Um homem que não tem ideia do que estou passando.
Que vive em sua bolha bilionária.
"Acho que eu poderia ir buscar o relógio eu mesmo."
"Você acha que consegue?" Parece mais arrogante do que eu pretendia. Eu deveria deixar para lá, mas algo me quebra. "Por que você não compra um conjunto de cortadores de biscoitos já que está nisso? Com tema de Natal. A Brooke precisa deles para o projeto da escola, e imagino que você não tenha nada parecido em casa." Eu o ouvi falando ao telefone com a filhinha alguns dias atrás. Ela precisa que ele volte para casa mais cedo para que eles possam fazer biscoitos para ela levar para a escola.
Suas sobrancelhas se franzem em confusão e, por um segundo, quase sinto pena dele. Este homem consegue fechar negócios multimilionários dormindo, mas não entende nada de coisas simples.
Sem esperar por uma resposta, mergulho no trabalho, digitando freneticamente para recuperar o tempo. Vou terminar isso, ver a mamãe e, eventualmente, ter um minuto para respirar.
Uma hora depois, Jett volta, com o telefone encostado no ouvido. Ele deixa cair uma sacola marrom na minha mesa.
"Almoço", ele diz sem emitir som.
Dou uma espiadinha lá dentro — um sanduíche da minha delicatessen favorita. Abro o embrulho de papel pardo e meu coração dispara. Ele me trouxe meu sanduíche favorito. Peru e abacate em pão de fermentação natural torrado, coberto com alface e tomate e uma camada de aioli de alho. Eu me afundo. Tem até uma fatia de queijo pepper jack. Como ele sabe disso? Talvez tenha me ouvido fazendo um pedido pelo telefone. Olho para a porta fechada, meu peito se apertando de gratidão e frustração. Ele não facilita o ódio.
Ele é um bilionário, um pé no saco e um completo enigma. Mas, de vez em quando, ele mostra que tem coração. E é isso que torna tão difícil ir embora.
...JETT...
"Papai! Eu te amo!" Brooke grita, me abraçando assim que vê o conjunto de cortadores de biscoitos. Suas mãozinhas agarram o pacote como se fosse um tesouro, e seu rosto se ilumina de pura alegria.
"Eu também te amo, brotinho." Pegando-a no colo, salpico beijos por todo o seu rosto. Suas risadas subsequentes — agudas e cheias de admiração — me fazem doer o peito. Uma coisa tão simples, um pacote de cortadores de biscoitos, e ainda assim transforma todo o seu mundo.
Às vezes, sinto inveja dela. A maravilha e a inocência infantis são coisas tão delicadas. Efêmeras. Ela consegue encontrar felicidade nas pequenas coisas, mas não me lembro da última vez que senti uma alegria assim. Acho que a vida, com dinheiro, poder, negócios e expectativas infinitas, me desgasta. Mas ver Brooke assim me lembra do que importa.
Cheguei em casa mais cedo, graças ao lembrete nada sutil da Cari de que eu tinha prometido fazer biscoitos com a Brooke. Aparentemente, mencionei isso a ela semanas atrás, embora não me lembre de nada.
A Cari é boa nisso — sabe o que preciso antes mesmo que eu perceba. Não digo isso o suficiente, mas tenho sorte de tê-la. Dex e Zach matariam para ter alguém com metade da competência deles ao lado.
Brooke se solta dos meus braços e mergulha nos cortadores de biscoitos. "Posso fazer as estrelas primeiro?"
"Estrelas? Com certeza", digo, observando-a alinhá-las como uma pequena profissional.
Estamos assando biscoitos para a atividade de sexta-feira da escola dela. Com tema natalino, sem nozes, sem alérgenos — tudo. Graças a Deus que a Anna me deu uma mistura, porque eu não saberia por onde começar de outra forma. De alguma forma, já adicionamos as gotas de chocolate e abrimos a massa. A Brooke observa cada movimento que eu faço como se fosse mágica.
Isso é muito divertido. Eu valorizo o tempo que passo com a minha filhinha, mas não faço isso o suficiente — realmente com ela. Ela tem quatro anos agora, mas a cada dia a vejo crescendo, escapando por entre os meus dedos. Às vezes, quando olho para seus olhos azul-escuros e aquela profusão de cachos escuros, vejo Sophia. Minha esposa.
Sophia era deslumbrante — por dentro e por fora. O tipo de beleza que fazia as pessoas pararem e olharem, mas seu coração era ainda maior. Quando a perdemos, alguns anos atrás, algo se partiu em mim.
"Posso cortá-los agora?" A voz de Brooke interrompe meus pensamentos.
"Sim, broto. Vai em frente."
Ela pega um cortador em forma de estrela e o pressiona na massa com feroz concentração. Sua pequena língua se projeta, e todo o seu rosto é uma máscara de determinação.
"Ótimo trabalho, brotinho. Você tem um talento nato. Acha que eu poderia tentar um?", provoco, segurando um cortador de árvore de Natal.
"Não, papai. Fica só olhando. Deixa que eu faço."
Eu rio. Às vezes, ela parece ter bem mais de quatro anos.
Uma a uma, ela desvenda as formas — estrelas, bonecos de neve, bastões de doces, sinos. "A mamãe e o papai do Eden vão dar uma festa de Natal na loja de brinquedos. Você se lembra? Fomos ano passado", digo, lembrando-me de repente do convite.
Ela levanta a cabeça de repente, e há manchas de farinha na bochecha. "Aquela com a árvore de Natal enorme?"
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