Um sopro de existência

***Edward***

Eu a vi.

Pela primeira vez em dois anos, ela me viu também.

Não foi planejado. Eu juro. Sempre fui cuidadoso, meticuloso. Eu conhecia cada árvore daquele bosque, cada som que o vento fazia entre os galhos, cada pedra que poderia trair um passo. Mas hoje... hoje algo em mim falhou. Ou talvez tenha sido o contrário: algo em mim finalmente cedeu.

Ela estava mais bela do que nunca.

O contraste do moletom preto com a saia branca. A pele clara, quase translúcida sob o céu nublado. E o modo como ela caminhava... como se o próprio mundo estivesse em silêncio para ouvi-la passar. Sam não pertencia a este lugar — ela era algo entre um sonho e um eco. E ainda assim, tão viva. Tão real. Tão perto.

Ela não deveria ter voltado ao bosque. A previsão era de chuva, e os galhos estavam escorregadios. O solo lamacento, traiçoeiro. Mas quando ela apareceu entre as árvores, minha vontade de adverti-la foi imediatamente esmagada pela simples visão dela. Pela presença dela. Por ela.

Tive que me esconder atrás de uma árvore maior, minha respiração irregular. Os galhos estalavam sob os pés dela, e aquilo era como uma sinfonia privada para mim. Eu quase podia sentir seu perfume, mesmo à distância. Era doce, mas com uma ponta terrosa. Como o próprio bosque depois da chuva.

Ela parou. Virou-se. Olhou na minha direção.

E eu soube.

Ela me sentiu.

Pela primeira vez, seus olhos cruzaram os meus. E por um instante — um breve, cruel, perfeito instante — eu vi o reflexo de mim mesmo nela. Um reflexo borrado pela dúvida, pelo medo... e algo mais. Curiosidade.

Meu coração martelava, descompassado. Meus sentidos em alerta. Cada fibra do meu corpo gritava para correr, desaparecer. Mas meus pés se recusaram. Permaneci imóvel. Como uma sombra presa entre as árvores. Como um segredo cansado de se esconder.

Ela perguntou se eu a segui.

Era uma pergunta justa. Mas a verdade era mais complexa. Não... eu não a segui. Eu a precedi.

Eu sempre estive lá. Antes dela. Antes de seu primeiro passeio solitário. Antes mesmo de ela notar o quanto o bosque podia acolhê-la. Eu a observava de longe — da janela do meu quarto, da colina atrás da escola, da livraria onde ela às vezes entrava para folhear romances antigos.

Eu sabia que isso não era certo.

Mas como explicar a alguém que sua simples existência havia se tornado o centro da minha? Que cada passo dela era um compasso na melodia silenciosa dos meus dias?

Quando nossos olhos se encontraram, percebi que não conseguiria mais me esconder.

Não porque ela me viu — mas porque eu quis que ela visse.

Meu sorriso não foi intencional. Ele escapou. Como um segredo que se cansa de ser guardado. E naquele pequeno gesto, eu sabia que estava entregando algo. Uma fração de mim. Um fragmento do que sentia.

Não respondi. Não podia.

Não ali. Não ainda.

Então me virei. Me afastei. Deixei a névoa me engolir, como sempre fazia.

Mas ela já havia me visto. Meus pés tocaram o chão, mas meu corpo ainda pairava na lembrança dos olhos dela.

Quando cheguei em casa, subi direto para o meu quarto. Fechei as cortinas, mas deixei uma fresta. Sentei na cama, respirei fundo.

Aquela era a primeira vez que ela me olhava como uma pessoa. Não mais um vulto. Não mais um ruído imaginado. Ela me viu.

O que isso mudava?

Tudo.

Eu sabia que ela voltaria para casa sem contar a ninguém. Ela era assim — guardava o que era importante. E de alguma forma, eu também sabia que ela pensaria em mim.

Talvez com medo. Talvez com fascínio. Talvez os dois.

E agora?

Agora, o jogo havia mudado. A linha entre quem observa e quem é observado havia se dissolvido por um momento. E nesse momento, algo nasceu.

Chamem de obsessão. Chamem de loucura. Mas não confundam com fragilidade.

O que sinto por Sam é real.

