Após a chegada da ambulância ao hospital, os bombeiros realizaram o trabalho pesado. Eles, com seus rostos sérios e profissionais, haviam levado os pais de Sn para o Instituto Médico Legal (IML). Tudo estava sendo feito com a precisão necessária para cumprir os protocolos, mas a dor silenciosa estava no ar. Os corpos dos pais foram cuidadosamente retirados da ambulância, levados para o IML, onde seriam examinados e identificados, mas a realidade de que Sn havia perdido tudo estava estampada na expressão dos bombeiros. Nenhum deles parecia conseguir desviar o olhar da garotinha, que estava nos braços de uma das bombeiras, ainda com os olhos marejados e o choro mudo, sem entender o que acontecia.
No hospital, a enfermeira e a bombeira levaram Sn para um quarto, tentando acalmá-la enquanto ela continuava a soluçar. A criança estava em choque, seus olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, mas os profissionais tentavam ser gentis, mesmo diante da tragédia que haviam presenciado.
Uma das bombeiras, uma mulher de cabelos castanhos curtos e rosto cansado, se aproximou do médico que aguardava a chegada de Sn. Ela estava com a voz embargada, mas não conseguiu segurar o peso da tristeza.
"Dr. Souza," ela disse, a voz falhando. "Eu… eu encontrei a criança no acidente. Os pais dela não sobreviveram. Ela… eles morreram na colisão. Eu vi. E um senhor idoso, que estava passando pela estrada, foi quem encontrou o carro e ligou para os bombeiros."
O médico, um homem de estatura média com óculos e uma expressão tranquila, ouviu com atenção, mas não deixou de perceber a aflição da bombeira. Ele limpou a garganta, olhou para Sn e fez um gesto para que a enfermeira preparasse a criança para os cuidados médicos.
"Eu entendo," o Dr. Souza disse calmamente, tomando uma respiração profunda. "Levaremos o bebê para a enfermaria para observação. Eu vou tentar descobrir se ela tem algum parente por aqui, mas… ela não pode ficar sozinha. Vamos fazer tudo o que for possível para encontrarmos um responsável."
A enfermeira, com mãos suaves e experientes, começou a medir a temperatura de Sn e verificar seus sinais vitais enquanto o médico se retirava para fazer uma série de ligações. A pequena estava em choque, sua respiração ainda instável e os olhos fixos no vazio. Não era apenas o físico que precisava de cuidados, mas também sua mente, que parecia estar tentando processar tudo o que acontecera.
Enquanto o médico se afastava, a bombeira que havia encontrado Sn a olhou com um olhar repleto de empatia e preocupação. Ela sabia que a vida daquela criança mudaria para sempre, e ela sentiu um aperto no coração, mas não sabia o que mais fazer. Foi então que ela se virou para a enfermeira, que estava ao lado de Sn, e com a voz trêmula, ela falou:
"Ela… ela estava tão assustada. Eu… eu nunca vi nada assim antes. E agora, ela está sozinha. Eu só queria poder fazer algo mais por ela. Não sei o que vai acontecer com ela…"
A enfermeira, que estava acariciando suavemente o cabelo de Sn, olhou para a bombeira com um olhar de compreensão. Ela sabia que aquele momento era um dos mais difíceis que alguém poderia enfrentar, mas também sabia que havia algo importante a ser feito agora: cuidar da criança.
"Ela não está sozinha, por enquanto," a enfermeira respondeu com calma. "Nós vamos cuidar dela. Mas, como você disse, ela vai precisar de muito mais do que apenas cuidados médicos. Vai ser um longo caminho para ela."
A bombeira assentiu, sentindo as lágrimas ameaçarem cair novamente. Ela olhou para Sn, que estava agora tranquila, mas ainda com o semblante distante, como se não conseguisse entender a tragédia que a envolvia. Ela se afastou lentamente, mas não sem antes dar um último olhar para a criança, prometendo silenciosamente que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para ajudá-la.
