele repete o mesmo movimento de pegar o café, notando-se que o final ainda chegado. Ele para, bufando
Pego a garrafa de café, acrescentando-se a quantidade que considero suficiente. Seu agradecimento curto, voltando ao trabalho
Roberta
Roberta
Vai ficar o dia inteiro nesse notebook? - 𝐏𝐞𝐫𝐠𝐮𝐧𝐭𝐨, 𝐢𝐧𝐝𝐢𝐠𝐧𝐚𝐝𝐚. 𝐐𝐮𝐞𝐫𝐨 𝐚𝐭𝐞𝐧𝐜̧𝐚̃𝐨! - É domingo
Anderson
Anderson
Estou te esperando contar o que aconteceu ontem
Calo com outra golada de café
Anderson
Anderson
Primeiro no jardim, depois na banheira, por último de madrugada. Vai agir como se fosse normal
Roberta
Roberta
Para mim é. Sabe disso. Não é minha primeira vez sendo assim
Anderson
Anderson
Está escondendo algo
Mordo meu lábio, nervosa
Como conto ao cara que transo há dez anos o quão sozinha sou? Como é não ter ninguém para conversar, uma irmã para partilhar meus segredos, ser íntima igual ele é com seus irmãos por ligação
O barulho das teclas acaba. Anderson dobra um braço apoiando na pedra da bancada, dando uma rápida encarada em mim
Anderson
Anderson
Fica linda com esse vestido - 𝐄𝐥𝐨𝐠𝐢𝐚, 𝐬𝐞́𝐫𝐢𝐨
Após acordar, banhei na água morna, perdendo o menos tempo no banheiro. As lembranças da noite passada seguiam frescas e torturante. Penteie meu cabelo com os próprios dedos, amarando com um elástico preto
Ao escolher o vestindo azul marinho com bolinhas brancas, um modelo casual e simples de tomara que caia, não tive muitas opções, pegando qualquer um pela frente, me vestindo depois de me proteger com meu hidratante corporal de jambo rosa favorito
Anderson
Anderson
E cheirosa...
Roberta
Roberta
Não é pra você — 𝐂𝐨𝐫𝐭𝐨 𝐬𝐞𝐮𝐬 𝐞𝐥𝐨𝐠𝐢𝐨𝐬 𝐟𝐚𝐥𝐬𝐨𝐬
Ele junta as sobrancelhas
Anderson
Anderson
Tá nervosa comigo?
Roberta
Roberta
Por quê? Nunca faz nada — 𝐉𝐨𝐠𝐨 𝐢𝐫𝐨𝐧𝐢𝐚 𝐧𝐚 𝐟𝐚𝐥𝐚
Anderson
Anderson
Roberta, não sei o que se passa nessa cabeça, mas se irritar comigo não vai te levar a lugar nenhum. Pelo contrário, só vai estragar nosso relacionamento
Roberta
Roberta
Ontem eu te quis, mas você me rejeitou
Anderson
Anderson
Nunca. Sou covarde, Roberta. Adoro tudo que faço com você, na cama, na cozinha, na banheira. Mas não era aquilo que precisava ontem
Roberta
Roberta
E sabe o que preciso, Anderson? Conhece o tormento que vivencio diariamente, além de mim? Hein?
A campainha toca
Anderson
Anderson
Não vivo, mas conheço. Não é dez dias ou dez meses, são dez anos que te ajudo a lidar com essa dor. Nunca foi verdadeira suficiente comigo, conhece minha mãe, meus irmãos, todos os capítulos da minha vida. Agora você, eu não sei nada. E tudo bem. Aceito lidar com qualquer desafio para ficar com você — 𝐆𝐫𝐢𝐭𝐚. 𝐃𝐞𝐬𝐦𝐨𝐧𝐬𝐭𝐫𝐚 𝐬𝐮𝐚 𝐝𝐨𝐫 𝐝𝐞 𝐚𝐧𝐨𝐬 𝐩𝐨𝐫 𝐦𝐞 𝐚𝐭𝐮𝐫𝐚𝐫 𝐩𝐨𝐫 𝐭𝐚𝐧𝐭𝐨 𝐭𝐞𝐦𝐩𝐨 𝐞 𝐧𝐮𝐧𝐜𝐚 𝐫𝐞𝐜𝐥𝐚𝐦𝐚𝐫, 𝐬𝐞𝐦𝐩𝐫𝐞 𝐬𝐞𝐠𝐮𝐫𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐟𝐢𝐫𝐦𝐞𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐦𝐢𝐧𝐡𝐚 𝐦𝐚̃𝐨 — Quando estiver se sentindo bem, fazemos como desejar, mas nessa época que se perder da realidade, não! — 𝐅𝐢𝐧𝐚𝐥𝐢𝐳𝐚, 𝐥𝐞𝐯𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐚 𝐚𝐭𝐞𝐧𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐚 𝐟𝐮𝐧𝐜𝐢𝐨𝐧𝐚́𝐫𝐢𝐚 𝐜𝐡𝐞𝐠𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐚𝐬𝐬𝐮𝐬𝐭𝐚𝐝𝐚
???
???
