...┋ 𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐈𝐂𝐄 ┋...
...Depois daquela noite, quem diria que a atitude de Joseph em relação a mim mudaria tão rapidamente. Ultimamente, ele voltava para casa muito tarde da noite, e havia dias em que nem sequer voltava; sempre tinha uma desculpa pronta para mim. Que o trabalho na empresa o retinha, inclusive havia reuniões intermináveis; ou que simplesmente devia ficar a dormir lá por questões laborais. Mas ele não me enganava, eu sentia que algo não estava bem... Eu podia sentir em cada fibra do meu ser. Mas aqui me encontrava eu arrumando nosso quarto, minha mente seguia divagando entre lembranças e dúvidas. Minhas mãos, por inércia, tocaram uma pequena caixa esquecida no fundo do nosso armário; ao abri-la, encontrei fotografias velhas, imagens de nós quando éramos mais jovens, quando tudo parecia muito mais simples, mais fácil de levar. Ali estávamos sorrindo despreocupadamente, nos nossos dias de universidade. Fiquei olhando uma em especial, onde Joseph me abraçava com uma expressão que agora parecia tão distante. ...
...Deixei as fotografias sobre a cama e me levantei sentindo um impulso que não podia ignorar. Caminhei em direção à gaveta de Joseph e tentei abri-la, mas foi impossível. Franzi a testa. —Que estranho— pensei. —Por que a tinha trancado? Nunca antes tinha sido assim, ou talvez sim, mas eu não percebi?...
...Comecei a procurar as chaves por todo o quarto. Mas não a encontrei e a frustração começava a crescer no meu peito. O que ele estava escondendo? Sem pensar muito, peguei um abridor de caixas que estava sobre a mesa, era pequeno, mas suficientemente resistente para tentar forçar a fechadura. Aproximei-me da gaveta e tentei abri-la. Depois de várias tentativas, finalmente consegui....
...┋ 𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀┋...
...A gaveta se abriu com um leve rangido, revelando seu conteúdo. Angelice se inclinou e começou a remexer entre os objetos até que seus dedos roçaram algo que chamou sua atenção. Era um pequeno álbum de cor preta, ela o tirou com cuidado, observando-o com um sorriso e um pouco de curiosidade. Ao abri-lo, seu sorriso desapareceu; as imagens que viu a deixaram atordoada, eram fotos de Joseph e Judith. Em cada uma delas, a proximidade entre ambos era evidente, era quase tão íntima como a de um casal. Seus sorrisos, os olhares que compartilhavam, os gestos, tudo falava de uma conexão que ela não podia ignorar. Passava as páginas e cada uma delas a deixava mais surpresa, até que chegou à última foto. Nela estavam Joseph e Judith, e debaixo daquela imagem havia um anel colado. O ar pareceu escapar dos seus pulmões. O que era isto? se perguntava. Mas nem sequer ela mesma podia responder às suas perguntas....
...Deixou o álbum de lado, e seu olhar regressou à gaveta. Ali, entre outros objetos, encontrou um pequeno frasco de cristal, levantou-o lendo a etiqueta “*undecanoato* *de dimetandrolona*” se perguntou o que era este medicamento e qual era a sua função. Até que girou o frasco buscando mais informação e, o que leu a deixou completamente gelada. Era um anticoncepcional masculino desenhado para reduzir a produção de esperma. Ela se pôs de pé de golpe, segurando o frasco com força, sua mente agora era um turbilhão de emoções, raiva, tristeza, incredulidade e muito mais. Tudo se misturava em um caos que mal podia processar....
...┋ 𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐈𝐂𝐄 ┋...
...—¡Dois anos, dois malditos anos tentando formar uma família, dois anos desejando ter um filho!. ¡Suportando as humilhações, acreditando que eu era a inútil, que meu corpo não servia para nada, que era o problema; e todo este tempo!... ¡este tempo ele tem estado tomando isto!—gritei, com raiva, sentia as lágrimas arderem no meu rosto, mas não as deixei cair—¡Por que Joseph?! ¡Por que me fizeste isto?! Se não querias ter filhos comigo, ao menos podias dizer-me. ¡Mas por que me enganar assim? Por que deixar que me humilhem desta maneira?...
...A dor no meu peito se tornava cada vez mais insuportável, havia confiado nele, havia acreditado em nós... No nosso futuro juntos. Mas agora tudo parece uma mentira, sou como uma zombaria ante seus olhos....
...O esperei todo o dia em silêncio. Com aquele frasco de comprimidos entre minhas mãos, tão pequeno e frio, uma mentira encapsulada em vidro. O conteúdo dentro é insignificante para qualquer um que não soubesse o que representa, mas para mim, era o peso de uma mentira camuflada. A casa estava totalmente silenciosa, tão quieta que podia escutar o ritmo irregular da minha própria respiração. A suave luz da lâmpada do salão projetava sombras alongadas nas paredes, como espectros de pensamentos que não me abandonavam....
...Não apartei meu olhar da porta nem um segundo, sabia que em qualquer momento Joseph entraria por essa porta; cruzaria o umbral com a mesma despreocupação de sempre, convencido de que seu engano nunca sairia à luz....
...Meus dedos se fecharam com mais força ao redor do frasco, quanto tempo me havia visto esforçando-me, perguntar, chorar em silêncio porque acreditava que eu era o problema. Havia permitido que me culpasse incessantemente, e essa era uma culpa que me consumia quando tudo estava em suas mãos. O som da porta me tirou dos meus pensamentos, meu coração se acelerou, mas minha expressão não mudou, me mantive ali firme e tranquila enquanto a porta se abria; e Joseph entrava ajustando seu relógio no seu pulso como se nada fosse diferente, era como se não estivesse destruindo nosso matrimônio. Ele caminhou uns passos deixando as chaves sobre a mesa, com o olhar distraído. Mas quando me viu... quando notou a forma em que o olhava, se deteve em seco mostrando uma evidente incomodidade....
...—Ainda acordada? — perguntou, ainda que sua voz tinha uma matiz estranha, um reflexo claro de incerteza, mas não respondi. Só alcei minha mão com o frasco deixando que a luz o iluminasse ante seus olhos e; por um instante seu rosto pareceu ficar vermelho e seus nervos começaram a sair. O silêncio na sala se tornou sufocante, até que finalmente falei....
...—Diga-me, há quanto tempo chegas tomando-as? —Perguntei, em voz baixa, mas cada palavra se sentia como um golpe no ar Joseph. Não respondeu de imediato, o vi mover seus lábios para dizer algo, mas, em seu olhar já estava a verdade....
...Ele sabia que já o havia descoberto....
...Ele sabia... E por mais que movia seus lábios, nenhuma palavra pode sair....
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Atualizado até capítulo 82
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