Capítulo 4

Vou para o meu quarto todo bagunçado, a forma como meu coração dói é algo que não consigo explicar. Ricardo, ao me ver tão mal, me abraça tentando me consolar.

— O que aconteceu, querida? Por que você está chorando assim?

— Saúl... Saúl me odeia e não entendo o porquê.

— Ele não te odeia, simplesmente está confuso.

— Tudo isso é porque essa mulher está contando mentiras para ele.

— Emily, não diga coisas assim.

— Saúl me disse que eu sou o impedimento para que vocês dois não fiquem juntos. De onde mais ele tiraria essas ideias?

— Amor, por favor, dê a ele algum espaço até que se acostume com a ideia.

— Qual ideia exatamente, Ricardo? Você também acha que eu sou um estorvo?

— Não disse nada, a única coisa que te peço é que o deixe compartilhar com a mãe e pare de interferir em algo que não te diz respeito.

Não acredito, esse homem está me chamando de intrometida por não querer perder meu filho, por me preocupar que ele volte a sofrer se ela desaparecer de novo. Alguma vez ele valorizou tudo o que eu fiz?

Me afasto dele e vou para o banheiro, debaixo do chuveiro choro com uma grande dor no peito, já ficou claro que nada do que eu faça ou diga será levado em consideração. Ao sair, o vejo mexendo no celular sorrindo com discrição e, ao notar minha presença, o deixa debaixo do travesseiro.

— Venha dormir, querida, amanhã será melhor que hoje, prometo.

Desde esse dia me fechei no meu trabalho, fazendo horas extras todas as vezes que podia, porque ao voltar para casa não havia nada para mim, Saúl me ignorava por completo e Ricardo nem sequer me tocava mais. Alguma vez já lhes aconteceu de não sentirem sua casa como tal? Aquela sensação de ser uma convidada indesejada que ficou mais tempo do que devia e que não sabem como pedir para ir embora? Bom, assim me sentia eu cada vez que cruzava a porta.

Já não era só Saúl, agora Ricardo também me ignorava por completo e só falava comigo para me pedir algo. Minha vida que uma vez foi feliz e plena estava se tornando lentamente em algo que desconhecia por completo. Uma tarde me mandaram de volta devido ao meu mau aspecto e ao chegar encontrei uma cena que nunca poderei esquecer.

— Oh, querida, hoje você chega cedo... Por que está aqui a esta hora?

— Suponho que eu também moro aqui.

O olhar de Sabrina me deixa saber que isso é algo habitual para eles, enquanto eu trabalho ela vem e convive na minha própria casa brincando de ser uma família feliz enquanto eu não estou.

— Bom, meus garotos especiais, como a senhora da casa já chegou, eu vou indo.

— Não, mamãe, não vá ainda.

— Que tal se formos ao parque de diversões ou ao cinema?

— Sim... Vamos, papai.

Não tiro os olhos dele esperando ver sua resposta, embora no fundo eu já a saiba.

— Bem, campeão, deixe-me pegar minha jaqueta e nós vamos.

Assim, sem mais nem menos, passam por mim fechando a porta me deixando para trás. Aguentei tudo o que pude, mas já não aguento mais, enquanto recolho toda a bagunça vejo o celular de Ricardo sobre a mesinha e nem sequer hesito, começo a revisá-lo e uma conversa em especial me chama a atenção.

*Minha vida❤ assim ele a tem agendada a Sabrina e o que leio me destrói por completo, isso não se trata só de Saúl, inclusive não foi unicamente Sabrina quem colocou a ideia na cabeça de Saúl de que eles dois tinham que ficar juntos.

Não sabe como terminar comigo? Isso é uma put* porcaria. Reviso a galeria e há centenas de fotos deles desfrutando como uma família feliz, passeando, brincando, inclusive uma em que Ricardo a beija.

Deixo o celular no lugar assim como todo o resto e subo para o quarto, começo a empacotar lentamente tentando manter meus pensamentos em ordem. Poderia simplesmente ir e denunciá-lo por infidelidade, poderia expô-lo perante todos os seus colegas de trabalho, mas de que serviria se alguém não te quer, pois não te quer e pronto, não pode obrigar alguém a ficar ao seu lado.

Pego as chaves do meu carro e volto ao hospital, Sami me nota abatida e me convida para uma bebida, dizer que desabafo com ela é pouco.

— Deixe-o, Emily, deixe-o e jamais volte.

— Isso vou fazer.

— Querida, não lute pela custódia do garoto, sei que soa cruel, mas não vai ganhar nada fazendo isso.

— Sabe o que é pior, sou a única que está sofrendo porque eles estão se divertindo ao máximo e eu aqui chorando por algo que nunca foi meu.

— Emily, que tal se transferir para outro hospital, começar de novo, crescer na sua carreira. Antes você adiou porque Ricardo estava lutando por essa promoção aqui, porque Saúl tinha todos os seus amigos aqui e você perdeu uma grande oportunidade por colocá-los em primeiro lugar. Agora quero que você se coloque à frente de todos.

— Você tem razão, obrigada Sami, não sei o que teria feito sem você.

— Para isso estamos aqui, amiga.

Naquela manhã volto quando já não há ninguém presente e preparo minha mala, guardo todos os meus documentos e volto ao hospital. Depois de falar com meu chefe consigo a transferência para iniciar minha nova vida e me esquecer de tudo isso.

Ninguém poderá dizer que não tentei, inclusive fiquei mais tempo do que devia só para me certificar de que eles estariam bem e não se importaram. Não se importaram em partir meu coração em mil pedaços sem piedade.

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