Capítulo 3.

Lia chegou em casa no início da noite, com os ombros pesados pelo dia longo. Tirou os sapatos na entrada, soltou a bolsa sobre o aparador e seguiu em direção à cozinha, guiada pelo aroma acolhedor que preenchia o ar.
Ao entrar, encontrou Tom e Ysa rindo baixinho enquanto preparavam o jantar.
Tom cortava legumes com uma habilidade quase teatral, enquanto Ysa mexia algo em uma panela, cantarolando distraída.
Lia Castely
Lia Castely
O que vocês estão aprontando aí?
Tom (AMIGO GAY)
Tom (AMIGO GAY)
(Sem olhar diz): Magia culinária, minha cara. Hoje o cardápio é especial.
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
E antes que você pergunte, sim, tem seu prato preferido.
Lia sorriu, sentindo o calor familiar daqueles dois que, mais do que amigos, eram seu abrigo no mundo.
Ela se recostou no batente da porta, observando a cena simples e bonita diante dela. Pela primeira vez no dia, relaxou os ombros e respirou fundo, sentindo-se em paz.
Segunda-feira parecia concentrar todos os pesos da semana. Lia saiu do escritório já com o corpo exausto e a mente pedindo silêncio. O restante da semana era mais leve, mas as segundas sempre testavam sua paciência. Às terças e quintas, ela frequentava suas aulas de defesa pessoal, uma rotina que mantinha há três anos, desde que a vida lhe ensinou da pior forma que saber se defender não era opção, era necessidade. Ela sabia que, fisicamente, uma mulher quase nunca vence um homem. Mas era um começo. Um ato de resistência.
Ao chegar em casa, ouviu vozes vindas da cozinha.
Tom mexia distraído em uma panela, enquanto Ysa arrumava a mesa com um sorriso satisfeito.
Lia Castely
Lia Castely
Oi.
Tom (AMIGO GAY)
Tom (AMIGO GAY)
Oi, linda. Como foi o seu dia?
Lia Castely
Lia Castely
Como toda segunda-feira… denso.
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
Estamos fazendo lasanha. Não são como as suas, mas acho que engana bem.
Lia Castely
Lia Castely
Tenho certeza que estão uma delícia. E o dia de vocês?
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
O mesmo de sempre: chefe insuportável e trabalho até o pescoço.
Tom (AMIGO GAY)
Tom (AMIGO GAY)
Eu só queria um chefe bonito como o seu, Lia. Aquele homem… ai, só de lembrar já me dá calor.
Ysa e Lia não resistiram e caíram na risada.
Lia Castely
Lia Castely
(Entre risos): Tom, você é um pervertido!
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
Ele só disse o que todas nós pensamos.
Lia Castely
Lia Castely
Não acho ele tudo isso, além do mais, ele tem namorada. Viu, dona Ysa?
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
E eu também tenho namorado, mas olhar não arranca pedaço.
Tom (AMIGO GAY)
Tom (AMIGO GAY)
Eu não queria só um pedaço… queria ele inteiro!
Mais risadas.
Lia Castely
Lia Castely
(Sorrindo): Vocês não prestam. Vou tomar um banho.
Lia subiu, tirou a roupa com o cansaço nos ombros, tomou um banho quente e vestiu uma roupa confortável antes de voltar para a cozinha.
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
Está pronto. Vamos comer.
Jantaram juntos, entre conversas leves e risos abafados por garfadas. Depois assistiram a um filme qualquer, daqueles que servem só de trilha para o aconchego da noite. Quando o sono venceu, foram todos dormir.
Na manhã seguinte, o despertador tocou às 6h30. Lia se levantou, desceu ainda sonolenta e preparou torradas com ovos e bacon. Logo, Tom desceu ajeitando a gravata, e Ysa veio atrás com cara de poucos amigos.
Lia Castely
Lia Castely
Bom dia.
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
Só se for pra você.
Tom (AMIGO GAY)
Tom (AMIGO GAY)
Bom dia, linda.
Tom se aproximou para beijar a testa de Lia, mas ela se esquivou delicadamente. Ainda era difícil lidar com toques inesperados.
Lia Castely
Lia Castely
(Tentando suavizar): Bom dia, Tom.
Lia Castely
Lia Castely
Ysa, você já deveria estar acostumada a acordar cedo.
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
Nunca estarei.
Lia Castely
Lia Castely
Tenho que ir. Beijos.
Lia chegou ao escritório, subiu de elevador e passou pela mesa de Laura.
Lia Castely
Lia Castely
Bom dia.
