César encarava o celular pela terceira vez em menos de uma hora. Tinha digitado e apagado a mesma mensagem várias vezes, tentando encontrar o tom certo. Algo que soasse neutro. Maduro. Mas o que queria mesmo era perguntar se Dominique estava bem. Se ele ainda pensava nele. Se ainda doía igual.
Mas não era sobre isso agora.
Com um suspiro, digitou devagar, tentando parecer natural, mesmo com o coração apertado:
“Bom dia. Chegaram bem? O bebê tá bem? Me avisa qualquer coisa, por favor.”
Simples. Objetivo. Civilizado.
César apertou enviar e deixou o celular sobre a mesa. Não conseguiu se afastar mais do que meio metro dele, claro — ficou ali mesmo, andando em círculos como quem espera um diagnóstico.
Do outro lado, Dominique já havia se instalado no novo apartamento. Espaçoso, com cheiro de recomeço. Algumas caixas ainda estavam fechadas, a cozinha parecia um acampamento improvisado pela bagunça, e o berçário ainda era só um colchão, uma mochila de fraldas e esperança pendurada na parede.
Ele estava deitado de lado, com o bebê aninhado em seu peito, quando o celular vibrou.
Leu a mensagem de César. O coração apertou no mesmo lugar de sempre.
A pergunta era sobre o bebê. Claro que era. César nunca foi um pai ausente. Podia ter sido um parceiro difícil, mas com o filho... ele sempre foi inteiro.
Dominique respirou fundo e respondeu:
“Chegamos sim. Ele dormiu quase a viagem toda. Já mamou e tá tranquilo. Tá tudo certo.”
Pensou em colocar um “e você?” no final. Pensou mesmo. Mas parou. O “e você?” abre portas, e ele mal tinha fechado a última.
Clicou em enviar.
E ficou olhando pro teto, onde não havia nada além do forro branco e uma saudade contida.
César leu a mensagem assim que ela chegou. Os dedos coçaram pra continuar a conversa, pra perguntar mais — se Dominique já tinha conseguido organizar o berçário, se ele estava se alimentando bem, se ele ainda usaria aquele moletom ridículo que ele odiava, mas que secretamente achava fofo.
Mas ele não escreveu nada. Porque sabia que qualquer pergunta a mais não seria sobre o bebê... seria sobre eles. E isso, agora, era território minado.
Ele se jogou na cadeira do escritório, girando com ela como fazia nos momentos de tédio. Só que agora não era tédio. Era falta.
Abriu uma pasta no computador, fingindo que voltaria ao trabalho, mas a cabeça já estava longe. Tentou se convencer de que aquilo era só uma fase. Uma pausa. Um "reset". Mas havia algo na resposta de Dominique — na ausência de afeto, na precisão das palavras — que deixava claro: ele não queria proximidade. Queria espaço.
Enquanto isso, no novo apartamento, Dominique deixava o celular de lado, se levantava com cuidado para não acordar o bebê e ia até a cozinha improvisar um café.
Abriu um armário vazio e soltou um suspiro cômico:
— Aham. Esqueci de comprar... tudo.
Falou sozinho, rindo sem graça da própria falta de organização. Pegou uma bolacha velha da bolsa e encarou como se ela fosse um banquete.
— Primeira refeição do recomeço: bolacha e orgulho engolido com água. Chique.
Sentou-se no chão, encostado à parede, com o copo de água ao lado. Era solitário. Mas era liberdade. E por mais contraditório que parecesse... também era paz.
O celular vibrou novamente. Dominique olhou com o coração apertando de leve — mas era só uma notificação de aplicativo.
— Claro... quando eu quero que ele fale, o homem some.
Sorriu de canto, balançando a cabeça. Nem ele sabia se era alívio ou decepção.
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Atualizado até capítulo 88
Comments
miya
não entendi
2025-04-19
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