Roberta, vieram visitar a senhora — 𝐌𝐚𝐧𝐭𝐞́𝐦 𝐚 𝐜𝐚𝐥𝐦𝐚 𝐭𝐨𝐝𝐚 𝐝𝐨 𝐦𝐮𝐧𝐝𝐨
Procuro proteção para Anderson, sentindo meu coração se descontrolar. Ele se levanta do assento, rapidamente, não dando a liberdade da funcionária revelar mais nada
Corro atrás dele, conseguindo pegar a ponta do dedo indicador, medrosa com a situação. Não tinha como alguém me visitar a não ser a família do Anderson, minha sogra que é como uma mãe e minha cunhada que amo como uma irmã mais velha
Ao entra na sala sinto um arrepio pelo corpo inteiro ao descobrir quem interrompia o meu domingo. Quatro homens com altura de quase dois metros, uniformizados com roupas pretas e colete, um cinturão carregando pertences pesados
Perco a respiração ao ver os distintos presos no coletes, mostrando a qual unidade de polícia eles pertenciam
O mais alto entre eles, barbudo, peitoral como do Jason Momoa, posturado com as mãos do bolso, curta a distância entre nós, estendendo a mão direita para meu noivo
O aperto de mãos é rápido, mostrando respeito e educação, preparando a bomba
Anderson
Anderson
Senhor policial, a que devo a honra da visita em pleno domingo?
O policial, aquele que relembro cada característica sua há décadas atrás, fixa em mim, sorrindo como uma pessoa que matou a saudades. Escondo atrás do Anderson, não dando razões para Anderson se desconfiar de nada
Policial
Policial
Sinto muito, mas sua namorada é suspeita de um assassinato da sua amiga Kimmy. Contudo, ela está presa e precisará ficar sob vigilância por vinte quadro horas
Anderson
Anderson
Assassinato?
Roberta
Roberta
Kimmy? — 𝐒𝐚𝐢𝐨 𝐝𝐞 𝐭𝐫𝐚́𝐬 𝐝𝐨 𝐀𝐧𝐝𝐞𝐫𝐬𝐨𝐧 — Acharam o suspeito, ele está preso, o caso se encerrou — 𝐃𝐞𝐟𝐞𝐧𝐝𝐨-𝐦𝐞, 𝐦𝐮𝐝𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐚 𝐞𝐦𝐨𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐝𝐞 𝐦𝐞𝐝𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐫𝐚𝐢𝐯𝐚
Policial
Policial
Temos o mandato que podemos levá-la- 𝐃𝐞𝐬𝐝𝐨𝐛𝐫𝐚 𝐨 𝐩𝐚𝐩𝐞𝐥 𝐝𝐨 𝐛𝐨𝐥𝐬𝐨 𝐝𝐚 𝐜𝐚𝐥𝐜̧𝐚, 𝐞𝐧𝐭𝐫𝐞𝐠𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐦𝐞𝐮 𝐧𝐨𝐢𝐯𝐨, 𝐬𝐢𝐥𝐞𝐧𝐜𝐢𝐨𝐬𝐨
O segundo policial retira à algemas do cinturão, abrindo-as, vindo na minha direção
Policial
Policial
Por favor, Roberta, não insista. Com a sua ajuda, podemos provar a sua inocência- 𝐀𝐜𝐨𝐧𝐬𝐞𝐥𝐡𝐚 𝐚𝐨 𝐩𝐞𝐫𝐜𝐞𝐛𝐞𝐫 𝐦𝐢𝐧𝐡𝐚 𝐢𝐝𝐞𝐢𝐚 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐚 𝐬𝐞𝐫 𝐚𝐥𝐠𝐞𝐦𝐚𝐝𝐚
Mordo os lábios, não saboreando minhas emoções. Trêmula pelo medo, engolindo as lágrimas pela tristeza de lidar isso na frente da pessoa que mais amo, aquele que me idolatrada como uma deusa grega, perfeita ao seus olhos. Sinto decepcionar meu noivo por estragar essa imagem perfeita idealizou de min
Roberta
Roberta
Amor — 𝐕𝐢𝐫𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐞𝐥𝐞 — Desculpa por ver isso. Não vou lutar, não matei ninguém e estou com a consciência limpa — 𝐏𝐞𝐠𝐨 𝐬𝐮𝐚𝐬 𝐦𝐚̃𝐨𝐬, 𝐞𝐧𝐭𝐫𝐞𝐥𝐚𝐜̧𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐧𝐨𝐬𝐬𝐨𝐬 𝐝𝐞𝐝𝐨𝐬 — Vou isso que me ensinou, lembra? — 𝐄𝐥𝐞 𝐚𝐜𝐞𝐧𝐚 — Sou inocente e vou provar à eles
Anderson
Anderson
Posso chamar um advogado? — 𝐀 𝐩𝐞𝐫𝐠𝐮𝐧𝐭𝐚 𝐞́ 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐨 𝐩𝐨𝐥𝐢𝐜𝐢𝐚𝐥
Policial
Policial
Tem o direito disso
Roberta
Roberta
Eu te amo — 𝐁𝐞𝐢𝐣𝐨 𝐬𝐞𝐮𝐬 𝐥𝐚́𝐛𝐢𝐨𝐬
O policial toma a frente me algemando, encerrando a cena romântica. Sigo seus passos para fora, sendo cercada pelo restante dos policiais atrás de mim
Caminho calada vendo as duas viaturas no portão, vendo a notícia das pessoas em volta que assistiam de pijamas na porta de suas casas. Entro no carro, envergonhada, sentindo ser pega por câmaras, registrando a maior humilhação da minha vida
Como havia pensamentos para o terror latejando o espaço vácuo da minha mente. Relembrar do passado causa gatilhos, solidão com a escuridão que já sofri, e reviver tudo novamente, traz a sensação de querer morrer
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