Laura (Secretaria)
Laura (Secretaria)
Bom dia. Reunião às 9h.
Lia Castely
Lia Castely
Tudo certo.
Às nove em ponto, entrou na sala de reuniões.
Téo Álvres
Téo Álvres
Bom dia a todos. Segunda que vem o dono da BINYAP estará aqui para assinatura do contrato. Precisamos estar preparados. Senhorita Castelly, tudo sob controle?
Lia Castely
Lia Castely
Sim, senhor.
Téo Álvres
Téo Álvres
Ótimo. Estão liberados.
Lia voltou para sua sala e saiu mais cedo naquele dia, era dia de aula. Depois da aula de defesa pessoal, voltou para casa.
Tom e Ysa chegaram pouco depois, e jantaram juntos.
Lia Castely
Lia Castely
E o dia de vocês?
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
Muito trabalho. E o seu?
Lia Castely
Lia Castely
Também. Semana que vem vamos conhecer o dono da BINYAP.
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
(Engasgando levemente): Espera… você está dizendo que o homem mais cobiçado do país vai trabalhar com você?
Lia Castely
Lia Castely
(sem entusiasmo): É, parece que sim.
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
Lia, você tem uma sorte que dá inveja!
Lia Castely
Lia Castely
Não vejo dessa forma.
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
Como assim, Lia? Dois dos homens mais ricos e lindos do país e você não vê nada demais?
Tom (AMIGO GAY)
Tom (AMIGO GAY)
(sorrindo com malícia): Olha… se ela não quer, eu pego o contrato, a gravata e até a caneta deles. Dá licença.
Ysa e Tom riram, mas Lia se calou, a expressão fechando aos poucos.
Lia Castely
Lia Castely
Ysa, por favor, não começa.
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
Mas eu só…
Lia levantou-se antes que a amiga terminasse. Subiu em silêncio e se trancou no quarto. Era um daqueles dias em que a tristeza sussurrava mais alto que a razão.
Ysa sempre teve boas intenções, sempre tentou empurrá-la para um novo começo. Mas o problema era que Lia ainda não tinha saído do fim. Tom, por outro lado, era seu porto silencioso, ele não insistia, apenas ficava. E às vezes, só isso bastava.
A noite avançava devagar, como se o tempo tivesse decidido repousar também naquela casa silenciosa. A lua, tímida, espreitava pela janela da sala, traçando contornos suaves nos móveis e nas expressões cansadas de quem ali habitava.
Lia estava deitada no sofá, coberta por uma manta leve, com os olhos fixos no teto, mas a mente distante, vagando entre lembranças e possibilidades. Tom apareceu com uma xícara de chá nas mãos, aproximando-se com cuidado.
Tom (AMIGO GAY)
Tom (AMIGO GAY)
Fiz aquele chá de camomila que você gosta… Sem açúcar, como sempre.
Lia Castely
Lia Castely
(Sorri de canto, quase em sussurro): Obrigada, Tom… Você sempre sabe o que fazer.
Ele se sentou ao lado dela, respeitando o espaço que ela sempre deixava entre si e o mundo, mas ficando perto o suficiente para que ela sentisse sua presença. Um silêncio confortável se instalou entre os dois, o tipo de silêncio que só existe entre almas que se entendem.
Do outro lado da casa, Ysa surgiu no corredor, enrolada em um robe florido, com uma taça de vinho na mão e os cabelos presos em um coque bagunçado.
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
O clima aqui tá tão denso que eu trouxe vinho… pra ver se derrete essa nuvem em cima de vocês.
Tom (AMIGO GAY)
Tom (AMIGO GAY)
(Brincando): A nuvem é da Lia. Eu sou só o satélite.
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
Então vamos fazer um eclipse e apagar essa tristeza, por favor?
Lia riu pela primeira vez naquela noite. Um riso pequeno, mas sincero, como quem permite uma fresta de luz num coração que tem aprendido a se proteger demais.
Lia Castely
Lia Castely
Talvez um pouquinho de vinho ajude…
Ysa (AMIGA)
Ysa (AMIGA)
É disso que eu tô falando! Vou buscar mais taças!
A noite então mudou de cor. Entre goles, risadas e músicas baixas tocando ao fundo, Lia sentiu algo raro: pertencimento. Mesmo com as feridas, com as memórias difíceis e os dias cinzentos, ali estava ela, cercada por amor. Não o amor romântico que ela temia, mas o amor real, constante, seguro. Um tipo de amor que, no fundo, também cura.

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