CAPÍTULO — DONO DA NOITE
RAVI
O dia tinha sido um inferno.
Reuniões intermináveis, problemas para apagar, falsos aliados tentando sorrir pelas costas.
Quando finalmente terminei, só queria tomar um banho e lembrar quem eu era de verdade.
Em casa, tirei a gravata com um puxão irritado, deixei a camisa cair no chão e entrei debaixo da ducha gelada.
A água escorrendo no corpo era como gasolina em fogo.
Eu precisava extravasar.
Vestido com uma calça preta justa e camisa dobrada até os cotovelos, peguei a chave do carro e saí, deixando para trás o homem que todos conheciam.
Naquela noite, eu seria apenas Ravi — o predador.
**
Cheguei ao Little Club pouco antes da meia-noite.
As luzes externas piscavam em vermelho, como um convite para o pecado.
No estacionamento, encontrei Diogo já me esperando, tenso como sempre quando lidava comigo.
— Senhor Ravi, como o senhor ordenou, só deixamos a Pantera aqui dentro.
Assenti com a cabeça, frio.
— Faça ela subir no palco. Apague todas as luzes.
Assim que ela começar, anuncie quem é o verdadeiro dono desta merda toda.
Depois, desapareça.
Diogo engoliu seco, assentiu e sumiu.
**
Entrei.
O salão estava mergulhado na escuridão.
O cheiro de bebida, cigarro e desejo impregnava o ar.
Sentei na melhor poltrona, à frente do palco, sozinho, com a paciência de quem já tinha vencido antes mesmo do jogo começar.
**
A música começou.
Som grave.
Batida lenta.
E então ela surgiu, como uma miragem.
A Pantera.
Vestida com um top minúsculo e um short colado no corpo, curvas perigosas, pernas que poderiam arruinar qualquer homem.
Ela deslizou pelo palco, cada movimento uma provocação involuntária.
Eu saboreava a cena.
Saboreava o pânico disfarçado nos olhos dela por trás da máscara.
**
Então, Diogo falou no microfone:
— Senhoras e senhores, é uma honra apresentar... o verdadeiro proprietário do Little Club: Ravi Trajano Telles.
As luzes explodiram.
Ela me viu.
E congelou.
O pânico atravessou o corpo dela como uma descarga elétrica.
Subi no palco devagar, como quem saboreia a caça já rendida.
Parei ao lado dela, tão perto que podia sentir a tremedeira sutil no corpo dela.
Inclinei-me até seu ouvido.
— Eu avisei que haveria consequências, Pantera.
Ela não respondeu.
Não conseguia.
**
Minhas palavras ainda ecoavam quando meus parceiros chegaram.
Donatello veio primeiro, discreto, sempre de olho em tudo.
Depois, os outros três: caras acostumados a resolver problemas da maneira mais rápida e suja possível.
Sentei-me de novo, cruzando a perna, dominando a cena.
**
Por alguns segundos, pensei que ela fosse fugir.
Se fosse uma mulher de respeito, teria descido do palco e mandado tudo à merda.
Mas não.
Ela ficou.
E quando a música retomou, ela começou a dançar novamente.
Desta vez, não para se proteger.
Mas como uma cortesã.
Provocante.
Ardente.
**
Donatello se aproximou, rindo baixo:
— Agora eu entendo sua obsessão, Ravi.
Essa mulher é... deslumbrante.
Inclinei a cabeça, o cigarro entre os dedos.
— Vamos ao que interessa. — falei, a voz cortante como navalha.
**
— Difícil, cara. — disse um dos parceiros, os olhos grudados no corpo dela. — Difícil pensar em negócios com essa visão divina na frente.
Olhei para a Pantera.
Ela dançava... mas seus olhos estavam cravados nos meus.
Desafiando.
Implorando.
Uma vadia orgulhosa... que precisava ser quebrada.
**
Fiz um gesto curto.
Ela entendeu.
Veio até nós, hesitante.
Notei como suas mãos tremiam ao se aproximar.
O medo nela era como um perfume.
Inebriante.
**
— Vá pegar bebidas para meus amigos.
Depois pode se retirar. — ordenei, a voz fria como gelo.
Um dos parceiros soltou uma gargalhada debochada.
— Não precisa ir embora, linda.
Quanto você cobra pra passar a noite comigo?