O Dr. Souza se afastou de Sn, que estava sendo monitorada pela enfermeira, e foi até sua mesa. Seus dedos hesitaram por um momento sobre os números do telefone, mas ele sabia que precisava tentar. O futuro de Sn dependia de encontrar um familiar, alguém que pudesse cuidar dela, agora que os pais estavam mortos. Ele discou um número após o outro, tentando várias alternativas, mas nenhuma resposta vinha. O som de cada chamada sem retorno parecia um golpe mais forte, um lembrete de que a pequena estava completamente sozinha.
O médico olhou para a criança, que ainda estava quieta, perdida em seus próprios pensamentos. Sentiu uma pontada de tristeza, mas sabia que precisava seguir em frente. Desesperado, ele tentou um último número na lista — o número do avô de Sn, que ele havia encontrado nas informações do celular de um dos pais da menina.
Quando o telefone tocou, o Dr. Souza não sabia o que esperar. A cada segundo que passava, sua ansiedade aumentava. O som da ligação parecia se arrastar, até que, finalmente, alguém atendeu do outro lado.
"Alô?" A voz do homem era grave e parecia cansada, como se estivesse esperando por algo há muito tempo.
"Olá, sou o Dr. Souza, do hospital. Estou falando com o senhor... o avô de Sn, correto?" O médico perguntou, tentando manter a calma.
Do outro lado da linha, o avô de Sn respirou fundo, o som de sua voz carregado de preocupação e surpresa.
"Sim, sou eu. O que aconteceu com a minha neta? Ela está bem?" A voz do homem estava cheia de urgência, e Dr. Souza sentiu a dor naquelas palavras. Era evidente que ele já sabia que algo estava errado, e que estava sofrendo por ter ficado distante o suficiente para não poder proteger a menina.
"O senhor precisa vir ao hospital, é urgente," começou o médico, sua voz mais grave. "Houve um acidente, os pais de Sn não sobreviveram, mas sua neta está viva. Ela foi encontrada em estado de choque, mas está estável agora. Precisamos de um responsável para ela. O senhor pode vir o mais rápido possível?"
Houve uma pausa no outro lado da linha, e o Dr. Souza podia ouvir o som de uma respiração pesada antes que o avô falasse novamente, a voz tremendo.
"Eu… eu não sei o que dizer. É um pesadelo, um maldito pesadelo. Como ela…? Como isso aconteceu? Onde estão os pais dela?" O homem parecia descontrolado, como se não conseguisse entender a dimensão da tragédia.
O médico suspirou, sentindo o peso da situação. "Infelizmente, eles não resistiram ao impacto do acidente. O senhor precisa vir ao hospital imediatamente para que possamos garantir que Sn fique com alguém da família. Ela está sendo bem cuidada, mas não pode ficar aqui sozinha."
O avô de Sn, após mais alguns segundos de silêncio, finalmente se controlou e falou com uma voz mais firme: "Eu vou para aí agora. Obrigado por cuidar dela. Eu… vou fazer o que for necessário."
"Nos vemos em breve, então," disse o Dr. Souza, sentindo um alívio temporário. "Estamos aguardando."
Com um último suspiro, o médico desligou a chamada e olhou para Sn, que estava agora mais tranquila, mas com os olhos perdidos no vazio. Ela não sabia o que estava acontecendo ao seu redor, e o mais difícil de tudo era que, naquele momento, ela ainda não compreendia a totalidade da perda que acabara de sofrer.
Enquanto o Dr. Souza se retirava da sala para se preparar para a chegada do avô de Sn, ele não pôde deixar de sentir um pesar. A menina havia perdido seus pais, e agora seria responsabilidade de um homem idoso tomar a frente de sua vida. O futuro de Sn estava em uma linha tênue, mas, ao menos, ela teria alguém para cuidar dela.
