O monólogo

Os irmãos observavam Mathias atravessando a rua para esperar o carro do aplicativo.

Lucas ouviu várias vezes a mensagem que Mathias gravou para ele. E ficou pensando que Mathias era, sim, bem carismático. Inteligente pra valer. Bom papo e de bom humor. Bonito até dizer chega. Sexy sem ser vulgar. Gostoso até doer. Cheiroso e de bom gosto. Pelo menos para roupas e perfumes. Aquele aroma delicioso que exalava de seu belo corpo definido deveria ser um perfume caro e importado. Mas tinha um defeito grave, ao menos para Lucas: Mathias era hétero. Nem mesmo para ser um bi. Um bizinho de leve, poxa! Será mesmo que ele gostava da lambisgoia da Bianca? Apolo também era um inútil! Nem para conquistar de vez aquela baranga! Os noticiários diziam que Bianca e Apolo foram vistos juntos em um night club. Esperança é a última que morre, ou a primeira.

Eu não deveria ficar pensando naquele cara. Ele só aceitou ir me ver porque deve ter um bom coração. Ou talvez quisesse aumentar seu fã clube e números de seguidores. Só estava sendo um pouco acessível e simpático. Nada além de seus próprios interesses.

A razão me dizia: deleta. O coração retrucava: se apega!

A realidade é que, dentro ou fora do reality, o Mathias de Luca era alguém muito interessante. Que ora parecia ser um homem misterioso e ora parecia ser alguém previsível. A pergunta que não queria calar dentro de mim: por que esse cara me interessava tanto lá dentro e muito mais agora, aqui fora? Eu sei que é só uma coisa de fã. Ou talvez um amorzinho platônico. Um crush famosinho, que despertou desejos em mim, mas que, no final, só serve para os outros tirarem sarro da minha cara.

Mas a verdade é que, agora eu tinha tocado em parte do seu corpo, olhado em seus olhos e até recebido uma piscadela, sentido seu cheiro de marca de perfume importado, embora desejando sentir seu cheiro de homem, e ter descoberto que até origem de nomes, ele mandava bem.

Eu sentia de alguma forma que, por alguma razão, agora tudo era real. Parecia que era o reality da realidade.

Que coisa mais cafona e brega! Mas o que fazer se eu não consigo parar de pensar no Mathias?

E o pior de tudo, era saber que, provavelmente, ele tinha saído dali com má impressão sobre mim. Muito mais por culpa da minha irmã! Mas, coitada, ela só estava tentando me agradar, me ajudar. Sempre desastrada! Mas é minha irmã, e eu a amo apesar de os pesares.

Além de tudo, esse encontro, ou melhor, desencontro, nunca mais se repetirá. Mathias tinha apenas feito a boa ação do dia. E nunca mais teria a mesma chance de tocar em seu peito e em seu abdômen bem definido. Ah, meu Deus, que shape! E aquele rosto com aquela barba... Ele fica irresistível quando deixa a barba por fazer. Eu me lembro, no meio do reality, que eu tive muitos sonhos eróticos com ele, daquele jeitinho, com aquela barba.

Já pensou se eu tivesse tido cinco segundos de coragem e contasse todas essas histórias, pensamentos e sentimentos para o Mathias? E não ter deixado as insinuações quase explicitas de minha irmã terem virado um quase deboche?

É isso que me falta. Coragem! Ou talvez semancol. Vergonha na cara!

Ah, para Lucas! Porque você sempre se desmerece assim. Ele é um semideus, talvez. Mas você também não é de se jogar fora! Quantos caras tentam tirar uma lasquinha de você, hein, rapaz? Você tem que se valorizar mais.