Capítulo 3
Mark se abaixou um pouco para ficar no nível dos olhos de Ayla, tentando fazer com que ela respirasse fundo.
Mark
Hey! Hey! Essa criatura não vai fazer nada com você, fica tranquila, respira... e bola pra frente.
Ayla piscava freneticamente, o olhar alternando entre Mark e a criatura monstruosa parada na porta da cozinha. Seus olhos estavam arregalados, a boca tremendo.
Ayla
C-como você está tão tranquilo com aquilo bem ali?!
Mark virou-se para Barry, como se estivesse apenas conferindo se a geladeira estava aberta. O monstro de quase dois metros e meio ficou imóvel, observando-os com seus olhos vazios e postura relaxada.
Mark
Ayla, você tem que entender um negócio...
Mark apontou com o polegar para Barry.
Mark
Essas criaturas aparentemente seguem seus "donos". Esse aqui está me seguindo desde que me lembro.
Ayla engoliu em seco, sem conseguir tirar os olhos de Barry.
Ayla
Então... então ele é o seu demônio...?
Mark ergueu uma sobrancelha.
Mark
Bom, tecnicamente, sim... Mas ele nunca fez nada comigo, então meio que... sei lá, ficou por aqui.
Ayla ainda estava paralisada.
Ayla
M-Mas ele é assustador demais...
Mark deu um tapinha no ombro dela.
Mark
Ah, com o tempo você se acostuma.
Mark
Sim! Ele nem faz nada, só fica por aí.
Mark
Tipo um gato de rua...
Ayla
Isso não me deixa mais tranquila!
Barry inclinou a cabeça levemente, como se estivesse analisando a conversa. Ayla apertou as mãos sobre as pernas, tentando controlar a respiração.
Mark
Não. E, sinceramente, ainda bem. Seria meio estranho acordar de madrugada e ouvir um “bom dia” vindo da cozinha.
Ayla soltou um ruído nervoso, mas, de alguma forma, sentiu que a tensão diminuiu um pouco.
Ayla
Tá... Mas por que ele não te atacou até hoje?
Mark
Ahn... Acho que é porque eu nunca tive medo dele.
Mark
É. Pelo que eu percebi, os demônios se alimentam do medo das pessoas. Mas eu nunca tive medo do Barry. Então ele nunca me atacou.
Ayla queria argumentar, mas nada do que Mark dizia parecia fazer sentido. Ainda assim, quando olhou para Barry de novo, percebeu que, apesar da aparência grotesca, ele não demonstrava nenhuma intenção agressiva. Era como se estivesse apenas... esperando.
Ayla
Isso quer dizer que eu também vou ter um... desses?
Mark
Se seguir a lógica, sim.
Ayla sentiu um arrepio subir pela espinha.
Ayla
... Eu posso devolver?
Mark
Não funciona assim, Ayla.
Ela suspirou, enterrando o rosto nas mãos.
Ayla
Eu só queria ter um ensino médio normal...
Mark
E eu só queria ganhar dinheiro fácil sem trabalhar. A vida é cheia de decepções.
Ela olhou para ele, incrédula.
Ayla
Como você consegue brincar com isso?!
Mark
Ah, um dia você também vai aprender!
Ayla resmungou, cruzando os braços. Barry continuava parado na mesma posição, apenas observando a cena.
Ayla
Tá, tá... Mas se essa coisa resolver me atacar agora do nada, eu vou gritar até a polícia bater aqui.
Mark
Ah, não se preocupa. Se Barry fosse fazer algo, já teria feito. Ele parece gostar de você.
Mark
É, ele tá te olhando diferente. Talvez tenha achado sua luz bonitinha.
Ayla
O QUE ISSO QUER DIZER?!
Mark riu ainda mais, enquanto Ayla se afastava alguns centímetros de Barry, visivelmente desconfortável.
Barry, como sempre, apenas observava em silêncio.
Mark
Bom, agora que já teve seu colapso nervoso... que tal eu te contar tudo o que sei sobre esses bichos?
Ayla
Isso vai me deixar mais tranquila...?
Mark pensou por um segundo.
Ayla fechou os olhos por um momento. Quando os abriu de novo, suspirou e balançou a cabeça.
Mark
Ótimo. Então, primeiro de tudo...
E assim, ele começou a explicar.
Barry permaneceu na porta, assistindo em silêncio.
Comments