Mais real do que qualquer outra coisa que já experimentei.

E se ela me viu uma vez, talvez veja de novo.

Talvez me procure.

Talvez queira entender quem sou.

Ou talvez apenas continue voltando ao bosque, esperando pelo inexplicável.

E lá estarei.

Como sempre estive.

Mas, da próxima vez... talvez eu fale.

Talvez eu diga meu nome.

Ou talvez eu apenas me aproxime o suficiente para que ela escute o som da minha respiração misturada ao vento. Para que ela entenda que nunca esteve sozinha ali.

O bosque é o nosso segredo agora.

E segredos, como os nossos, têm raízes profundas.

Capítulos
1 Ela
2 O pressentimento
3 O estranho no bosque
4 Um sopro de existência
5 Ecos
6 Carne e Névoa
7 Febre
8 Sementes de cativeiro
9 A caixa Fechada
10 Sangue na névoa
11 Onde o medo se esconde
12 A segunda pele da obsessão
13 Garras invisíveis
14 O gosto do perigo
15 Possessão
16 Chamado na névoa
17 O que o silêncio não diz
18 Olhos sobre mim
19 As palavras dela em minhas mãos
20 E se ele sumir?
21 Confissões e Pele
22 Fogo em silêncio
23 A revelação
24 Entre o desejo e o medo
25 O lugar onde ela vai me amar
26 A escolha
27 O convite aceito
28 As páginas queimavam
29 O sinal
30 O toque
31 Primeiro inverno
32 Depois da chama
33 Marcas invisíveis
34 De volta ao laço
35 Fragmentos de silêncio
36 Sintomas do invisível
37 Convite
38 O que ele vê em mim?
39 Obsessão Silenciosa
40 Algumas verdades nascem no silêncio
41 Febre na pele
42 Tudo em mim grita por você
43 Dentro dela, dentro de nós!
44 A linha que divide tudo
45 O começo de nós dois
46 Silêncio que cresce por dentro
47 Amor nas estrelinhas
48 Traços de um futuro
49 Algo disperso dentro de mim
50 Desconfiança e revelações
51 Ela "está" minha
52 Instinto e loucura
53 Antes que ele saiba
54 Silêncio e promessa
55 Fragmentada e inteira ao mesmo tempo
56 Tudo que respira dentro dela, vive em mim também
57 Cartas e desejo
58 Palavras que queimam
59 Um chamado silencioso
60 Ardor e promessa
Capítulos

Atualizado até capítulo 60

1
Ela
2
O pressentimento
3
O estranho no bosque
4
Um sopro de existência
5
Ecos
6
Carne e Névoa
7
Febre
8
Sementes de cativeiro
9
A caixa Fechada
10
Sangue na névoa
11
Onde o medo se esconde
12
A segunda pele da obsessão
13
Garras invisíveis
14
O gosto do perigo
15
Possessão
16
Chamado na névoa
17
O que o silêncio não diz
18
Olhos sobre mim
19
As palavras dela em minhas mãos
20
E se ele sumir?
21
Confissões e Pele
22
Fogo em silêncio
23
A revelação
24
Entre o desejo e o medo
25
O lugar onde ela vai me amar
26
A escolha
27
O convite aceito
28
As páginas queimavam
29
O sinal
30
O toque
31
Primeiro inverno
32
Depois da chama
33
Marcas invisíveis
34
De volta ao laço
35
Fragmentos de silêncio
36
Sintomas do invisível
37
Convite
38
O que ele vê em mim?
39
Obsessão Silenciosa
40
Algumas verdades nascem no silêncio
41
Febre na pele
42
Tudo em mim grita por você
43
Dentro dela, dentro de nós!
44
A linha que divide tudo
45
O começo de nós dois
46
Silêncio que cresce por dentro
47
Amor nas estrelinhas
48
Traços de um futuro
49
Algo disperso dentro de mim
50
Desconfiança e revelações
51
Ela "está" minha
52
Instinto e loucura
53
Antes que ele saiba
54
Silêncio e promessa
55
Fragmentada e inteira ao mesmo tempo
56
Tudo que respira dentro dela, vive em mim também
57
Cartas e desejo
58
Palavras que queimam
59
Um chamado silencioso
60
Ardor e promessa

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