Cada uma de suas palavras se incrustaram em meu coração como adagas recém-afiadas; sua crueldade não tinha limites. Tantas vezes me jurou amor, e hoje, diante de sua amada, nega tudo o que uma vez me prometeu. Sem dúvida alguma, é um homem sem honra, mas não lhe daria o prazer de ver meu sofrimento; esse bastardo não teria mais nada de mim.
Durante intermináveis noites, me atormentei com a mesma pergunta: o que deu errado? O que me faltou? O insônia e a insônia foram meus companheiros, enquanto essas inquietantes dúvidas atravessavam minha mente uma e outra vez.
Por que sussurrou doces promessas ao meu ouvido quando em seu peito não albergava sentimentos por mim?
Senti sua distância desde há um ano, desde que tomou posse como o novo duque Mesellanas. As cartas que nunca obtiveram resposta, sua ausência em cada reunião familiar, seu desinteresse palpável pelas datas importantes entre nós, teceram uma ansiedade que me envolvia como a mosca à pequena traça que caiu em sua armadilha.
O sono me vencia após horas de choro, enquanto meu coração se negava a aceitar a crua realidade que obscurecia meus dias.
Quando os sussurros de uma traição começaram a espalhar-se no ar do império, não me fiz a cega; tampouco fiquei em silêncio. O confrontei no instante. No entanto, suas palavras eram um eco vazio, prometendo amor enquanto alegava que as cargas de ser duque o consumiam. Agora me pergunto:
Por que insistiu se nunca me amou de verdade?
Sua distância era tão fria como um oceano gelado, assim que decidi tomar as rédeas da situação e contratar um investigador; necessitava provas contundentes do que estava sucedendo. O que descobri foi um golpe devastador: meses de enganos que dilaceraram minha alma. A incerteza me invadiu, questionando meu valor.
O que me faltou?
Apesar da tormenta em meu interior, meu coração se aferrava à esperança de que a dor cessaria, de que algum dia tudo retornaria à doçura dos primeiros dias. Mas a razão, como um farol na escuridão, me recordava a crua verdade: sua traição era imperdoável.
Durante semanas, teci um plano para romper nosso compromisso no altar. Sim, esse infeliz nem sequer teve a decência de dissolver nosso laço antes de unir-se a sua amante. Se ia ser o alvo de chacotas da sociedade, sua reputação seria manchada; eles levariam a marca da desonra para toda a vida.
As lembranças invadem minha mente, criando um turbilhão de sentimentos. Minhas lágrimas caem sem parar. É assim como se sente a traição? Uma dor sufocante e esgotadora.
Minha vista se turva e caio ao solo ajoelhada; a dor em meu peito é tão grande que mal posso suportá-la. Mas em meio a minha dor, escutei uma voz que me fez buscar seu rosto. Ao alçar a cabeça, meu olhar se perdeu em seus olhos.
— Alteza, ninguém deve vê-la assim. Permita-me levá-la. — Seus formosos olhos de distintas cores me hipnotizaram. Me ofereceu sua mão e eu alcei meus braços; ele me carregou como a toda uma princesa. Fiquei ruborizada de imediato. Não estava bem; sei que não era o correto deixar que me carregasse e muito menos aconchegar-me em seu peito, mas havia algo nele que me fazia sentir segura. Ele colocou uma capa em cima de meu rosto; era claro que não queria danificar minha reputação.
— A levarei em minha carruagem. Não posso permitir que ninguém a veja neste estado. Você é a primeira princesa deste império; não deve derramar lágrimas por ninguém. É uma pequena mimosa que deve ser consentida. — Sua voz grave e varonil ressoou em meu ouvido como uma formosa melodia à qual só pude assentir com melancolia.
Estando na carruagem, ele não me soltou, mas eu tampouco protestei. Em seu regaço me sentia segura; o sono e o cansaço terminaram por me vencer.
Ao despertar, o primeiro que vi foram seus enigmáticos olhos.
— Me alegra vê-la desperta. — Ele passou sua mão por meu cabelo com uma delicadeza que não poderia descrever.
— Quanto tempo estive dormida? — Essa era a única pergunta coerente que dançava em minha mente, enquanto ele me presenteava um sorriso inquietante que me deixou com um formigamento na boca do estômago.
— O suficiente para que recuperasse forças. Não se preocupe, não chegará tarde ao palácio. — Teria que estar completamente desatinada se não reconhecesse a atração perigosa que emanava deste homem. Sua pele era tão pálida como seu cabelo, criando um contraste hipnotizante com seus olhos, que pareciam conter segredos inexplicáveis.
— Meu lorde, como poderia agradecer-lhe pelo que tem feito por mim? — Este homem havia salvaguardado minha dignidade, e sentia que devia encontrar uma maneira de recompensá-lo.
— Acompanhe-me no baile desta noite. — Uma estranha sensação de familiaridade me invadiu. De onde o conheço? Sabia que sua presença causaria reboliço. Ser vista do braço de um homem alheio a minha família daria muito o que falar durante o baile, mas, o que importava?
Meu compromisso havia caído em ruínas, e o posto de arquiduque estava vacante. Muitos queriam aproximar-se por interesses, mas esta noite, eu elegeria meu próprio destino.
Que melhor maneira de entrar em um lugar que de mãos dadas com um desconhecido? Assim, os oportunistas não se atreveriam a aproximar-se. Se este homem tivesse más intenções, teria aproveitado o momento em que fiquei dormida em seus braços para arruinar minha reputação e forçar-me a um matrimônio que não desejava.
— Necessito chegar em casa; não posso apresentar-me assim. — Me sentia feita um desastre; não podia permitir-me essa imagem.
— Tomei a liberdade de encarregar-me disso. Espero que goste de meu pequeno presente. Assim que cruze essa porta, virão assisti-la com tudo o que necessite.
Não pude articular nem uma palavra antes de que ele se levantasse e abandonasse a habitação, deixando-me cheia de curiosidade. Mas, quase de imediato, duas donzelas entraram como um turbilhão, listas para me assustar com devoção, e parecia que estavam realmente emocionadas por minha presença.
— Oh, Alteza, está deslumbrante! — exclamou a mais jovem ao me ver; sua doçura era contagiosa.
— A princesa é tão formosa que não necessita muita maquiagem, ainda que use um toque sutil para ressaltar suas delicadas feições. E devo dizer, você tem os mesmos olhos que sua defunta avó. — Me olhei no espelho, buscando confirmar os elogios dessas duas mulheres, e devo admitir que me via mais formosa do que o habitual. A mulher tinha razão; meus olhos eram um reflexo exato dos de minha avó materna, um verde tão claro que, às vezes, pareciam azuis.
— Muitas graças, tem feito um trabalho excepcional. — E não era um cumprimento vazio; o penteado era uma obra de arte que realçava o magnífico vestido vermelho, que me ficava como uma luva.
Este homem teve sorte de que acertasse com meu tamanho, já que minha cintura é mais pequena do que o habitual e as costureiras do ducado costumam ter problemas para confeccionar algo a minha medida.
— Não tem que agradecer; o grande general nos honra ao permitir-nos atender a primeira princesa. — O grande general? Então, quem me ajudou é o filho de minha tia Adanis, a condessa de Colonna. É curioso, tem mudado demais; a última vez que o vi, eu tinha dez anos e ele sempre havia evitado qualquer tipo de aproximação comigo. Parecia que me odiasse, mas isso explica por que seu rosto me resultava tão familiar.
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Atualizado até capítulo 41
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