êxtase

Capítulo 5 — Fronteiras

Ainda com a taça na mão, Elisa continuava sentada na varanda quando ouviu o portão abrir. O som do carro sendo estacionado. Passos pesados na garagem. O ritual de sempre.

— Cheguei — anunciou o marido ao entrar, jogando as chaves sobre a bancada da cozinha.

Ela respondeu com um "oi" baixo, quase imperceptível, sem se virar.

— E aí, as meninas se comportaram? — perguntou, abrindo a geladeira atrás de uma cerveja.

— Tudo normal — disse, levando a taça vazia aos lábios só para disfarçar o silêncio.

Ele bebeu em pé mesmo, como sempre fazia. Depois, passou por ela e deu um beijo rápido em sua cabeça. Elisa fechou os olhos, desconfortável.

— Tô morto de saudade, amor — ele sussurrou, e ela já sabia o que vinha depois.

Na cama, deixou que ele a tocasse. Não era violência, não era agressividade. Era o peso do costume. Era o papel que ela havia aprendido a representar por tantos anos.

Mas naquela noite... o rosto que ela viu quando fechou os olhos não era o do homem ao seu lado.

Era Júlia.

A lembrança do sorriso torto. O jeito como ela a olhava sem medo, sem filtro.

Seu corpo reagia à memória, não ao presente.

Tentou não chorar.

Tentou não fugir.

Mas por dentro, já não estava ali.

Depois que ele adormeceu, Elisa foi para o banheiro. Ligou o chuveiro e deixou a água escorrer pelo corpo, tentando se lavar de si mesma.

Foi então que o celular vibrou no chão frio de cerâmica, onde ela o havia deixado ao lado da toalha.

Júlia:

"Você tá bem?"

Elisa encostou a testa nos azulejos frios.

Respirou fundo.

E respondeu:

"como adinhinhou que não?."

O tempo que levou para a resposta chegar foi breve, mas pareceu uma eternidade.

Júlia:

"não sei sao 23h achei que você não tava legal ."

-"obrigada pela mensagem mas ja é tarde, vou dormir, tchau julia"

Elisa sentou-se no chão do box, abraçando os joelhos, a água quente caindo sobre seu corpo trêmulo.

Ali, entre o vapor e a verdade, soube: estava passando da linha.

E não sabia mais se queria voltar.

Na manhã seguinte, Elisa acordou antes de todos. O marido já tinha saído cedo para uma reunião e a casa estava em silêncio. Ainda sentia o peso da noite anterior nos ombros, mas se obrigou a seguir.

Preparou o café da manhã das meninas, penteou o cabelo da filha mais nova, ajeitou a mochila e a levou até a escola. No caminho, trocou poucas palavras com Sofia, que estava mais calada do que o normal no banco ao lado.

Depois de deixarem a pequena, seguiram juntas para a faculdade. O rádio tocava algo suave, mas o clima entre as duas estava carregado de algo não dito.

Na sala de julia Elisa tentou se distrair corrigindo os deveres da turma. A caneta vermelha tremia levemente em sua mão. E então, vibração sutil no celular ao lado.

Era Júlia.

Júlia:

> “Você também sente isso? Esse desejo?”

“Você já ficou com alguma mulher?”

Elisa congelou. Levantou os olhos devagar.

Na fileira da frente, Júlia estava ali. Encostada na carteira, fingindo prestar atenção na leitura que a turma fazia em silêncio. Mas os olhos dela... estavam nela discretamente

O corpo de Elisa reagiu antes da mente. Um arrepio percorreu sua nuca, e o coração disparou no peito. Suas mãos suavam, a respiração descompassou.

Ela digitou com os dedos trêmulos:

Elisa:

> “Não nunca, e Isso não pode acontecer. Eu sou sua professora, Júlia. Você ja está passando dos limites.”

Mas mesmo enquanto escrevia, sua perna balançava de nervoso. Júlia percebeu. Ela viu.

Não respondeu nada. Apenas virou o rosto para frente, como se nada tivesse acontecido. Como se tudo fosse mesmo um exagero.

