Capítulo 2

— Meu alfa, quando será a celebração da nossa união? — A voz estridente de Vicky me tirou dos meus pensamentos, fazendo-me suspirar de raiva e resignação pelo que aconteceu ontem na alcateia com Aylin.

Pensei que ela ia me implorar, que ia rogar para que eu não a afastasse do meu lado, mas sua reação foi completamente oposta. Aylin, apesar da dor, aceitou a rejeição e me enfrentou de cabeça erguida, fazendo-me enfurecer, porque não é correto sentir algo mais por ela que não seja desprezo.

Desde que soube que ela era minha Luna, meus pais me fizeram saber que uma Ômega é muito pouco para ser a Rainha Luna e que jamais a aceitariam, nem a alcateia tampouco, ainda que uma suposta premonição dissesse que isso era o melhor para a linhagem lupina. Por isso, a celebração de união e a apresentação do Alfa e sua Luna na alcateia sempre era adiada, porque ainda que o correto fosse rejeitá-la, algo em meu interior não me deixava fazê-lo.

E esse algo é meu lobo Kyon, quem desde o momento em que Aylin aceitou a rejeição, cortou toda comunicação comigo e já não o sinto. Está aborrecido porque contradisse a vontade da Deusa Luna, mas não entende que fiz o correto para nossa alcateia e linhagem. Aylin não é apta para governar ao meu lado, em troca, Vicky é perfeita. Sua linhagem é de betas, fazendo-a a melhor candidata para minha companheira, minha Rainha Luna.

Será que fiz o correto? Sinto que meti o pé feio, porque me dói a alma, porque sinto que algo me falta, porque me dói ter visto a dor de Aylin e seus olhos lacrimejantes por havê-la rejeitado. Queria ir consolá-la, mas não podia fazê-lo, porque não era o correto. Mas o que mais me dói é meu orgulho. Ainda que odeie admitir, sua presença na alcateia me faz falta.

Sempre a observava das sombras, esforçando-se por ser uma boa Rainha Luna. E é que, se não fosse porque sua linhagem é só de Ômega, ela teria sido a melhor Rainha Luna, minha Luna. Mas agora já não está e devo conformar-me com Vicky, quem é a loba correta para reinar ao meu lado. Ainda assim, me nego a deixar ir por completo Aylin, a que esteja com outro homem que não seja eu, porque ela é minha, ainda que tenhamos nos rejeitado, sempre será minha, ainda que deva gravá-lo na mente e o corpo à força.

— Em uma semana, Vicky. — Respondo por responder, já que Vicky não me inspira nada. É formosa, mas sua beleza não se compara à de Aylin, quem se foi sem olhar para trás, sem importar-se com a alcateia e me deixando em ridículo.

— Estou tão feliz, meu Alfa, serei a melhor rainha luna que tenha existido. — A voz estridente de Vicky nunca me agradou e sempre me dá dor de cabeça, assim que, com a desculpa de ter que trabalhar e organizar sua apresentação como rainha Luna ante a alcateia, consigo livrar-me dela por o momento. Ela fica mais que feliz e, depois de me dar um beijo nos lábios que não me provoca nada, mas o recebo para não fazê-la sentir mal, sai do meu escritório movendo seus quadris.

Depois da saída de Vicky do meu escritório, me comuniquei com minha delta. Preciso que faça algo importante. Através da ligação, me comuniquei com ela e, aos minutos, apareceu em meu escritório com seu porte frio e sério de sempre. A verdade é que nunca a vi sorrir, e isso é estranho.

— Em que o posso ajudar, Alfa? — Sua voz e palavras soam mecânicas, como se seu discurso estivesse programado, já que não há nenhum tipo de emoção em suas palavras.

— Astrid, preciso que coloque a melhor equipe de rastreadores para rastrear Aylin. — Sua expressão séria e fria se transformou por um momento em uma de confusão e aborrecimento, surpreendendo-me porque é a primeira vez que lhe vejo alguma emoção. Assim que o mais seguro é que ela também esteja de acordo em que Aylin não é apta nem digna de ser a rainha Luna.

