Arthur segurava o rádio desligado em suas mãos, seus olhos fixos em Daniel. O silêncio entre eles parecia mais pesado do que o ar impregnado de poeira e sangue ao redor. Cada chiado, cada sussurro que ecoava no aparelho era um lembrete de que algo além dos rastreadores estava perseguindo-os.
Daniel olhou para Arthur, avaliando seu estado.
— Se você não desligar isso de vez, ele vai nos matar.
Arthur abaixou o rádio, mas não tinha coragem de jogá-lo fora. Mesmo desligado, o aparelho parecia pulsar em suas mãos, como se estivesse vivo—uma conexão com algo que ele não compreendia.
Eles caminharam em silêncio pelas ruas estreitas de Parauapebas, desviando dos destroços e das sombras. Daniel mantinha a arma pronta, os olhos atentos a qualquer movimento.
Arthur hesitou antes de perguntar:
— Eles estão se comunicando? Isso é impossível. Zumbis não fazem isso.
Daniel parou e virou-se para Arthur.
— Não são só zumbis. O que está acontecendo não tem nada a ver com o que você acha que sabe.
Arthur sentiu um arrepio. Ele percebeu que Daniel não estava apenas falando sobre os rastreadores.
O caminho os levou até o supermercado que Daniel mencionara. A fachada estava em ruínas, janelas quebradas e marcas de fogo cobrindo as paredes. Daniel olhou ao redor antes de entrar, verificando se não estavam sendo seguidos.
Dentro, o supermercado estava mergulhado na escuridão, iluminado apenas por pequenas lanternas espalhadas pelo chão. O espaço, antes cheio de prateleiras abarrotadas, agora parecia mais um bunker improvisado. Havia marcas de batalha por toda parte—provisões empilhadas, barricadas feitas com móveis e pedaços de metal.
Daniel acenou para Arthur seguir e fechou a porta atrás deles.
— Meu grupo estava aqui. Nós éramos oito. Agora, somos dois.
Arthur olhou ao redor. Não havia ninguém à vista.
— Dois? Onde está o outro?
Daniel ergueu um dedo e apontou para o fundo do corredor, onde uma figura estava sentada, a cabeça baixa, os braços cruzados.
Arthur deu alguns passos à frente, mas parou quando percebeu que algo estava errado.
A figura não se mexia.
Então, ele ouviu.
Chiado.
O mesmo som que vinha do rádio, agora ecoando da figura sentada.
Arthur deu um passo para trás e olhou para Daniel, mas antes que pudesse falar, ouviu a voz novamente.
— Arthur...
A figura levantou lentamente a cabeça, revelando olhos mortos que refletiam a luz fraca.
Não era humano.
Daniel ergueu a arma e disparou, o som do tiro ecoando pelo supermercado.
— Corre! — ele gritou.
Arthur não hesitou. Ele correu, o rádio chiando novamente em suas mãos enquanto os ecos no escuro pareciam crescer.
Eles não estavam mais lutando por sobrevivência. Estavam lutando contra algo que não podiam entender.
Arthur correu pelas ruínas do supermercado, os passos ecoando pelo piso rachado enquanto o som do rádio continuava chiando em suas mãos. Daniel estava logo atrás, gritando instruções, mas o caos ao redor tornava difícil ouvir qualquer coisa.
— Atrás da saída! Bloqueia a porta! — Daniel apontou para uma entrada lateral, onde pilhas de caixas formavam uma barreira improvisada.
Arthur alcançou a porta e empurrou uma das caixas para reforçar a barricada. Do outro lado, o som das criaturas parecia crescer, como um coro do que não deveria existir.
— Eles estão nos cercando! — Arthur gritou, o desespero rasgando sua voz.
Daniel puxou um pedaço de madeira e bateu contra outra pilha de caixas, tentando reforçar a estrutura. Mas ambos sabiam que aquilo não os seguraria por muito tempo.
O rádio chiou mais uma vez.
— Arthur... você não pode escapar.
Arthur congelou. A voz era baixa, distorcida, mas clara o suficiente para que ele soubesse que estava sendo diretamente chamado.
Daniel olhou para ele com raiva e preocupação.
— Desliga isso! Joga fora! Eles estão usando para nos rastrear!
Arthur hesitou, apertando o rádio em suas mãos. Algo nele dizia que, se jogasse fora, perderia uma conexão—uma oportunidade de entender o que estava acontecendo.
Mas antes que pudesse decidir, a porta atrás deles começou a se romper.
O primeiro impacto foi um estrondo, seguido por rachaduras que se espalharam pela madeira e pelo metal. Daniel ergueu sua arma, apontando para a entrada.
— Arthur, prepare-se! Isso vai ficar feio.
O chiado do rádio aumentou, agora se misturando com os sons das criaturas que avançavam.
Então, a porta explodiu.
Rastreadores invadiram o espaço, seus corpos magros e olhos brilhantes movendo-se com velocidade assustadora. Daniel abriu fogo, os tiros ecoando como trovões no supermercado.
Arthur ergueu o facão e correu para frente, atingindo o primeiro rastreador que se aproximava. O golpe foi forte, mas as criaturas eram rápidas demais—o segundo já estava sobre ele antes que pudesse reagir.
Ele caiu no chão, o impacto tirando o ar de seus pulmões. Com um esforço desesperado, ergueu o facão e cortou, atingindo a perna da criatura que o atacava.
— Arthur, levanta! — Daniel gritou enquanto recarregava a arma.
Arthur se levantou, seu corpo tremendo de exaustão e adrenalina. Ele olhou ao redor e viu as criaturas avançando, seus movimentos coordenados como se fossem soldados obedecendo a ordens.
Não eram zumbis comuns.
O rádio chiou novamente, e a voz veio clara desta vez.
— Arthur... Daniel... vocês não podem fugir.
Arthur sentiu o sangue gelar.
As criaturas estavam falando.
E o pior de tudo—elas conheciam seus nomes.
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Diva Rusydianti
Estou tão presa na trama que nem sinto o tempo passar.
2025-04-24
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