O hospital estava mais calmo agora, com a correria das emergências diminuindo, mas a tensão no ar era palpável. O Dr. Souza estava em sua sala, olhando para a ficha de Sn, quando a porta se abriu e o avô de Sn entrou, acompanhado por uma mulher idosa, com o rosto marcado pela preocupação. O avô, um homem de cabelos grisalhos e olhar cansado, parecia devastado pela dor, mas sua postura era firme, como se estivesse tentando se segurar para dar um passo adiante. A mulher, provavelmente sua esposa, estava mais visivelmente abalada, com as mãos tremendo enquanto ela segurava uma bolsa perto de seu peito.
"Dr. Souza?" O avô perguntou com uma voz grave, mas trêmula, como se a palavra saísse com dificuldade. "Somos os avós de Sn. Onde está minha neta? O que aconteceu com ela?"
O médico levantou-se da cadeira e caminhou até eles, percebendo a dor estampada no rosto dos dois. Ele os conduziu até a sala onde Sn estava, quieta, deitada na cama, mas agora já mais calma, embora seu olhar ainda estivesse perdido no vazio.
"Ela está bem fisicamente, mas emocionalmente…" o Dr. Souza pausou, procurando as palavras certas. "Ela passou por um trauma muito grande. O acidente foi muito grave, mas ela é uma sobrevivente. A boa notícia é que, apesar de tudo, a condição dela está estável."
O avô de Sn soltou um suspiro pesado, passando a mão na testa, enquanto a avó se aproximou de Sn com os olhos marejados. Ela tocou levemente o cabelo da neta, como se tentando fazer contato, mas sem saber como chegar até ela. Sn, por sua vez, não reagiu imediatamente, o que fez o coração dos avós doer ainda mais. A dor de perder os filhos e, agora, ver a neta em estado de choque era mais do que eles poderiam suportar.
"Ela não fala nada?" A avó perguntou, a voz quebrando em um fio de tristeza.
"O trauma psicológico é grande," explicou o Dr. Souza, com um olhar sério, mas gentil. "Ela perdeu os pais, e isso, é claro, vai levar tempo para processar. Ela ainda está lidando com o choque, e o medo é palpável em cada movimento dela. O mais importante agora é garantir que ela se sinta segura e rodeada de carinho, como vocês estão fazendo."
A avó, com os olhos cheios de lágrimas, olhou para o marido e depois para Sn, como se tentasse entender o que fazer a seguir. O avô, mais firme, fez uma tentativa de acalmar a esposa.
"Estamos aqui, querida. Estamos aqui, e vamos cuidar dela como nossos próprios filhos."
O Dr. Souza assentiu, entendendo a dor dos dois, mas também sabendo que eles precisavam de mais do que apenas palavras. Sn precisava de apoio, de tempo e de alguém que, pacientemente, fosse capaz de guiá-la através de sua dor.
"Eu vou providenciar os cuidados necessários, mas também sugiro que falem com ela devagar, se possível," o médico recomendou. "Por mais que ela esteja em choque, ouvir vozes familiares pode ser reconfortante. E, acima de tudo, precisamos ser cuidadosos com o tempo que ela precisa para se ajustar à nova realidade."
Os avós assentiram, e o avô se aproximou de Sn, segurando sua mão suavemente, tentando transmitir a ela, através do toque, o amor e a segurança que ele queria que ela sentisse. Sn, com os olhos fixos em algo distante, pareceu notar a presença dele, mas ainda não demonstrava reação.
A avó, com um gesto terno, se aproximou também, passando a mão pela testa de Sn e sussurrando palavras que, embora incompreensíveis para a menina naquele momento, carregavam uma carga emocional imensa.
"Estamos aqui, minha querida. Não vai ficar sozinha, prometemos."
O Dr. Souza, percebendo a delicadeza do momento, se retirou da sala para dar espaço aos avós e à neta. Ele sabia que a recuperação de Sn não seria simples nem rápida, mas, com o apoio da família, havia uma chance de que ela pudesse superar, ao menos em parte, a dor que havia experimentado. Era um longo caminho, e o mais difícil estava por vir.
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Atualizado até capítulo 70
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