— Alfa, com todo o respeito que merece por ser o Alfa desta alcateia e o Rei Alfa, não creio conveniente que mande rastrear a Luna Aylin. — Agora, o confundido e aborrecido sou eu, porque Aylin não é Luna, já que nunca a aceitei como tal. Não entendo por que se refere a ela como Luna, mas antes que possa falar e aclarar que Aylin não é nem será Luna, ela se adianta.

— Por sua expressão, sei que o aborreceu que diga que Aylin é Luna, mas ainda que não goste, a Deusa Luna a escolheu como Rainha Luna. E ainda que não seja sua Luna, ela foi destinada a ser rainha. Se você a rejeitou, então a Deusa Luna a porá onde verdadeiramente a valorizem, e esse dia você chorará ao vê-la feliz com alguém que não é você, e estarei na primeira fila para lhe dizer: Te disse.

Minha mandíbula se tesa e meus punhos impactam contra o escritório, mas minha delta se mantém imóvel, sem expressão ante meu rompante de fúria, como se o estivesse esperando. É uma falta de respeito ir contra a vontade e as ordens do Alfa, seu Alfa, mas ao que parece todos nesta alcateia querem seguir o exemplo de desrespeito de Aylin.

— Ela tem razão, mas como você é um tonto manipulável que dá ouvidos a todo o mundo, menos a quem em verdade tem a razão e quer seu bem-estar e o da alcateia, terminará dando-se conta quando seja muito tarde e irremediável o dano que tem feito ao rejeitar nossa lua. — Meu lobo falou pela primeira vez desde que Aylin se foi, fazendo-me enfurecer ainda mais, porque só imaginar Aylin nos braços de outro homem e sendo rainha me faz ferver de cólera.

— Aylin é e sempre será minha, porque assim o dispôs a Deusa Luna, que não se te esqueça. Por isso, ainda que não goste, o Rei Alfa aqui sou eu e deve seguir minhas ordens. E se não gosta, então entregue seu posto a alguém que sim seja competente para levar o cargo de Delta. — Sua mandíbula se tesou, mostra de que está furiosa, e é que lhe dei onde mais lhe dói: seu cargo de Delta. Ao ser a única filha do anterior Delta, desde menina se esforçou por demonstrar ser digna de herdar o posto, apesar de ser mulher. Por isso sei que engolirá seu orgulho e cumprirá minhas ordens para manter o posto que tanto lhe tem custado.

— Suas ordens serão cumpridas, Alfa, porque eu sim sei separar meu dever de minha opinião pessoal, e não me deixo levar por comentários de terceiros. Espero que você também faça o mesmo quando chegar o momento de remediar o dano que tem feito ao rejeitar a Rainha Aylin. — Astrid saiu do meu escritório sem olhar para trás, apesar de que a chamei, e isso me enfureceu. Como se atreve a contradizer minhas ordens e através de palavras disfarçadas dizer que me equivoquei ao rejeitar Aylin? Mas o pior, dizer que é uma Rainha quando eu nunca a aceitei como minha Rainha.

Concentrar-me no trabalho é impossível quando a fúria e impotência se negam a sair do meu sistema. Só de recordar o olhar e palavras de Aylin enquanto me falava depois da rejeição, e a elegância, eficácia e formosura com que acabou com meus guerreiros me põe de mau humor. Porque ela é uma Ômega, não deveria ser tão boa lutando e vencer a um grupo de guerreiros como se nada. Mas o que mais me enfurece é que tenha ido da alcateia, apesar de que seu dever é procrear meus herdeiros por ser minha alma gêmea, e que esteja lá fora, possivelmente rolando com o primeiro homem que se lhe atravesse, deixando manchar o corpo que somente eu posso tocar.

Meus punhos impactam contra a parede uma e outra vez, tratando de sacar a ira do meu sistema. Mas isto não vai ficar assim. Aylin vai pagar haver-me humilhado por aceitar a rejeição diante da alcateia. Ela só devia abaixar a cabeça ante minha rejeição e procrear meus herdeiros como a Ômega que é, mas fez todo o contrário. E quando a encontrar, vai desejar não haver despertado a ira do Rei Alfa, seu Rei Alfa.

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