O Confronto

O silêncio na casa estava ensurdecedor. Mariana havia se cansado de esperar. A noite estava começando, e ela ainda estava com Lucas nos braços, tentando fazer o bebê dormir. Já havia horas que Gustavo chegara em casa, mas ele não saíra do computador. Ele nunca saía.

Ela estava cansada. Cansada de ser a única responsável por tudo, de ver seu marido se afundar no seu mundo particular, como se a vida deles fosse apenas um cenário para ele realizar seus próprios desejos. O tempo estava passando, e ela não aguentava mais ver Lucas crescendo sem que Gustavo estivesse presente de verdade.

Com o bebê finalmente adormecido, ela colocou Lucas no berço e caminhou até a sala, determinada a colocar tudo em pratos limpos. Ela o encontrou exatamente onde imaginava, sentado em frente ao computador, os olhos fixos na tela. Ele estava tão absorto no que fazia que nem percebeu sua presença.

"Não vai parar nem para olhar para o nosso filho, Gustavo?", ela perguntou, sua voz fria, mas cheia de raiva contida.

Gustavo olhou para ela, surpreso, como se fosse a primeira vez que notava sua presença ali. Ele respirou fundo e ajeitou os óculos, tentando esconder a tensão que surgiu. "Eu estou... Eu só estou finalizando uma coisa, Mariana. Eu te falei."

Mariana sentiu uma onda de frustração invadir seu peito. Não era sobre o que ele estava fazendo — era sobre onde ele estava. Ele nunca estava ali quando ela mais precisava.

"Você está sempre ocupado com esse maldito computador, Gustavo! Você não percebe o que está acontecendo ao seu redor? O nosso filho mal te conhece, e quando o conhece, é para ver você distraído! Você nem tenta passar tempo com ele!"

Gustavo se levantou da cadeira, um pouco irritado, mas ainda tentando se manter calmo. "Mariana, eu estou fazendo o meu melhor. Eu trabalho o dia todo, e você sabe o quanto isso é importante. Eu não posso simplesmente deixar tudo de lado, entendeu?"

Ela o encarou com olhos cheios de raiva, mas também de dor. "Eu sei que você trabalha, mas o que você não percebe é que o trabalho não vai ser o que vai salvar a nossa família. E o que vai salvar a nossa família é você estar aqui, comigo, com o nosso filho!"

Ela deu alguns passos em direção a ele, já sem conter as palavras. "Você se esqueceu de tudo o que era importante, Gustavo. Se esqueceu de mim, se esqueceu do nosso filho. O que você faz o dia inteiro, se não está nem aí para o que realmente importa? Não faz ideia de quanto eu estou sozinha nessa, quanto isso está me matando."

Gustavo olhou para ela, surpreso, como se ela tivesse lhe dado um tapa na cara. Ele sentia uma mistura de culpa e frustração, mas também uma raiva que começava a crescer dentro de si. "Eu não pedi para que as coisas fossem assim, Mariana! Não estou feliz com isso também! Mas você acha que é fácil para mim? Eu estou tentando, estou tentando de qualquer jeito... E você não tem ideia do quanto isso é difícil para mim também!"

Ela não recuou. Não podia. Sentia como se cada palavra dela fosse uma explosão de algo que vinha se acumulando há meses, uma raiva que não se dissipava.

"Difícil para você? Você não tem nem ideia do que é ser mãe 24 horas por dia, sem ninguém para te ajudar. Eu estou fazendo tudo sozinha, Gustavo! E você só aparece quando é conveniente, como se fosse um espectador da nossa vida. Eu preciso de você, preciso que você olhe para mim, preciso que seja meu marido, meu homem, meu amigo, que olhe para o nosso filho e pare de se esconder atrás da sua maldita tela."

O silêncio pairou entre os dois. Gustavo ficou paralisado, olhando para ela, como se as palavras dela tivessem deixado uma marca em sua pele. Mariana, por sua vez, estava exausta, mas sentia uma leve sensação de alívio por finalmente ter dito o que estava sufocando seu peito.

Gustavo respirou fundo e se afastou um pouco, caminhando até a janela. Ele sabia que ela estava certa, mas algo dentro dele não sabia como lidar com aquilo. "Eu sei que você está cansada. Eu sei que tem sido difícil. Mas eu... não sei o que fazer. Eu não sei como ser o marido que você precisa."

Mariana o observou em silêncio por um momento. As palavras dele, em vez de acalmá-la, apenas aumentaram sua frustração. Ele não sabia? Como ele não sabia?

"Você não sabe, mas o que você não percebe é que eu também estou tentando, Gustavo. Tentando fazer tudo funcionar. Mas eu não posso fazer tudo sozinha. Não posso ser mãe, esposa e tudo o mais sem a sua ajuda. Eu não sou super-heroína, eu sou humana, tenho sentimentos e nesse momento, só sinto a dor."

Ela se virou de costas, sentindo o peso de suas palavras, mas também a necessidade de agir. "Eu não posso continuar assim, sendo a única a tentar salvar o que sobrou de nós dois."

Ela se afastou, deixando-o sozinho na sala, com a sensação de que as palavras de Mariana haviam sido mais afiadas que qualquer outra coisa. O confronto havia sido inevitável, mas ele sabia que algo dentro dele tinha que mudar. Ele não podia mais continuar se escondendo.

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Oii gente se tiverem sugestões eu aceito, tô aprendendo. Curtam pf ✨🤍🤍

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