No fim do dia, Júlia saiu junto com Sofia, e as duas foram no banco de trás do carro, rindo e conversando. Elisa dirigia em silêncio, o rosto sério, mas o coração em guerra.

Em casa, enquanto Elisa terminava de preparar o lanche na cozinha, ouviu a conversa que vinha da sala.

— Eu acho q gosto do Gustavo, mas ele é meio lerdo, sabe? — disse Sofia rindo.

— Homens geralmente são — respondeu Júlia com um tom de provocação leve.

— E você? Gosta de alguém?

— Já gostei agora nao sei ainda eu gosto de mulher né — confessou Júlia. — Desde pequena, na verdade. Sempre soube. E você?

Houve um silêncio breve. Elisa parou de mexer a colher no copo, ouvindo com mais atenção.

— Acho que não, não sei nunca experimentei neh, mas nãosei se seria ma ideia assim. Mas... nunca falei isso com ninguém. Você é a primeira.

— Que honra — disse Júlia, com suavidade. — E, olha... não tem nada de errado nisso.

Elisa respirou fundo. O lanche já estava pronto, mas ela ficou ali, imóvel, apoiada na pia.

Júlia estava abrindo portas dentro daquela casa — e dentro dela também.

Portas que talvez nunca mais se fechassem.

Elisa fingia estar ocupada terminando o lanche na cozinha, mas a cabeça latejava, confusa e quente. Tentava ignorar a conversa que acabara de ouvir — tentava ignorar a si mesma.

Foi então que ouviu passos se aproximando.

Júlia entrou casualmente na cozinha, caminhando até o filtro de água.

— Vou pegar um copo, tá? — avisou, com a voz mais baixa, quase íntima.

Elisa assentiu sem olhar para ela, concentrada em cortar uma maçã que já estava em fatias perfeitas há tempos.

Júlia abriu o armário, pegou o copo e encheu de água com calma. Bebeu um gole e, então, sem aviso, disse:

— Você não é nada sutil ouvindo conversa alheia, professora.

O corte da faca parou no meio da maçã. Elisa ficou imóvel, sem coragem de responder.

Júlia sorriu de lado, se aproximando devagar.

— Relaxa... — sussurrou, como se partilhassem um segredo. — Eu gosto de ser ouvida.

Elisa deu um passo para trás, instintivamente. Mas a cozinha era pequena demais para fugir.

Júlia avançava, e ela recuava, até sentir as costas tocarem o balcão. Sem saída.

— Sabe... — Júlia falou, a voz rouca, quente, cheia de tensão e malícia. — Eu tenho acesso a cada parte do seu corpo que está em turbulência agora. Sei que poderia encostar, tocar, invadir. Seria fácil.

Ela se aproximou ainda mais. Elisa sentia o calor do corpo dela contra o seu, sem nem mesmo tocarem.

— Mas eu não sou assim — continuou Júlia, a boca perigosamente próxima da sua orelha. — Vou deixar que você me peça... ou quem sabe me implore.

Elisa fechou os olhos por um instante, o corpo inteiro em alerta, o coração martelando nas costelas.

Então, a voz de Júlia veio ainda mais baixa, como uma faca de veludo rasgando sua resistência:

— Você não me convenceu com aquela mensagem... Talvez você seja hetero, professora. Mas só para sua família.

— Porque eu e você sabemos que hetero mesmo... você não é.

Elisa ficou sem ar.

Quando abriu os olhos, Júlia já estava saindo da cozinha, voltando para a sala, sorrindo para Sofia como se nada tivesse acontecido.

E Elisa ficou ali, encostada no balcão, o corpo tremendo, a alma em combustão, e uma certeza gritando dentro dela:

Nunca mais seria a mesma.

---

Mais populares

Comments

Maria Andrade

Maria Andrade

Julia vai fazer a professora infartar kkkkk

2025-05-07

2

Gabryella Barreto

Gabryella Barreto

Julia:😁🤣🤪😜
a prof: 🥴🤤😏🙂‍↕️

2025-05-15

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!