Bati a mão forte na mesa.
O som ecoou pelo salão.
Ela congelou.
Eu encarei.
— Você não ouviu, Pantera?
Vai pegar nossos drinks.
— Sim, senhor. — respondeu ela, quase num sussurro.
**
Ela sumiu, e os caras riam, bêbados de poder.
**
Minutos depois, ela voltou, trazendo uma bandeja com nossos copos.
Tremendo tanto que quase derrubou tudo.
Quando se aproximou para servir, levantei-me devagar, segurei seu pulso no ar.
Ela se assustou.
Puxei-a de lado, longe dos olhares deles.
**
— Por que está tremendo agora? — murmurei, encostando minha boca quase em sua orelha. — Há pouco, você dançava se oferecendo como uma vadia.
Ela estremeceu.
— Eu... Eu estava só cumprindo meu trabalho, senhor.
Sou paga para dançar.
— Onde está a selvagem de ontem?
A que me desafiou?
Seus olhos se encheram de lágrimas.
Ela baixou a cabeça, humilhada.
**
— Posso ir embora, por favor...? — implorou, a voz embargada.
Soltei uma risada baixa.
— Eu disse que podia.
Mas mudei de ideia.
Toquei seu queixo, forçando-a a me olhar.
— Você só vai embora quando eu permitir.
Voltei para minha poltrona e me sentei, apontando para o palco.
— Dance. De novo.
**
Ela hesitou.
O peito arfando.
Mas subiu no palco.
**
A música recomeçou.
E ela dançou.
Dessa vez, com a alma quebrada.
Mas com o corpo ainda desafiando.
**
Enquanto ela se exibia, os negócios prosseguiam.
**
— Sobre o pagamento. — comecei, olhando nos olhos do devedor. — Exijo o que é meu.
Não transporto mais nada até que cada centavo seja pago.
— Isso é uma ameaça?
— Não.
É uma promessa.
**
O clima esquentou rápido.
Um dos caras se levantou, puxando uma arma.
Não me movi.
Só peguei meu cigarro, acendi, e expirei a fumaça no rosto dele.
**
Um dos meus seguranças surgiu das sombras, arma em punho.
**
— Abaixa essa merda. — grunhi, sem medo.
Do outro lado, Donatello se posicionava, sempre pronto.
A tensão podia ser cortada com faca.
**
No palco, a Pantera parou de dançar, apavorada.
Fiz um gesto quase imperceptível para Donatello.
Ele entendeu.
Saiu rapidamente, levando ela para o camarim.
**
A negociação virou ameaça aberta.
Mas, no fim, o medo venceu.
Eles baixaram as armas.
**
— Meu chefe mandou um presente. — disse um dos homens, jogando uma pistola pra mim.
Peguei a arma, pesada na mão.
Acertei o coração do traidor com um único tiro.
O som ecoou no salão vazio.
**
— Agora, levem o lixo com vocês.
E nunca mais falem meu nome.
**
Em silêncio, eles recolheram o cadáver e desapareceram.
**
Donatello voltou, me olhando com aquele misto de respeito e medo.
— Tiro limpo, Ravi.
Assenti.
**
Fui até o camarim.
Quando entrei, encontrei a Pantera encolhida num canto, os olhos arregalados de terror.
Fechei a porta atrás de mim.
**
Ela tentou recuar, mas não tinha mais pra onde ir.
**
— Quem... quem é você...? — ela sussurrou, a voz embargada.
Me aproximei, encurralando-a.
Segurei seu queixo entre os dedos.
Firme.
Implacável.
— Não importa quem eu sou.
Só importa que... — aproximei meu rosto do dela, sentindo seu medo pulsar — ...se você abrir essa boquinha linda sobre qualquer coisa que viu aqui hoje... eu faço uma visita à sua casa.
Um sorriso cruel curvou meus lábios.
— E garanto que você vai assistir, bem de pertinho, o que acontece com quem me desafia.
**
Soltei seu rosto com um empurrão leve.
Ela desabou sentada na cadeira, ofegante, destruída.
**
Saí do camarim como quem fecha a porta de uma jaula.
Hoje, a Pantera aprendeu a primeira lição:
Nunca morda o dono da coleira.
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Atualizado até capítulo 26
Comments
jeovana❤
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2025-04-27
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Mclaudia Oliveira
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2025-04-27
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